10 anos de Encontro Paulista de Museus

José Roberto Sadek

2021

Secretário de Cultura do Estado de São Paulo de 2016 a 2017

 

Sumário Panorama Reflexivo 11 anos de Encontro Paulista de MuseusEncontro Paulista de Museus

10 anos do Encontro Paulista de Museus! Uma ótima notícia nestes tempos sombrios para a Cultura. É um momento histórico de grande relevância.

As pessoas lembram dos fatos de sua vida, da primeira vez que viram o mar, do motivo daquela cicatriz no joelho, das amigas da escola, daquele amor avassalador, cada um se lembra dos momentos de sua história pessoal quando precisa ou sente saudade de um tempo ou de uma situação qualquer. A esses fatos, cada pessoa soma as experiências de outras pessoas próximas que lhe foram transmitidas, e assim ampliam suas experiências pessoais para uso oportuno. Essa, aliás, é uma das razões pelas quais nossos ancestrais desenvolveram a fala e a linguagem, há mais de 300 mil anos: transmitir aos outros suas conquistas, habilidades e experiências. Cada pessoa tem lembranças diferentes das outras, o que lhes confere sua identidade, sua singularidade. O lugar em que tudo isso fica alojado chama-se memória. Sem sua memória, ninguém sabe o que sabe, nem quem é nem de onde veio.

Com as sociedades, as nacionalidades, os agrupamentos sociais, os conjuntos culturais se passa o mesmo fenômeno. Os fatos e as experiências do grupo mantêm a identidade do grupo, ajuda a saber quem são, porque agem, como agem, por que fazem o que aprenderam e desenvolveram. O lugar em que estes conhecimentos pessoais e coletivos estão chama-se museu.

Não basta termos um enorme leque de conhecimentos sem saber acessá-los quando for necessário. De algum modo organizamos os fatos pessoais em nossa memória. Com métodos e técnicas organizamos os conhecimentos coletivos nos museus.

Assim como a vida pessoal, a convivência em grupo não para, altera-se todo o tempo, amplia a produção artística, cultural e científica. Essa convivência viva estará em pleno funcionamento enquanto houver humanoides e grupos humanos. É por essa razão que os museus precisam estar e estão vivos – às vezes teimosamente. A necessidade de conhecer seu próprio grupo, de interagir com a produção cultural (no sentido amplo do termo) permite a cada um saber a que grupo pertence, ajuda a conhecer seu passado, entender seu presente e evitar os mesmos erros e projetos no futuro.

Os museus – lugares onde a permanente formação da identidade se organiza e se registra, onde o conhecimento é acessível e atualizado o tempo todo – trocam experiências com os demais museus, de modo a fazer uma rede que amplia técnicas, conhecimentos e sabedorias capazes de dar aos seres humanos maior entendimento de quem são, do que produziram e de como proceder dali em diante. Nenhum museu dá conta de tudo, mas o conjunto de museus aumenta as possibilidades de acesso aos distintos passados, à diversidade dos saberes e às diferentes produções. É por isso que o sistema de museus – essa valiosa rede permanente de museus – se formou, é por isso que ela atua, apesar da asfixia econômica, do desinteresse das políticas públicas e das dicotomias simplistas que assolaram o país nestes últimos tempos.

Esta imprescindível primeira década dos Encontros de Museus, este momento em que a rede de museus se concretiza, é para ser comemorado. Que venham mais 10, depois outros 10, e ainda mais 10 anos a seguir!