Conferência 3

Relato da conferência “A fronteira amazônica como voragem da história: impasses de uma representação literária”, proferida por Francisco Foot Hardman, em 11 de novembro de 2006.

A vertigem da história


Há situações corriqueiras que causam estranhamento. Ao preencher um questionário no avião de uma companhia aérea internacional é possível encontrar um quesito que pretende saber onde o passageiro esteve nos meses anteriores (era algo, dizia no formulário, para avaliar a possibilidade de doenças contagiosas, por exemplo). O fato ocorreu em dezembro de 1997. Para assinalar, as opções eram as seguintes:

Europa – América do Norte – Ásia – África e/ou resto do mundo


Mais que estranhamento há um certo incômodo com essa (des)classificação, pois se nota uma representação amplamente generalizada, e mais: englobada como o “resto do mundo”. Resto, numa das definições do dicionário Houaiss: o que sobra, o que fica de um todo de que se retirou uma ou várias partes. A situação observada é mínima, pode-se dizer irrisória, mas consegue bem exemplificar circunstâncias há tempos definidas, seja em termos históricos, culturais ou sociais.


A palestra de Francisco Foot Hardman (professor titular da área de Literatura e Outras Produções Culturais do Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP) trouxe questões muito atuais ao dissertar a respeito da literatura produzida no Norte do Brasil e elucidar a representação e os impasses destas narrativas. A conferência possibilitou a reflexão sobre a construção do olhar, evidenciado o quanto essa estrutura está amalgamada a uma série de estigmas e paradigmas. E os modelos em questão abarcam complexidades, como os meandros da cultura Ocidental, o conceito de civilizações, colonialismo e pós-colonialismo, nacionalidade, territórios e fronteiras.


É importante observar aqui a pertinência de fechar o ciclo dos seminários internacionais da 27ª Bienal de São Paulo com “Acre”, organizado pelo co-curador José Roca. As palestras deste último seminário contaram com uma eloqüência, provavelmente por tratar de temas absolutamente ativos, ligados à vida de forma vigorosa. Antes de começar o relato sobre a palestra de Francisco Foot Hardman acredito que seja interessante considerar, brevemente, o contexto1 do território do Acre:


No final do século XIX, brasileiros nordestinos migraram para o Acre para trabalhar com a seringueira e com perspectivas de começar uma nova vida.

Em 1895 foi formada uma comissão demarcatória para estabelecer a fronteira entre Bolívia e Brasil. Nesse processo foi constatado que a Bolívia ficaria com uma área rica em látex; essa área era naquele momento ocupada por seringueiros brasileiros.

Legalmente reconhecida a fronteira Bolívia-Brasil, em setembro de 1898 a Bolívia quis tomar a posse da região ocupada por brasileiros, que não aceitaram e obrigaram os bolivianos a se retirar.  Em janeiro de 1899 chegou ao Acre um ministro boliviano que lá instalou uma aduana e um povoado, e exerceu autoridade de forma rígida. Essa ocupação foi descontentando os brasileiros que viviam na área e viram os seus direitos ameaçados. Essa insatisfação foi crescente e germinou a Revolução Acreana. Em 14 de julho de 1899 os revolucionários proclamaram a independência do território e foi criado o Estado Independente do Acre.

Em novembro de 1903 foi assinado o Tratado de Petrópolis que anexou o Acre ao Brasil, mas exclusivamente em condição de território, ou seja, sem direitos políticos (os cidadãos não podiam     eleger governantes e tampouco constituir leis), estando assim totalmente submissos ao governo federal.

Foi somente em 1962 que o então presidente João Goulart assinou a Lei que elevou o Acre à categoria de Estado.


Todo o episódio, como é de se imaginar, foi arduamente vivido pelos habitantes da região do Acre, e outros processos ligados ao tema do território continuam a surgir e ser foco de conflitos. Seria bom lembrar que uma disputa geopolítica como essa está conectada, e impulsiona, questões de identidade e cultura. A 27ª. Bienal se propõe a pensar o conceito “como viver junto”, assim é bastante pertinente colocar em pauta uma realidade como a do Acre, que embora tenha um contexto nacional e local possui paralelos globais que são amplamente discutidos em diversas esferas.


