You are here: Home / Eventos / Simpósios e Seminários / Padrões aos Pedaços: o Pensamento Contemporâneo na Arte / Documentação / Mesa-redonda 1 / Mesa-redonda 1: Campos independentes: coletivos, ativistas e comunidades digitais/Relato

Mesa-redonda 1: Campos independentes: coletivos, ativistas e comunidades digitais/Relato

DOCUMENTAÇÃO
Conferência 1
Conferência 2
Conferência 3
Mesa-redonda1
>> Sobre o tema
>> Textos na íntegra
>> Relato
>> Documentação audiovisual
Mesa-redonda2
Mesa-redonda3
Mesa-redonda4
Comunicações
Considerações finais

Palestrantes: Lucas Bambozzi, Patrícia Canetti, Christine Mello e Ricardo Rosas; Debatedores: Dora Longo Bahia, Solange Farkas, Kátia Maciel, Lígia Nobre, Gilbertto Prado; Moderador: Miguel Chaia. Auditório 3.
Relatores: Lucia Leão (relato), Henrique Siqueira (coordenação de relato).

(Se você é MEMBRO do Fórum Permanente, comente este texto)

Relato

(por Lucia Leão)

A mesa-redonda foi moderada por Miguel Chaia, que em sua leitura introduziu os conceitos de infoeconomia, da infopolítica e da infoarte. Segundo ele, "O entrecruzamento da idéia da reprodutibilidade técnica da arte (Benjamin) com os revolucionários saltos tecnológicos engendram novas formas de sociabilidade baseadas em uma nova subjetividade de olhar maquinico (Guatari e Virílio)". Nesse sentido, Chaia propõe um olhar para grupos coletivos que trabalham criativamente, em oposição ao conceito de massas, uniformes e sem objetivos conscientes e claros.

Christine Mello iniciou as apresentações falando a respeito de convergência das mídias e do radicalismo que os artistas que trafegam nas fronteiras entre as tecnologias devem enfrentar. Sua fala foi pontuada por exemplos de trabalhos de coletivos. A crítica partiu também de um conceito de zona de risco, presente nas poéticas ativistas. Dentre seus estudos de casos, destaca-se o trabalho do grupo 3nóis3, formado por Hudinilson Jr., Rafael França e Mario Ramiro. Mello apresentou trechos de um vídeo-documentário com intervenções urbanas do grupo. Para a pesquisadora, existem três níveis de ações dos coletivos: o primeiro, remete a aspectos tecnológicos; o segundo se dá na cidade e o terceiro envolve hibridizações.

Lucas Bambozzi fez uma palestra bastante voltada para uma reflexão sobre sua própria obra. Para ele, existe uma interessante conflito entre os conceitos de público e privado. Na visão de Bambozzi, nossa casa, ou nosso apartamento, nos separa do contato com a realidade. Bambozi se utilzou do conceito de realidade proposto por Suely Rolnik: "a realidade tal como ela está formatada e estruturada" (2004: 13). Consequentemente, Rolnik define o 'real' como algo "mais amplo e talvez mais intangível, que se vive como experiência sensível" (p.13). O real seria algo que já está sendo experimentado, embora não tenha sido previamente expressado, nas atuais formas de realidade e suas representações, vindo mesmo a conflitar com elas. "Esta fricção se torna subjetiva porque não captamos o mundo apenas através da percepção, que recebe formas que traduzimos como representações; também captamos o mundo como um campo de força que afeta nosso corpo, no que há de intensivo e nem tão perceptível." Um exemplo citado pelo artista que foge à essa regra, é a proposta da empresa Kamstra Travel, da cidade de Eemshaven, ao norte da Holanda, na qual turistas podem comprar "pacote de férias sem-teto". De bastante ironia, o panfleto afirma que, ao custo de 300 libras, pessoas podem ter a experiência de viver como mendigos nas ruas de Londres, Paris, Bruxelas, Praga e Amsterdam.

Ricardo Rosas discorreu sobre os coletivos brasileiros, propondo uma relação com coletivos internacionais, Na sua opinião, os grupos atuantes de vários países "agindo transversalmente em ações que misturam mídia e ativismo, arte e tecnologia, ou performance e produção (ou modificação) de artefatos ou dispositivos, a maior parte destes coletivos defendem suas posições com muita clareza, seja para contestar os parâmetros atuais da biotecnologia e transgênicos, como no caso do Critical Art Ensemble (EUA), seja na defesa da ideologia do uso e da criação aberta, como o Superflex (Dinamarca) ou De Geuzen (Holanda), que se baseiam nas comunidades do software livre e open source, seja na contestação (e paródia) das grandes corporações, como se dá com o Yes Men ou (r)™ark (ambos dos EUA), seja no trabalho com comunidades desfavorecidas e serviço social, como os membros do Wochenklausur (Alemanha), entre outros casos. Na fronteira entre arte e ativismo, tais grupos realizam ações de impacto público que ao mesmo tempo circulam no meio artístico ou são vistas também como arte." Rosas observa uma falta de objetivos claros e consistentes nas propostas brasileiras e questiona: "será, então, que nossos coletivos "artivistas" ainda acreditam em um Brasil cordial, onde todas as nossas diferenças seriam resolvidas pela afetividade e reprodução das relações familiares, ou, traduzindo em miúdos, pela diversão despreocupada e não pelo conflito, pelo desmascaramento?" Segundo ele, o projeto do movimento de artistas e grupos contra a expulsão dos moradores sem-teto da Ocupação Prestes Maia, em São Paulo, é um interessante exemplo de consistência e arrojo.

Campos Independentes, pero no tanto..., título da apresentação de Patricia Canetti, falou sobre a comunidade digital formada pelo Canal Contemporâneo. Segundo Canetti, o Canal tem aspectos simultaneamente paradoxais e complementares, à medida que: "...traça a sua independência a partir do foco no circuito de arte contemporânea brasileira e na dinâmica que dá visibilidade ao mesmo tempo às ações e à crítica do circuito, gerando alguma reflexão sobre o seu reflexo. Também podemos afirmar que sua independência está intimamente ligada à interdependência de todas as partes desse circuito que integram a comunidade."