Museus paulistas: um processo contínuo e coletivo

Renata Vieira da Motta Diretora do Sistema Estadual de Museus de São Paulo de 2011 a 2013 - Coordenadora da Unidade de Preservação do Patrimônio Museológico de 2013 a 2016

Renata Vieira da Motta

2021

Diretora do Sistema Estadual de Museus de São Paulo de 2011 a 2013

Coordenadora da Unidade de Preservação do Patrimônio Museológico de 2013 a 2016

Sumário Panorama Reflexivo 11 anos de Encontro Paulista de MuseusEncontro Paulista de Museus

 

Os Encontros Paulistas de Museus (EPM) são um marco da política paulista de museus, e nada mais oportuno do que a iniciativa de uma publicação que registre a sua longeva trajetória. O convite foi feito a mim, por ter ocupado a diretoria do Sistema Estadual de Museus (Sisem-SP), no período de 2011 a 2013, e a coordenação da Unidade de Preservação do Patrimônio Museológico (UPPM), no período de 2013 a 2016. Mas começo o meu relato com uma confissão pessoal: sou péssima em autonarrativas e em relatos pretéritos.

Creio que Cecília Machado e Claudinéli Ramos, que me antecederam respectivamente na diretoria do Sisem-SP e da UPPM, já apresentem com precisão em seus textos tanto o percurso de estruturação do setor museal paulista, desde os primórdios do Departamento de Museus (Dema), quanto o frutífero período do final da primeira década dos anos 2000, quando a nossa área, no Brasil, conquistou o seu marco regulatório e a autarquia federal de museus. O Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) e o Estatuto de Museus (Lei n. 11.904 de 14/01/2009) são conquistas coletivas de gerações de profissionais que trabalharam contínua e sistematicamente pela estruturação de uma política setorial dos museus, e é nessa perspectiva do desafio da estruturação e implementação de políticas públicas que trago alguns apontamentos neste breve texto.

Em consonância com esse período de ativação democrática e dos meios de participação da sociedade civil, ocorre a reestruturação da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, na gestão João Sayad. Na área de museus, o Dema transforma-se em UPPM, é proposta a atualização do Sistema Estadual de Museus, incluindo a criação de um encontro anual dos profissionais paulistas – o Encontro Paulista de Museus. Momento de animação e esperança, com a economia brasileira fortalecida, a Secretaria da Cultura se atualiza para avançar na implementação do modelo de gestão público-privado em parceria com as organizações sociais de cultura e na estruturação das políticas setoriais. Naquele período, a pasta da cultura alcança o seu maior orçamento histórico e estabelece, em diálogo com a dinâmica nacional, as bases para a política estadual de museus.

É neste momento da gestão paulista que minha trajetória profissional na área pública tem início, primeiro com o Secretário Andrea Matarazzo e, em seguida, com Marcelo Araújo. Em 2011, quando assumo a diretoria do Sisem-SP, eu havia recém-terminado meu doutorado, com foco na tipologia de museus de arte contemporânea no Brasil. A partir do histórico do MAC-USP, a minha pesquisa percorria a implantação de outros museus de mesma tipologia, em diferentes contextos hegemônicos e não hegemônicos. É a partir desse interesse pela articulação de museus de diferentes escalas que assumo a diretoria do Sisem-SP e me deparo com as bases lançadas para a política estadual de museus.

Como já apontado, o momento era de movimento e avanços na estruturação das políticas. Assim, orientamos a atuação do Grupo Técnico do Sisem-SP com atenção para a implementação e a consolidação da política estadual de museus paulista. Tal implementação se deu a partir das seguintes premissas: estruturação, continuidade, diálogo e transparência. Isso significou trabalharmos pelo sancionamento e promulgação do Decreto n. 57.035, de 02/06/2011, que estabeleceu a estrutura organizacional do Sisem-SP, a publicação das Resoluções SC n. 95/2011 e 86/2012, que dispuseram sobre as indicações e eleições dos membros do Conselho do Sisem-SP (apesar de previsto desde a criação do Sistema em 1986, o Conselho nunca havia sido composto), a Resolução SC n. 60/2012, que instituiu a instância participativa dos Representantes Regionais (fortalecendo o diálogo e a necessária diversidade regional de uma política estadual), e, ainda, a Resolução SC n. 59/2016, que instituiu o Cadastro Estadual de Museu de São Paulo (que hoje é a base de informações para o registro dos museus paulistas junto ao Ibram). Desenvolvemos, ainda, a identidade visual e o site do Sisem-SP, desde então um importante canal de comunicação, repositório de informações e prestação de contas do Grupo Técnico do Sisem-SP.

As mesmas diretrizes foram aplicadas na realização dos Encontros Paulistas de Museus durante aquele período. Sua terceira edição foi organizada em pouco mais de três meses, com o tema “Articulando territórios”. Nela buscamos consolidar o EPM como evento obrigatório de encontro da comunidade museal paulista, para informação e debates, mas também como fórum participativo e de atualização das políticas para a área. Foi durante esse encontro que o decreto de atualização do Sisem-SP foi publicizado e que chegamos a mais de mil inscritos. Na sequência, vieram várias outras edições, sempre com o engajamento do Grupo Técnico do Sisem-SP e dos técnicos da Acam Portinari para uma realização com grande profissionalismo e excelência.

Difícil mencionar nomes sem deixar muitos colaboradores importantes de fora, mas arrisco aqui mencionar quatro representantes de todo esse coletivo que construiu o Sisem-SP, viabilizando o desenvolvimento contínuo e a implementação da política de museus paulista nesses últimos anos: Luiz Mizukami (executivo público do GTC-Sisem), Lourdes Marszolek Bueno (decana da representação regional), Joselaine Tojo (coordenadora do grupo de apoio ao Sisem-SP) e Angelica Fabbri (diretora executiva da Acam Portinari). Deixo por último o destaque e o agradecimento a Davidson Kaseker, diretor do Sisem-SP desde 2014, indicado após seu mandato como Representante Regional pela região de Sorocaba. Em tempos de riscos e retrocessos, é uma alegria ter o privilégio de narrar uma parte da história da política estadual de museus em São Paulo, apontando sua construção processual, contínua e coletiva. Os tempos atuais demandam celebrarmos as conquistas coletivas e refletirmos sobre os próximos avanços: há muito o que fazer!