Conferência 2: A relação entre produção artística e reflexão teórica/Resumo

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Comunicações
Considerações finais

Conferencistas: Suzanne LafontJosé Teixeira Coelho Moderador: Martin Grossmann. Auditório 1.
Relatores: Paula Alzugaray (resumo), Cauê Alves (relato), Paula Braga (coordenação de relatos)


Resumo

(Por Paula Alzugaray)

Para debater a relação entre produção artística e produção teórica no âmbito da arte contemporânea, foram convidados uma artista, a francesa Suzanne Lafont, que está montando uma exposição da Pinacoteca do Estado de São Paulo, e um crítico de arte, Teixeira Coelho (que rejeita o título de crítico, define-se como um “comentarista” e é apontado pelo moderador Martin Grossmann como um “cronista” da arte).

Primeira a assumir a palavra, Suzanne Lafont não respondeu textualmente à questão lançada pela conferência. Indiretamente, respondeu com a apresentação de seu trabalho. De entrada, poderíamos pensar que Lafont fez uma articulação crítica sobre seu próprio trabalho, confirmando a colocação inicial de Martin Grossmann, de que, desde meados do século 20, o artista começou a exercer a atividade analítica e a atuar de modo crítico. Mas, à medida que Suzanne Lafont discorria sobre as articulações possíveis entre seus “personagens, lugares e ações”, a relação entre sua obra e a pauta do dia foi se estreitando ainda mais.

Lafont mostrou um corpo de trabalho estruturado sobre um princípio de categorizações: apresentou conjuntos de personagens em deslocamento, personagens sedentários – com ou sem consistência corporal -, personagens que se alojam no espaço e aqueles que não têm lugar definido. Em todos os casos, personagens que dizem respeito ou se relacionam com palavras. Há aqueles que exercem função ilustrativa de palavras, e os que representam a função em si e têm como tarefa exercer a linguagem e produzir um discurso através da imagem. Desta forma, ao categorizar as relações entre as coisas e as palavras, Lafont posiciona-se no embate proposto entre ação (produção artística) e pensamento (reflexão teórica).

Teixeira Coelho levou ao pé da letra a idéia geral do simpósio e procurou romper alguns padrões da crítica moderna. Demonstrando inquietação com respeito aos critérios que orientam a reflexão teórica hoje, Teixeira começou por questionar os procedimentos de T.S Eliot e de Clement Greenberg – e a afirmação do segundo, de que os critérios da crítica não podem ser colocados em palavras. “Sempre me senti forçado a explicar a razão de minhas escolhas – e sempre tive medo de não saber responder a essa pergunta”, disse Teixeira Coelho.

Ao afirmar que todo juízo estético coloca-se como uma aposta que não se contenta em ficar restrita ao âmbito pessoal, Teixeira Coelho lançou-se, então, a buscar os tais critérios passíveis de responder à temida pergunta e de definir o que é e o que não é arte. Para tal, levantou dúvidas sobre duas categorias críticas – o historicismo original e o historicismo reflexivo -, afirmando que a pluralidade dos meios de produção artística não pode ser igualada por um “tudo vale” do juízo crítico. Segundo Coelho, o diálogo entre a produção e a teoria deve acontecer hoje dentro do que ele chama de intempestividade.

“O historicismo é corrigido pela idéia da intempestividade. Sem isso, a crítica é inútil”, afirma. “O princípio de intempestividade, correlato ao critério de rompimento, exercido pelos artistas, me parece hoje o que melhor pode servir à crítica”. Como exemplo de ação intempestiva, Coelho sugere que se afirme a oposição entre arte e cultura. “Cultura é hábito e prefiro ver na arte algo que contrarie o hábito”. Perseguindo a idéia de Nietzsche de “virar o espírito do tempo pelo avesso” e, mesmo reconhecendo que dificilmente o crítico influencia a produção artística, Coelho propõe para a arte: “Artistas devem atuar contra a arte e não apenas contra a sociedade. Só assim a arte é capaz de romper paradigmas, sem se emaranhar em fetiches”.