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Mesa-redonda 2: Arte Brasileira, Arte Internacional: caminhos possíveis/Relato

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Comunicações
Considerações finais

Palestrantes: Felipe Chaimovich, Stéphane Huchet e Chus Martinez Debatedores: Márcio Doctors, Lauer Alves Nunes dos Santos, Betty Leirner, Michael Asbury. Moderador: Ricardo Basbaum. Auditório 2.
Relatores: Daniela Maura Ribeiro (relato), Priscila Arantes (coordenação de relato)

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Relato

(por Daniela Maura Ribeiro/ coord. Priscila Arantes)

Na mesa-redonda “Arte Brasileira, Arte Internacional: Caminhos Possíveis”, três vertentes se delinearam nas falas de Felipe Chaimovich, Stéphane Huchet e Chus Martinez: nacionalismo e nacionalidade nas artes visuais, identidade e o mercado de arte.

Felipe Chaimovich abre sua palestra “Oposição entre arte nacional e internacional” apresentando o conceito de nação, que considera por si mesmo problemático, para confrontá-lo com a questão da nacionalidade. Fazendo referência a um texto de Ana Letícia Fialho (que também apresentou sua pesquisa sobre aquisições de obras pelo Moma-NY no simpósio Padrões aos Pedaços), publicado na revista eletrônica “Trópico” (http://p.php.uol.com.br/tropico/html/textos/2551,1.shl), Felipe conclui que a nacionalidade está em primeiro lugar no mercado de arte: “quem compra arte brasileira, é brasileiro; mexicana, é mexicano; norte-americana, é norte-americano; e assim por diante”, diz. Se por um lado Chaimovich demonstra a importância da nacionalidade como fator determinante quando se fala em circuito artístico internacional, por outro, aponta que a relação do conceito de nação com o mercado se torna ainda mais complexa quando se pensa em como determinada nação enxerga a arte de outra. Felipe cita como exemplo a arte latino-americana, que muitas vezes é encaixada em determinados estereótipos, criados pelo mercado internacional. Chaimovich lembra o caso das exposições do Museu Del Barrio (Nova Iorque) e pergunta se elas refletem a realidade da arte latino-americana, geralmente vista como exótica no exterior.

A fala de Felipe Chaimovich teve pontos em comum com a de Chus Martinez, que permeou sua apresentação com indagações sobre a razão pela qual a arte da nação espanhola é inexpressiva dentro do panorama da arte internacional. A curadora da sala Rekalde de Bilbao, enfatizou em sua palestra que a Espanha não tem de fato presença no cenário artístico internacional. Mas acredita que isso ocorre porque o mercado cultural espanhol está “sentado na cadeira do vitimismo”, e que como vítimas, os outros países europeus os esqueceram. Chus reflete a esse respeito que, para que a situação da Espanha mudasse, seu circuito artístico deveria reavaliar quando e onde querem estar e assim propiciar discursos. Ela acredita que a responsabilidade de se re-situar no panorama artístico internacional é da Espanha (dentro para fora e não o contrário). Entretanto, a curadora espanhola pergunta-se: “Somos capazes de criar instituições culturais, incorporar projetos e comunicarmo-nos com o público de futuro?” Ela se refere a resposta da Espanha para o próprio panorama incipiente de não circulação de sua arte nos últimos 30 anos (pós-ditadura): o que se fez foi promover a abertura desmedida de salas de exposições “cubo branco” para mostrar arte contemporânea. De acordo com Chus, essa atitude apenas replica modelos já existentes e serve somente para exibir obras. Para ela, ao invés de abrir espaços que não se configuram nem como galeria nem como museu, uma vez que não possuem nada além de área expositiva, seria necessário criar “instituições verdadeiras”, com a finalidade de gerar debate.