A fronteira amazônica e as suas voragens

 

Hélio Melo
Sem título, 1981
nanquim e sumo de folhas sobre cartolina, 27 x 33 SM e 40 x 45,5 CM
Coleção SESC Acre, Cortesia SESC Acre
foto: Edouard Fraipont


Lida Abdul
“White House”, 2005
color print, 76 x 101 cm
Courtesy of the artist and Giorgio Persano Gallery


O professor Foot Hardman começa a sua apresentação localizando a segunda metade do século XIX, mais precisamente 1870, como um período significativo para avaliar a presença do modernismo no Brasil. O professor enfatiza que não se trata de trabalhar o modernismo no sentido strictu-senso, e sim “os modernismos”, nos termos de linguagem cultural, considerando que foi a partir de então que surgiram algumas representações literárias que fizeram uma revisão, um redescobrimento, dos territórios. No Brasil, a partir deste período, houve como uma nova descoberta do país e de sua realidade por certos autores.


Para delinear os impasses presentes da representação literária do Norte brasileiro o professor aponta a dimensão da Floresta Amazônica como a primeira dificuldade – a vasta geografia da Amazônia indica que ela não pode ser tomada por um conceito nacional: este território é uma enorme área de fronteira com países como Bolívia, Peru, Colômbia, Venezuela, Guiana e Brasil. Foot Hardman comenta que muito embora essa cartografia seja evidente, muitos são os autores que tratam a Amazônia como um espaço exclusivamente nacional.


Observando o contexto brasileiro, num recorte literário a partir da segunda metade do século XIX, é encontrada uma literatura de viajantes cronistas, brasileiros e estrangeiros, que viajaram aos territórios longínquos, como a região Norte do Brasil. Foot Hardman comenta que se vale muito da observação da ensaísta Flora Sussekind, que lhe chamou a atenção com respeito a uma certa construção, uma narração basicamente ficcional dos territórios distantes da civilização, das áreas de fronteira, longínquas. É possível constatar viajantes que produziram um inventário das imagens e situações destes territórios distantes; e numa outra verve existiram também os cronistas que desenvolveram uma narrativa com imagens fantásticas desses lugares.


O professor discorreu sobre diversos autores para exemplificar os arquétipos da representação literária da Amazônia. Entres os autores citados estão Inglês de Sousa, Franklin Távora, Euclides da Cunha, situados em um certo período, e Dalcídio Jurandir, Marcio Souza e Milton Hatoum em uma época mais contemporânea.

 

As percepções e o viés


Claudia Andujar
da série Marcados, 1980-1983, Comunidade de Boas Novas, Roraima
fotografia, 50 x 60 cm (cortesia Galeria Vermelho)


Miki Kratsman
from the series Portraits
“Kalandia Road Bock”, 2001
colour photograph, 90 x 60 cm
Collection of the artist
Courtesy Chelouche Gallery, Tel Aviv


Franklin Távora (1842-1888) é autor do romance “O cabeleira” (1876), uma história que se passa em Pernambuco, e trata da vida de um cangaceiro. No prefácio do livro, entretanto, o autor se detém ao Pará, descrevendo algumas das impressões vividas por ele quando lá morou.


Como apresentado pelo professor, o escritor é responsável por uma obra que apresenta uma espécie de manifesto literário e estético: foi defensor de uma literatura que favorecesse o conhecimento e para tanto, acreditava, deveria trazer as realidades menos conhecidas do território brasileiro. Para Foot Hardman a literatura de Franklin Távora é singular pelo caráter de militância, de perspectiva ideológica e cultural. A fim de levar a cabo o seu projeto, de uma literatura do Norte verossímil à realidade, o escritor lançou seu olhar para Norte e Nordeste e conseguiu elaborar uma representação destas regiões, mas encontrou ainda a dificuldade de bem traduzir as especificidades desses territórios imensos.


De acordo com o professor, existe nessas representações incongruentes um lugar comum na literatura dos autores desse período. A vastidão desses territórios distantes é constatada por esses escritores como um deserto, um vazio repleto de incógnitas que se coloca como um desafio para tecerem a representação dessas regiões à sociedade e aos estados nacionais que se organizavam na América Latina naquela época. Foot Hardman comenta que é evidente que a representação que esses autores elaboraram em suas prosas está carregada do peso do processo civilizador, ou seja, eles não conseguem se libertar do “olhar de fora”, tendo a sua sensibilidade presa a certos eixos incrustados na sua formação cultural e social.


