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Planejamento e Gestão de Museus e a Democratização da Cultura

por Marilúcia Bottallo – Relato da Conferência “Planejamento estratégico em museus”, Sofía Rodríguez Bernis

por Marilúcia Bottallo

Sofía Rodriguez Benís, além de Diretora do Museu Nacional de Artes Decorativas em Madri, também é Presidente do Conselho Internacional de Museus da Espanha. Sua conferência versou sobre a importância do desenvolvimento de um planejamento coerente e integral que venha a orientar as ações museológicas tanto do ponto de vista conceitual e qualitativo quanto do ponto de vista aplicado. Benís apresentou algumas linhas de atuação na área e diferentes interpretações de metodologias de planejamento de museus tais como a formalização de Programações, Plano Museológico, Projeto Museográfico, Plano Diretor e Planejamento Estratégico.  Destacou a importância do Plano Museológico, documento que qualificou como a base conceitual sobre a qual devem ser desenvolvidos o Plano Diretor e o Plano Estratégico.  Além disso, apresentou algumas questões que surgiram ao longo dos processos narrados e que sugeriram distintas ferramentas que pudessem incluir uma dinâmica mais colaborativa tanto interna quanto externa. Nesse caso, avaliou que os processos nos quais havia uma hierarquia menos vertical permitiu que as relações transversais – colaboradores – e o trabalho com o público fossem mais facilmente incorporados. Sua conferência culminou com a sugestão de mais uma nova metodologia de gestão que será implantada nos museus espanhóis com base na aplicação de técnicas para pensar cenários de futuro.

A segurança de sua apresentação deixa transparecer uma intimidade muito grande com a questão do planejamento que, certamente, vem de sua larga experiência como profissional e com uma especial capacidade reflexiva sobre a situação dos museus na Espanha. A meu ver, indica, também, uma preocupação, do ponto de vista do Estado, quanto ao desenvolvimento de uma política oficial para os museus.

Importando essa discussão para a realidade brasileira, para a qual a conferência contribui, fica a impressão bastante acentuada de que a ‘naturalidade’ ou ‘casualidade’ com a qual os gestores de instituições museológicas e afins lidam tanto com as questões referentes ao cotidiano dos museus quanto com questões de estratégia indicam uma carência na formação dos profissionais de museus já que disciplinas como administração e gestão não fazem, necessariamente, parte de sua formação.

Nesse sentido, cabe destacar que, tanto a Política Nacional de Museus quanto uma nova forma de gestão por meio de parcerias público-privado vem demandando que as instituições museológicas revejam seu posicionamento frente à questão da gestão, sobretudo quanto a maneira por meio da qual apresentam o resultado de seu trabalho para o público.

A metodologia do Plano Museológico indicada pelo Instituto Brasileiro de Museus vem permitindo que muitas instituições se percebam, algumas pela primeira vez, na sua vocação enquanto instituições públicas. Há museus que ainda não possuem organogramas definidos tampouco estruturas de funcionamento claras com indicação de políticas e programas de ação. Muitos museus de médio e pequeno porte não tem, sequer, definição de cargos e funções. Essa carência se nota em uma ação pública carregada de equívocos, ainda que bem intencionada.

Considerando mais particularmente a experiência paulista de gestão compartilhada público-privada, o ingresso de profissionais da área de administração nos quadros dos museus e nos seus conselhos gestores e o processo de treinamento e intervenção do Sistema Estadual de Museus vêm gerando modificações bastante acentuadas no cotidiano das instituições. Sobretudo, mudanças conduzidas por uma gestão que utiliza modelos advindos de outras áreas, precisaram ser assimiladas e adaptadas para as necessidades do trabalho com cultura em espaços públicos associado a um raciocínio que inclui valores ‘estranhos’ a esse universo tais como, entre outros, produtividade, avaliação de desempenho e plano de metas.

De qualquer maneira, a ideia de implementação de um plano museológico que gere tanto o plano diretor quanto o planejamento estratégico, a implementação de programas e a gestão modular por meio de projetos indica que os museus, de um ponto de vista externo, estão cada vez mais inseridos no discurso de uma economia global que o tem transformado em um espaço público qualificado e no qual se fundem as necessidades de acesso democrático e inclusivo à cultura, educação, lazer e socialização. No que diz respeito à gestão interna, vem aumentando a preocupação com a profissionalização das relações e com a qualidade dos serviços prestados ao público – interno e externo.

Muitos museus lidam com ‘passivos’ expressos, por exemplo, na falta de políticas claras no que diz respeito ao processo colecionista, às exposições, às ações educativas, etc. e que derivaram em acervos cujo perfil é difuso, em exposições protocolares e em atendimento precário do público. A diferença entre os museus que já vêm praticando princípios de gestão baseados nos planos museológicos demonstram uma diferença de resultados perceptível em relação aos que ainda trabalham de maneira intuitiva e amadora.

Concordamos com Bernís no que diz respeito à necessidade de apoiar as relações transversais e de estimular as alianças com o público e com eventuais patrocinadores também.

Se o museu é uma mídia que tem contornos específicos, então suas características devem ser ressaltadas e respeitadas nesse processo. Acreditamos que a ideia central do Plano Museológico e que pode ser estimulada, por meio da aplicação de uma metodologia segura, deva ser criar as possibilidades para que as instituições discutam em plenitude sobre o que são e como pensam inserir-se nas comunidades. A partir de uma sólida definição conceitual, do que é o museu, qual sua finalidade social e sue alcance, as questões de natureza executiva terão maior chance de ocorrerem de maneira mais fluida e efetiva.