Já Stéphane Huchet buscou em sua fala “Da reprodução vivemos”, elementos relativos à identidade da arte brasileira, dos recortes de arte locais (Panoramas e as Representações nas Bienais) e de como uma arte feita em âmbito nacional pode se parecer a daquela feita em outros países. Huchet parte do paralelo entre a relação da arte nacional e internacional que considera “(...) complexa porque se, de um lado, o Brasil é capaz de se projetar no futuro, acreditando que este define uma parte de sua essência, ele parece ser dificilmente capaz de estruturar de maneira duradoura uma ‘retro-perspectiva’ histórica sobre, por exemplo, sua arte”. Stéphane observa que a arte contemporânea é formada “por justaposições e pela soma de idiossincrasias”, como o que se vê nos Panoramas e nas Representações nas Bienais, que “são apenas recortes locais no meio de outros recortes praticados em outros lugares”. E que a arte brasileira compõe “uma parte do grande corpo da arte contemporânea global”. A partir disso, Huchet reflete sobre a questão do nacional e pergunta: “Como uma nação pode aparecer através de sua arte? O que nos garante que as linhas de forças que podemos ressaltar numa produção dita ‘nacional’ não se parecem com as de outros países?” Ele aponta que “a partir de sua situação específica a arte brasileira discute questões compartilhadas em outros lugares” e afirma que pensa “que poderia se falar de regionalismo ‘nacional’ na produção artística internacional”. Para Huchet não existe mais “um perigo de ‘nacionalismo’ dentro da arte contemporânea porque ela gera produções e expressões muito abertas (...)”. Ele não acredita que a circulação de arte nas exposições, sobretudo a brasileira, possa parecer nacionalista. Ele entende que “a produção brasileira alimenta ‘naturalmente’ um território capaz de ser auto-suficiente”. Apesar disso, Stéphane Huchet aponta a dificuldade da arte brasileira “entrar no circuito oficial da historiografia global da arte” e reflete que a própria divisão que ainda é feita em alguns cursos de História da Arte entre arte brasileira e não brasileira, favorece essa situação. Para ele deveria haver “uma integração maciça da história da arte brasileira” e menciona, por exemplo, que a “famosa saída do quadro”, não deveria ser creditada apenas a Frank Stella e Donald Judd, como também aos artistas neo-concretos brasileiros. Sob esse aspecto Huchet acredita que “(...) esse afastamento da arte brasileira também é gerado pela ausência de uma tradição historiográfica capaz de lançar e consolidar uma perspectiva histórica sobre a arte daqui.” Com relação ao aspecto da “reprodução” que menciona no título da sua fala, Stéphane Huchet reflete sobre a “circulação subterrânea ou não dos modelos” e oferece como exemplo a exposição Red, de Robert Nickas, realizada em 1986, e Desvio para o Vermelho, de Cildo Meireles, anterior a Red, traçando paralelos entre ambas a partir da idéia de intenção e intencionalidade.

No debate final, a partir de uma questão da diretora do Paço das Artes, Daniela Bousso, sobre o conflito de interesses entre a área curatorial e institucional, Felipe Chaimovich acredita que cabe ao Brasil o papel de fazer com que a arte produzida aqui seja lida corretamente lá fora, pensamento compartilhado por Chus Martinez, a respeito da arte espanhola. Chus pergunta “O que é internacional?” e menciona que o artista espanhol Juan Muñoz só ficou conhecido na Espanha depois que passou a fazer parte do acervo da Tate Modern, em Londres. Chus acredita que os mercados econômico e cultural não estão de acordo, e que é de responsabilidade de cada país fazer algo com o que tem. Chus coloca que vitimismo é uma maneira de situar-se e que o mercado não faz falta para o trabalho dela, uma vez que não se pauta no mercado de galerias para escolher os artistas com quais trabalha na Sala Rekalde. Stephane Huchet coloca que se estava esquecendo a importância do artista nesse panorama. A debatedora Betty Leirner, presente no simpósio graças ao apoio da Sociedade Suiça de Mulheres Artistas Visuais, relatou sua experiência como artista que, tendo residido em diversos países, evita a identidade de artista brasileira, trabalhando com o conceito da "nowhereland", o país comum a todos.  O debatedor Márcio Doctors agradece a Huchet por ter levantado a questão do papel do artista, fato que demonstrou que nem tudo se resumia a mercado como, sob seu ponto de vista, ficou caracterizada a fala de Chaimovich e Martinez. Felipe Chaimovich disse que trouxe a questão do mercado como apresentação de sua palestra e explica que não existe arte contemporânea sem mercado (um precisa do outro). Cita o exemplo do Museu de Arte Moderna de São Paulo, que é mantido principalmente pela da iniciativa privada (elite paulistana), com a colaboração do setor público. Daniela Bousso completou que se torna necessário ampliar a idéia de mercado para todos os circuitos que venham a constituí-lo.