Como continua Foot Hardman, os territórios constatados pelos autores como “desconhecidos” já haviam sofrido as cargas do processo de dominação desde a época colonial no século XVI, assim há muito tempo que histórias de “geografias incomensuráveis” foram escritas. Como aponta o professor, o modo como esses autores se colocaram diante da realidade amazônica seria uma maneira de “ocultar um continuado processo de ocupação, lutas e extermínio”, presentes nessas regiões longínquas desde sempre.

 

Um rio para divagar a história


Susan Turcot
"Acre: work in progress", 2006
drawing (graphite on paper), 100 x 70 cm
photo: Rafael Assef
courtesy galerie arndt& partner



Raimond Chaves e Gilda Mantilla

Gilda Mantilla e Raimond Chaves
“Nosotros”, 2005
ink on paper, 22,5 x 26,5 cm
Property of the artists


Em 1904, Euclides da Cunha (1866-1909) recebeu a incumbência de chefiar uma comissão mista de reconhecimento do Rio Alto Purus, um importante afluente do Rio Amazonas, cujas nascentes estão no Acre na fronteira brasileiro-peruana. A missão foi solicitada pelo Barão Rio Branco, então ministro de Relações Exteriores, e tratava-se de uma missão diplomática e política, designada em conjunto pelo governo brasileiro e peruano. A região era naquele momento alvo de seringueiros e caucheiros peruanos. A viagem aconteceu de dezembro de 1904 a janeiro de 1906, há pouco tempo, portanto, da anexação do Acre ao Brasil (que tinha ocorrido em novembro de 1903, com o Tratado de Petrópolis).


Euclides da Cunha, durante essa longa viagem, redigiu inúmeros cadernos de bordo e também produziu alguns mapas. A viagem o faz pensar em reunir alguns dos textos em uma obra chamada “Um paraíso perdido”, provavelmente, como sugerido por Foot Hardman, repensando temas e imagens bíblicas, o gênesis.  Entretanto os relatórios e ensaios originários dessa saga foram publicados de maneira esparsa, em alguns jornais e revistas. Foi apenas em 1909 que o autor preparou um livro, chamado “A margem da história”, reunindo uma série dos ensaios. Desafortunadamente, Euclides da Cunha morreu com o livro ainda no prelo.


Euclides da Cunha tinha a ambição de, ao reunir estes relatos, fazer uma “segunda vingança sobre os sertões” (palavras dele, citadas pelo professor). No entanto, por várias circunstâncias, não conseguiu produzir uma narrativa literária com a unidade de “Os Sertões”. “A margem da história”, embora uma coleção fragmentada de textos, apresenta narrativas preciosas sobre o reconhecimento da região e os desdobramentos de situações ali vividas pelos habitantes.


O autor tem a sua sensibilidade livre de algumas subjetivações coletivas. Foi capaz, por exemplo, de mostrar o homem sentindo-se pequeno diante da grandiosidade, mas narra essa percepção livre da sensação de terror – “que talvez fosse a matéria do sublime”, como nota Foot Hardman. A constatação de “grandeza inacessível” está em parte de suas narrativas reconhecida como monótona e desencantada, sendo uma representação bastante distinta das imagens fantásticas que muitos viajantes produziram. O primeiro parágrafo do livro “A margem da história” já desmorona o estupor recorrente dos viajantes cronistas:


“ ...Sob o conceito estreitamente artístico, isto é, como um trecho da terra desabrochando em imagens     capazes de se fundirem harmoniosamente na síntese de uma impressão empolgante, é de todo em todo     inferior a um sem número de outros lugares de nosso país. Toda a Amazônia, sob este aspecto, não     vale o segmento do litoral que vai de Cabo frio à ponta do Munduba”


De acordo com Foot Hardman, vale observar que as impressões gerais do livro estão marcadas por impasses de diversos desdobramentos, como exemplo, seria interessante marcar que um dos ensaios do livro, chamado “Judas Asvero”, comporta uma narrativa marcada por uma representação sublime, embebida na tragédia da vida de um seringueiro.


