Museu da imaginação

relato crítico por Pedro Nery

As apresentações da mesa 3 deste simpósio de Andrea Fonseca e Fausto Viana, fugiram, em especial, do padrão das anteriores e posteriores. Versando sobre casos diversos entraram em pauta problemas subjetivos que ao ver deste comentador não voltavam para a objetividade. Ambas trataram de assuntos que no fundo só se conectam num museu imaginário.

Explico-me: a primeira apresentação da Andrea Fonseca, tratou do processo de criação de obras de artes visuais contemporâneas, observadas sob ótica do conceito que a palestrante concebeu de corporeidade (baseado em Merleau Ponty). Numa tentativa de encadear noções de corpo espaço, não na recepção de obras mas sim no processo criativo dos artistas.

Sua ênfase deu-se em duas ações principais dos artistas: a do deslocamento de objetos cotidianos para uma reconfiguração plástica, e a noção de tempo; tempo vs materialidade e de tempo vivido com o tempo que está por viver. A condição espacial física das obras e dos objetos recolhidos, segundo a autora, revela uma intelectualidade corporal. Sugere assim refletir sobre a natureza tridimensional e criativa das obras, na qual a presença corpórea destas problematizam noções subjetivas como o tempo ou de um espaço sugerido.

Aqui acredito que devemos nos perguntar sobre a relação básica da subjetividade humana, de que todo “bem” mesmo que intangível possuí materialidade, pois para que exista no mundo a condição humana impõe que estas expressões ocorram no mundo material, e não fora dele. Será a corporeidade então a relação básica do ser humano com a condição subjetiva da materialidade física da existência? Imaginação que portanto, constitui formas concebidas e discutidas pelos espectadores. Dimensão vital da linguagem humana; corpórea e subjetiva? Ela se pergunta o que seria então o “enigma da comunhão com as coisas”.

Notamos que apesar de a pesquisa da autora observar o discurso dos autores entrevistados, as questões estão colocadas sobre a observação e interpretação das obras por outrem. Andrea Fonseca parece fazer uma crítica, formar um conjunto e interpretar.

Ainda em tempo o conjunto de obras proposto pela autora com obras de Carmela Gross, Ernesto Neto e Amélia Toledo, não é uma espécie de curadoria monográfica, onde a corporeidade se encontra de forma textual e não corpórea? Este espectador sugestivo está imaginando...

Já Fausto Viana concentra-se na apresentação de um museu que não existe. Seu doutorado versa sobre um projeto. A prospecção trata da criação de um Museu universitário do Teatro para a cidade de São Paulo.  Sua fala é lançada de sua posição de professor da Escola de Comunicação e Arte da Universidade de São Paulo, o que parece justificar sua ideação.

Desenhando: Um museu que teria sedes diferentes, no viaduto do Chá, centro icônico de São Paulo, ponte que liga o centro antigo ao novo e próximo ao imponente teatro municipal desta cidade “quatrocentona”. O outro lugar rabiscado é a Vila Zélia, vila histórica de São Paulo, até o momento não compreendo o sentido exato do teatro num local pitoresco… Seria então somente a necessidade do pitoresco no cotidiano museal? Fausto argumenta no sentido de que há na vila um “patrimônio humano”, bastante relativo, argumenta também que nesta vila já houve grupos teatrais se apresentando, também não me parece uma justificativa clara.

Próximo passo então é dar sentido: segundo o autor o “conceito gerador é a musealização do trabalho dos profissionais de teatro, ou seja, dos responsáveis pela gênese do processo de encenação. Isto quer dizer que o acervo deve constituir-se do material que envolve uma peça teatral como cenografia, indumentária croquis etc…, excluindo deste universo, peças que compõem o teatro como por exemplo mobília de teatros antigos.

Por fim Fausto esboça os programas, com visitas teatrais para o educativo, pesquisa atrelada à universidade e claro uma concepção de museologia onde o visitante compreenda o processo de produção da peça teatral como um todo.

Como podemos ver, o problema aqui não é conceitual como na apresentação anterior, mas o museu continua fora de alcance. O problema da materialidade se inverte por que é a condição natural do teatro que impõe uma lógica não restrita à condição material do problema abarcando de forma global da atividade teatral. No teatro parece que a questão corporal sempre foi vital para sua existência, assim como sua materialidade se constitui como processo que só se concretiza na apresentação, enquanto a obra destes artistas se findam como corpo presente. Assim ambas as pesquisas versam a partir de um ponto vazio, numa objetivação desejada, tanto pelos palestrantes quanto para os espectadores, processo infindável da ideação.