Encontro Paulista de Museus: pensando a construção de uma trajetória

Marcelo Mattos Araujo Secretário de Cultura do Estado de São Paulo de 2012 a 2016

Marcelo Mattos Araujo

2021

 

Secretário de Cultura do Estado de São Paulo de 2012 a 2016

 

Sumário Panorama Reflexivo 11 anos de Encontro Paulista de MuseusEncontro Paulista de Museus

 

A realização dos Encontros Paulistas de Museus – EPMs, que já contam 12 edições anuais, é uma iniciativa que merece ser celebrada e devidamente dimensionada.

Como profissional de museologia paulista, tive o privilégio de participar de ou acompanhar todos os EPMs, desde sua primeira edição em 2009, nos diferentes formatos que adotou: presencial na capital, descentralizado pelo interior e virtual no último ano, devido às restrições sanitárias impostas pela Covid-19. Essa capacidade de desenvolver novos formatos adequados à realidade é apenas uma das características positivas dos EPMs, que a meu ver se constituem – acima de tudo – em uma evidência inquestionável da maturidade do cenário museal paulista.

Essa maturidade tem raízes históricas muito amplas para serem aqui debatidas, inclusive por contarem com ressonâncias e reflexos de âmbito nacional, mas gostaria de registrar ao menos quatro processos, ocorridos ou consolidados nas últimas décadas, que articuladamente contribuíram, a meu ver, para essa situação.

Os dois primeiros são de âmbito nacional: (1) a constituição de uma estrutura jurídico-administrativa federal para a área de museus, com o lançamento da Política Nacional de Museus em 2003, a promulgação do Estatuto de Museus em 2009, a criação do Instituto Brasileiro de Museus – Ibram também em 2009, e a realização dos Fóruns Nacionais de Museus, dentre outras ações e iniciativas, que determinaram um notável fortalecimento e visibilidade da área museal no país; e (2) a crescente profissionalização do campo museológico com a criação de inúmeros cursos em diferentes níveis, com destaque no estado de São Paulo para o Programa de Pós-Graduação Interunidades em Museologia da Universidade de São Paulo – PPGMUS, e o Curso Técnico em Museologia do Centro Paula Souza.

No contexto paulista, cabe lembrar dois outros processos: (3) a consolidação do Sistema Estadual de Museus de São Paulo – Sisem-SP e a consequente instauração de uma essencial cultura de trabalho em rede; e (4) a implantação e consolidação de uma série de políticas públicas, como a adoção do modelo de gestão dos equipamentos estaduais da área da cultura por Organizações Sociais; e a decorrente reestruturação da Secretaria de Estado da Cultura com a criação da Unidade de Preservação do Patrimônio Museológico – UPPM; a criação de uma série de unidades museológicas de grande impacto como o Museu da Língua Portuguesa (2006), o Museu do Futebol (2008) e o Museu da Diversidade (2012), bem como a reestruturação de inúmeras outras; além da criação de editais específicos para a área museológica no âmbito do Programa de Ação Cultural – Proac do Governo do Estado de São Paulo.

Todos esses distintos agentes e vetores, além de inúmeros outros, inclusive na esfera privada, confluem no presente em uma dinâmica inter-relação, que ao mesmo tempo possibilita e se beneficia da realização dos EPMs. Esses eventos – que contam a cada ano com públicos cada vez mais numerosos – propiciam produtivos espaços de extroversão e compartilhamento de experiências e reflexões, atuando como verdadeiros instrumentos de formação e capacitação técnica. A presença de profissionais e estudantes de todo o país, bem como de convidados estrangeiros, tem ampliado a ressonância dessas interlocuções, qualificando-as hoje no cenário nacional e internacional como espaços qualificados e referenciais para o desenvolvimento do pensamento museológico contemporâneo, e contribuindo de maneira decisiva para o aprimoramento do exercício museológico no estado de São Paulo.

Só me resta, portanto, cumprimentar todas e todos os profissionais, organizações e instituições que viabilizaram a realização dos EPMs já ocorridos, com especial registro à dedicação e competência da já mencionada UPPM, e da Associação Cultural de Apoio ao Museu Casa de Portinari – Acam Portinari; e desejar um ainda mais produtivo prosseguimento, com muitas outras futuras edições, como parte de nosso compromisso compartilhado de construção de uma museologia solidária e participativa.