Um fato curioso que o professor comenta é que há um importante texto do autor que ficou fora do livro. O ensaio “Entre os seringais” foi publicado na revista Cosmos, em 1906, e do ponto de vista de Foot Hardman é o ensaio mais crítico de Euclides da Cunha no que concerne a uma denuncia social, com uma perspectiva política, de crítica ao sistema capitalista que predominava na exploração da borracha. O ensaio trata de uma “denuncia ao sistema de escravidão moderna existente e persistente” na Amazônia. De acordo com o professor é “uma defesa inconteste de uma legislação com direitos sociais trabalhistas que vão em direção à social democracia daquele momento.”

 

A alforria do olhar

Dalcídio Jurandir (1909-1979) é um escritor paraense que escreveu dez romances ao longo de sua vida, sendo nove destes dedicados à Amazônia e ao Pará, tratando de temas ligados à vida no campo e nos rios. “Chove nos tempos de cachoeira” (1941) é primeira obra do autor. É de sua autoria também o romance urbano “Belém do Grão Pará” (1960).


O escritor, que era filiado ao Partido Comunista, tinha a preocupação de fazer visível as dificuldades e a pobreza encontradas pelas populações mais afastadas, e mantinha sempre em suas obras uma perspectiva global e nacional. Em suas narrativas os indígenas, por exemplo, são os personagens subalternos – o desenrolar da sociedade da época fica evidente em sua obra. Embora Dalcídio Jurandir tivesse “um olhar do branco com direção aos territórios mais distantes”, segundo Food Hardman este é um dos escritores menos folclóricos dessa literatura que contempla o Norte do Brasil.

 

A memória do sensível

Milton Hatoum, nascido em Manaus em 1952, é um dos escritores que atualmente move a sua sensibilidade para o entorno do Norte. Seu primeiro romance “Relato de um certo Oriente” (1989) trata da vida de uma família de imigrantes árabes na cidade de Manaus.


Hatoum é autor de três obras, todas premiadas (“Relato de um certo Oriente” e “Dois Irmãos”, receberam o Prêmio Jabuti, em 1990 e 2001 respectivamente). Em 2006, seu último livro, “Cinzas do Norte” (2005), foi premiado três vezes (pelos prêmios: Jabuti, Bravo! e Portugal Telecom).


Infelizmente o tempo disponível para a conferência de Foot Hardman neste momento estava esgotando, o que lhe impossibilitou de melhor apresentar a obra do autor.  O que professor consegue salvar sobre Hatoum é que o primeiro romance do autor, que trata de uma situação de deslocamentos (psíquicos, simbólicos e físicos), talvez seja o mais perspicaz no que concerne à representação da Amazônia. Na opinião Foot Hardman os dois últimos romances de Hatoum pendem para um certo exotismo.

 

--- Digressões paralelas

Com o que foi falado por Francisco Foot Hardman fica visível a tensão que existe entre o indivíduo e a falésia de noções preconcebidas que são anestesiadas em nossa formação sócio-cultural. Conceitos incutidos há centenas de anos a fio (re)modelam identidades, (re)constroem discursos.


Não seria prudente aqui fazer uma relação específica das obras e os autores citados na conferência. Embora a palestra tenha sido abrangente ao discorrer sobre seis autores, os exemplos foram pontuais a fim de ilustrar alguns dos impasses da representação literária da Amazônia. Alguém sem o conhecimento adequado de tais autores e obras, e sem um mínimo aprendizado de Teoria da Literatura e/ou dos mecanismos da tradução cultural, não deve ser aventurar a analisar os meandros literários e contextuais dos autores apresentados. Assim prefiro esboçar idéias que estão relacionadas, de modo geral, a alguns dos panos de fundo do tema da representação literária que foi apresentado pelo professor.


