MASP

Por Rebeca Lenize Stumm

 

Que lugar é este

que tem presença obrigatória entre os espaços públicos da cidade de São Paulo?

O MASP é um marco não somente cultural, mas físico, geográfico e histórico para a cidade.  Localizado na Av. Paulista, sua referência Visual faz ver ao longe uma arquitetura única, grandes colunas vermelhas sustentando a gigantesca estrutura envidraçada, sob um grande “vazio na paisagem”. Este vazio da Arquitetura possibilita encontros, trocas, manifestações, um estar por um tempo.

Para preservar a vista exigida para o centro da cidade, a arquiteta Lina Bo idealizou um edifício sustentado por quatro pilares permitindo, assim, aos que passam pela avenida  descortinar o centro da cidade. Em construção civil é único no mundo pela sua peculiariedade: o corpo principal pousado sobre quatro pilares laterais com um vão livre de 74 metros.

Fonte: http://masp.uol.com.br/sobreomasp/historico.php

Com a rápida visita a instituição MASP, buscamos mais do que saber sobre as obras expostas, buscamos também situar a estrutura funcional e a representação que este “espaço” físico e cultural pode propor para a cidade de São Paulo. Paulo Portela - Coordenador do Projeto Educativo- contou-nos detalhes sobre a construção, mudanças históricas, além é claro, do que o Museu oferece como cursos de história da arte, visitas guiadas gratuitas e sobre a transição vivida hoje, apresentando sua coleção por temáticas e não mais de forma histórica. Agora as obras têm de se integrar ao tema da mostra ou não estarão expostas. Esta pode ser uma experiência válida, entretanto é apenas uma, entre as possíveis abordagens de exposição de arte.

 

 De câmeras a mão, não pudemos registrar o interior do prédio, mas suas paredes foram tocadas, enquanto ouvíamos a descrição de mudanças ocorridas desde o projeto inicial de Lina Bo Bardi. O que era para deixar aparente, o concreto cimento-armado de sua construção e os vestígios das madeiras utilizadas para conformação, tornou-se paredes pintadas de branco com aparência mais homogênea. Para um bom observador, as paredes originais ainda são encontrados no Auditório, porque é um espaço não utilizado para exposição de obras e na parte exterior ao prédio. O teto do MASP (3º andar), para onde raramente olhamos nos foi apontado um desenho único construído em cimento moldado, entretanto com as modernizações nas estruturas de ar condicionados, este desenho esconde-se entre canos e aparatos, numa sucessão de “brancos” que buscam não influenciar a apreciação das obras. Da mesma forma, a interação visual que no projeto inicial deveria ocorrer entre o museu envidraçado e a cidade, já não é mais possível inteiramente. Somente no andar térreo, há momentos em que se pode contemplar o exterior e talvez ainda, os vestígios de uma interação histórica, pois conta-se que quando a construção do prédio acabou Lina convidou os operários para participar também do Jardim, trazendo mudas de plantas. Outro detalhe histórico é a grande pedra na calçada, entrada do MASP. Esta fora encontrada na construção e hoje permanece como um marco. Acredita-se que Lina teria dito que a curvatura da pedra se parecia com a postura de Assis Chateaubriand. Ao longo da conversa, alguns detalhes da história podem ser ilustrativos dos diferentes significados buscados para o espaço. Como o fato do Museu ser inaugurado em 1968, com a vinda da Rainha da Inglaterra Elizabeth II, mas somente ser entregue ao público em 1969.  

Creio encontrar nestes detalhes históricos, índices de que as mudanças na estrutura espacial e em sua forma de abordagem como espaço público, buscam por aproximações, por rever os “lugares sagrados” para propor um lugar de relação e com isso possibilitar outras leituras. Isto é demonstrado desde idéia inicial de abertura visual do prédio para a cidade – da interação entre o interior e o exterior - através das paredes de vidro e em registros como:

 

O terreno da Avenida Paulista havia sido doado à municipalidade com a condição de que a vista para o centro da cidade bem como a da serra da Cantareira fosse preservada, através do vale da Avenida 9 de Julho. Modificações na postura municipal quanto às edificações nessa avenida mudou, infelizmente, essa paisagem.

Fonte: http://masp.uol.com.br/sobreomasp/historico.php

 

Tanto o MASP, como a cidade, tanto o micro como o macro, acabam refletindo a rapidez com que sucedem novas necessidades de planejamento. Internamente, o Prédio foi também se “fechando” para a visão exterior, para a relação das obras de arte com a cidade. No projeto inicial havia módulos transparentes, hoje estes são raros. Foram substituídos por paredes/moduláveis, a fim de possibilitar maior variação dos ambientes, isolamento necessário para a exposição de diferentes obras e permitir uma visão singular a cada trabalho.

Como Museu seu espaço legitima, divulga, conserva e fomenta mobilidade para a obra de arte, mas também, é um espaço que não deixa de propor o dialogo com a exterior aceleração da Av. Paulista e as visualidades da cidade. Do acesso às artes mais distantes no espaço e tempo representando os parâmetros da tradição, às possibilidades de criar sucessões, continuidades, proximidades; podemos dizer, que nossas buscas com estas visitas ainda estão se construindo. Metaforicamente, talvez tenha representado um penetrar em “molduras” que criam espaços na paisagem da cidade. Pois se a moldura no quadro inicialmente servia para dizer que naqueles limites algo estava acabado, que o espaço interior estava separado do real, da natureza; então o entendimento das mudanças ocorridas nesses espaços públicos, nos permite refletir sobre as “molduras” que constituem redes em nossas visualidades, as que caem e as que se constroem, assim como os significados dessas estruturas de espaços que compõem a realidade da cidade.