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Programa com famílias e jovens, por Toby Jackson (Tate Modern) e participação de Renata Bittencourt (Itaú Cultural)

Relato do debate ocorrido no dia 29/11/2005, no Museu Lasar Segall.

Apresentação

Programa

Documentação

Seminário Educação e arte Seminário Educação e arte (texto)


Masoquista, pervertido e ... apaixonado!

Assim Toby Jackson descreveu o que é um educador de museu de arte como ele, que tem longa trajetória na Tate, iniciada há cerca de 20 anos em Liverpool.

Mas os educadores não são totalmente masoquistas pois acreditam que mudanças são possíveis nos museus. E Toby acreditou muito nisso e vem liderando um grupo que fez uma série de mudanças na instituição, ampliando os espaços -físico e de poder -  da área de ação educativa.

A palestra de terça-feira (29/11) tratou dos programas da Tate para famílias e jovens, fora do ensino formal.

A idéia de ter programas para segmentos específicos de público é fundamental para aperfeiçoar os métodos de cada programa, definindo estratégias específicas. Assim, para as famílias, há uma grande ênfase no lúdico: os jogos permitem a interação prazerosa de adultos e crianças, com objetivos comuns.

Assim como no caso dos grupos escolares, apresentado no dia anterior, a ação educativa para famílias busca se apropriar dos espaços de exposição, evitando realizar muitas atividades em salas separadas e distantes das obras. O processo educativo parte das obras, neste caso observadas a partir de estímulos e desafios propostos pelos jogos.

Cinco jogos diferentes foram apresentados por Toby, todos muito bem desenhados por profissionais da área. A qualidade dos materiais educativos foi enfatizada todo o tempo: mesmo sabendo que o orçamento da área de educação é sempre menor do que da exposição, deve-se buscar a melhor qualidade possível, tanto em respeito ao público quanto para valorizar a área.

No caso dos jogos, a Tate Modern procurou os melhores designers e conseguiu sua participação voluntária: eles desenharam os jogos como exercício de formação e como forma de entrar na área de cultura e arte. Os objetivos e roteiros foram dados pela equipe de educação da Tate e os jogos só foram finalizados depois de experiência e testes.

“Art inspector” , o inspetor da arte, é um jogo que brinca com preconceitos em relação à arte moderna. Os jogadores deve responder “sim” ou “não” a perguntas que desafiam sua observação das “quebras” de regras nas obras de arte moderna, por exemplo, em relação ao realismo.

Um outro jogo de detetive pode ser acessado no site da Tate (http://www.tate.org.uk/detective/mysteriousobject.htm) e somos desafiados a responder perguntas sobre uma obra de Henry Moore. A cada passo são dadas novas pistas e detalhes de como foi feita, seus materiais, formas da natureza que inspiraram o artista, possíveis interpretações, ou seja, algumas respostas são abertas, sem resposta “certa” e outras têm indicação de correto ou não.

Para todas as atividades com famílias há a presença do educador da Tate, tanto para orientar como para estimular a participação. A “pink cave” ou caverna rosa é um espaço para (re)encontro dos participantes construído dentro da exposição: além de facilitar a ação educativa, demonstra a conquista de mais um “espaço” institucional pela área de educação.

O programa mais recente para famílias envolve crianças de cinco anos e pais / adultos que não costumam visitar o museu. Eles foram convidados a participar de atividades em ateliês e nas exposições e o objetivo principal é mostrar o que o museu tem a oferecer de forma a que se sintam confortáveis a voltar a visitá-lo.

A idéia de tornar o espaço do museu agradável para diferentes públicos está também na base dos programas para jovens de 15 a 23 anos, denominado “Young Tate”. Para que os jovens se sintam bem nas exposições e programas do museu são criadas atividades planejadas pelos próprios jovens. Para isso cursos de formação são ministrados: os jovens conhecem as atividades de todos os setores do museu, fazem estágios em diferentes departamentos e depois planejam ações educativas baseadas nas exposições, para público jovem. Eles aprendem a planejar, administrar as atividades, seus orçamentos, divulgação, materiais e tudo que está implicado em um evento.

Enfrentando a resistência de diferentes profissionais do museu, inclusive alguns da área de educação, o grupo de jovens passa por uma formação profissional e traz suas idéias e suas leituras sobre as obras de arte para dentro do museu. Muitos participantes desses projetos tornaram-se trabalhadores de museus de arte, inclusive da Tate.

Iniciado em 1989, este programa para jovens da Tate se tornou uma referência na área de cultura. Aproveitando a política nacional de valorização dos jovens, será realizado um grande evento em 2006 no qual os jovens apresentarão os trabalhos desenvolvidos em diversos setores e, entre eles, os museus.

No debate, Renata Bittencourt destacou alguns pontos da palestra de Toby Jackson: a necessidade de continuidade para que programas educativos se consolidem e ganhem qualidade; a importância de não subestimar os públicos e de desafiá-los o tempo todo; a negociação como base da ação educativa, tanto entre educadores e público, como entre os adultos e crianças, entre adultos e jovens e entre aqueles do mesmo grupo/comunidade; e a contínua busca de conquista de espaços para que a ação educativa ganhe em qualidade e seja devidamente valorizada interna e externamente.

Renata provocou novamente Toby em relação a sua posição “contra” teorias, expressada no dia anterior: ela sugeriu que a ação educativa da Tate está dentro dos parâmetros sugeridos pela “educação não formal”, entre eles a ênfase maior no afetivo do que no campo cognitivo.

Negando a divisão entre afetivo e cognitivo, Toby afirmou que já leu muitas teorias e o que faz é procurar em diferentes áreas – como semiótica, estética, história social – modelos e elementos que se combinam para dar base às suas práticas e legitima suas ações diante de seus colegas, superiores e público em geral.

Algumas perguntas da platéia foram sobre a participação de públicos “especiais” como deficientes físicos e mentais e minorias étnicas nas atividades educativas. As atividades da Tate não são exclusivas para nenhum destes públicos e eles podem participar daquelas oferecidas, evitando aumentar a discriminação. Assim há deficientes físicos entre os grupos do programa para jovens e famílias de minorias étnicas entre as que participam das atividade. Quanto ao multiculturalismo, ele tem sido incorporado na Tate pela aquisição de obras que contemplem a diversidade cultural da Grã-Bretanha.

Muitos outros temas foram tocados por Toby Jackson nesta manhã. Fica a imagem de um apaixonado por seu trabalho que procura quebrar tradições e arrisca para poder transformar o olhar das pessoas sobre a arte moderna, sobre si mesmas e sobre o mundo em que vivem.

(por Adriana Mortara Almeida)