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Pesquisa mostra que 66% dos brasileiros querem retomar atividades culturais, mas 46% deles sentem-se inseguros

Por Pedro Willmersdorf para O Globo em 08/10/2020.

Levantamento feito em todo país revela também que o cinema está entre as prioridades do público no pós-pandemia. Distanciamento social e higienização constante dos espaços são as principais demandas dos entrevistados

Após sete meses com seus espaços culturais fechados, o Brasil começa a viver um processo maior de flexibilização do setor, com o retorno do funcionamento de salas de cinema, centros culturais e museus.

Diante deste cenário, uma pesquisa Datafolha, realizada em parceria com o Itaú Cultural, mostra que 66% dos brasileiros já estão prontos para voltar a frequentar tais locais. Os 34% restantes preferem esperar mais alguns meses ou, então, o surgimento de uma vacina.

Paulo Alves, gerente de pesquisa do Datafolha, destaca o alto índice de interesse na retomada de atividades culturais, mesmo entre aqueles que ainda estão isolados socialmente.

— Há 55% de entrevistados que ainda estão quarentenados, mas pretendem retomar sua vida cultural agora, durante a flexbilização. Entre os que dizem já viver normalmente, indo às ruas, o índice chega a 86%.

O levantamento foi realizado por telefone entre os dias 5 e 14 de setembro — período em que grande parte dos equipamentos culturais estava fechada — com 1.521 pessoas, entre homens e mulheres de 16 a 65 anos, de todas as classes sociais e de todas as regiões do Brasil.

A pesquisa dividiu as atividades culturais analisadas em dez categorias: cinema, teatro, shows, museus, bibliotecas, espetáculos de dança, atividades infantis, centros culturais, saraus literários/musicais e circo.

Os principais destaques da sondagem seguem abaixo.

Cinema, o mais querido

Para 44% de todos os entrevistados, o cinema foi citado como uma das atividades a serem retomadas, seja agora, daqui a alguns meses ou apenas quando houver vacina. Shows de música são prioridade para 40% das pessoas, enquanto atividades infantis foram apontadas por 38%.

O cinema também ocupa um espaço especial na memória dos entrevistados. Para 30% do levantamento total, o escurinho das salas de exibição foi o que mais despertou saudade na pandemia. Outros 24% se ressentiram mais pela ausência de shows, enquanto 7% sentiram muita falta das bibliotecas.

Para Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural, o terceiro lugar dos espaços de leitura merece destaque.

— Há muitas bibliotecas que assumem um papel comunitário importante, se transformam em centros culturais para populações distantes dos grandes centros.

Distanciamento e higienização de ambientes são prioridades

A pesquisa também decifrou, entre todos os entrevistados, quais os protocolos de segurança devem ser prioritários nos espaços culturais durante a retomada. Na sondagem espontânea, os itens mais citados foram: distanciamento social (58%), uso obrigatório de máscara (55%) e disponibilização de álcool gel (53%).

Um cinema para chamar de seusalas nos EUA vendem ingressos para grupos fechados

Já na pesquisa estimulada, na qual o entrevistado foi submetido à escolha de itens específicos de protocolo, 34% apontaram a limpeza e higienização constante dos ambientes como protocolo mais importante a ser seguido pelas instituições. Encontrar a arquitetura do espaço cultural remodelada (entradas e saídas adaptadas para que o público não aglomere ou se cruze; maior espaçamento dos bancos; acrílico para proteção em áreas de atendimento) é relevante para 19%. Disponibilizar horários agendados é apontado como primordial por 14%. Ter funcionários treinados para orientar o público, por sua vez, é fator crítico para 11% dos entrevistados.

Nível de insegurança ainda é alto

As adaptações anunciadas pelos espaços culturais para a retomada parecem ainda insuficientes para consolidar uma relação maior de confiança com o público.

Mesmo entre aqueles que querem retomar a vida cultural agora, é alta a porcentagem dos que não se sentem seguros com este retorno: 46%. Eles retomariam, mas preocupados. Os outros 54% demonstram segurança diante de uma volta aos espaços culturais de acordo com os protocolos sanitários.

Quando o assunto é vacina, 17% de todos os entrevistados dizem que se sentiriam realmente seguros apenas após a sua chegada.

Entre os homens que pretendem retomar agora suas atividades, 63% se sentem seguros. Entre as mulheres, a taxa cai para 47%.

No recorte de classes sociais, as classes D/E se mostram mais inseguras para o retorno às atividades culturais. São 43% de entrevistados neste estrato que se sentem seguros neste momento. O índice sobe para 54% nas classes A/B e chega a 61% na classe C.

Desigualdade social e cultural

Apesar de mostrar que 92% dos entrevistados já fizeram alguma atividade cultural ao longo da vida, a pesquisa revelou que 48% das pessoas não frequentaram espaços culturais nos últimos 12 meses.

Tal fenômeno afeta especialmente os indivíduos mais velhos, de 45 a 65 anos. Desses, 63% não desfrutaram de atividades culturais neste intervalo. Quando o recorte é feito por classes sociais, o abismo é visível. Nas camadas D/E, o índice é de 71%, enquanto, nas classes A/B, ele cai para 24%.

A escolaridade também influi no acesso: 73% dos indivíduos com formação restrita ao ensino fundamental não participaram de atividades culturais nos últimos 12 meses. Entre os que têm ensino superior, essa taxa cai para 18%.

Fonte: https://oglobo.globo.com/cultura/pesquisa-mostra-que-66-dos-brasileiros-querem-retomar-atividades-culturais-mas-46-deles-sentem-se-inseguros-24683026

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