A iniciativa de uma Bienal de artes visuais, do porte da Bienal de São, de abarcar uma série de seminários deveria ser reconhecida de forma bastante positiva. A concepção de um projeto como este atualiza os conceitos envolvidos na mostra e acrescenta ao próprio modelo de uma Bienal. Em um mundo transnacional a compreensão de culturas locais torna-se premente, e os seminários vão de encontro à busca deste entendimento. Trago aqui uma pertinente observação de Gerardo Mosquera num texto de sua autoria2 de 1992:


“Para parafrasear Harold Rosemberg, deveríamos realizar que o caminho na direção de uma avaliação inter-cultural de uma obra de arte não é apenas uma questão de ver, mas também de escutar. Uma cuidadosa atenção deveria ser prestada com respeito a como um trabalho funciona em seu contexto, quais os valores que estão reconhecidos na obra, qual sensibilidade ela satisfaz, quais perspectivas ela abre, no quê ela contribui... Somente depois de uma meticulosa compreensão como essa poderíamos reconhecer as mensagens de interesse que a arte pode comunicar para os visitantes de uma exposição, e como isso pode contribuir na direção de um enriquecimento geral.”  (* vide a versão original do livro, em inglês, no final do texto)


Participar dos seminários colabora para a leitura do que está sendo discutido nas obras, mesmo que as conferências versem a respeito de proposições ligadas ao conceito da exposição, e não às obras em si. A característica multidisciplinar da arte contemporânea é muito favorecida pelas reflexões que foram trazidas pelos seminários.


Os impasses colocados pelo professor Food Hardman com respeito à representação literária da Amazônia nos evidenciam que, como nas artes plásticas, a literatura também volta constantemente o seu olhar numa tentativa de compreensão e/ou reconhecimento do mundo. Os deslocamentos feitos por alguns cronistas para territórios longínquos, em meados do século XIX, poderiam estar no mesmo patamar (guardadas todas as devidas diferenças) que, por exemplo, os artistas da 27ª Bienal que fizeram residência em estados brasileiros, como o Acre – no caso é a busca de um (re)conhecimento de território a fim de discutir um propósito específico.


Para tocar na idéia da representação, muito bem apresentada por Foot Hardman, é curioso tomar as “representações nacionais”, segmento o qual foi excluído desta edição da 27ª Bienal. Um segmento denominado como “representações nacionais” não seria, já o termo em si, indutor de um conceito colonizador? Será que este segmento não acaba endossando essa relação? No momento em que existe no mundo tentativas de se libertar desses fortes vínculos de eixos parece sábio eliminar esse segmento. Uma reflexão do teórico Homi K. Bhabha3, pode ser útil para amparar essa observação:


“O que está em questão é a natureza perfomativa das identidades diferenciais: a regulação e negociação daqueles espaços que estão continuamente, contingencialmente, se abrindo, retraçando as fronteiras, expondo os limites de qualquer alegação de um signo singular ou autônomo de diferença – seja ele classe, gênero ou raça. Tais atribuições de diferenças sociais – onde a diferença não é Um nem o Outro, mas algo além, intervalar – encontram sua agência em uma forma de um “futuro” em que o passado não é o originário, em que o presente não é simplesmente transitório. Trata-se, se me permitem levar adiante o argumento,  de um futuro intersticial que emerge no entre-meio entre as exigências do passado e as necessidades do presente.”


No espaço transnacional de hoje questões relacionadas às identidadess ficam cada vez mais latentes, e a necessidade de atualizar essas noções é urgente. Voltemos a pensar nas representações que o mundo tece. Pensar o “como viver junto” passa, de alguma forma, pela reflexão de todas estas discussões.


por Adriana M. Brito

 


Notas:

1. Consulta feita no sites:
Tião Viana: http://www.senado.gov.br/web/senador/tiaovian/acre/historia.htm
Página 20 – o primeiro jornal acreano online: http://www2.uol.com.br/pagina20/6junho2003/site/17062003/especial.htm

2. In Theory in contemporary art since 1985, ed. Zoya Kocur e Simon Leung (Oxford:Blackwell, 2006), p. 223.

3. Homi K. Bhabha, O local da cultura (1994; Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003) p. 301.


(*) “To paraphrase Harold Rosemberg, we should realize that the way towards an intercultural evaluation of the work of art is not just a question of seeing, but also of listening. Careful account should be taken of how artwork functions in its context, what values are recognized there, what sensibilities it satisfies, what perspectives it opens, what it contributes… Only after such thorough understanding would we recognize the messages of interest that art can communicate to the viewers addressed by the exhibitions, and how it can contribute towards a general enrichment.”


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