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Bienal investiga a relação entre arte e arquitetura

Nos próximos dois dias, em palestras em SP, artistas plásticos e arquitetos debatem as ligações entre os dois meios

 

FOLHA DE S. PAULO

30 de março de 2006

FOLHA Ilustrada


Bienal investiga a relação entre arte e arquitetura

por FÁBIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

 

Em seu livro "Como Viver Junto", o pensador francês Roland Barthes observa como os espaços cotidianos permitem, ou não, a coabitação. Apropriando-se do título desse livro, a 27ª Bienal de São Paulo, com exposição programada para outubro, tem como um de seus eixos a discussão da arquitetura, tema que será tratado, nos próximos dois dias, no segundo seminário preparatório ao evento.
"A arquitetura é a instrumentalização e a formalização, por excelência, dos meios construídos para a vida. Vivemos constantemente e cotidianamente através da arquitetura, atravessando-a, ou sendo barrados por ela: na casa, na escola, no hospital, no shopping center, no aeroporto, na prisão, na cidade", afirma o curador Adriano Pedroso, responsável pela programação do seminário, que não tem mais inscrições abertas, mas será transmitido pelo site www.bienalsaopaulo.org.br.
Nesses próximos dois dias, no prédio-sede da Fundação Bienal, no parque Ibirapuera, artistas como a brasileira Ana Maria Tavares e a eslovena Marjetica Portc, arquitetos como o brasileiro Guilherme Wisnick e o israelense Eyal Wiezman, entre outros, debatem a relação entre arte e arquitetura a partir do momento presente.
"O tema arte e arquitetura é bastante vasto, além de historicamente amplo. Assim, concentrei-me no contemporâneo e tentei equilibrar o convite aos palestrantes oferecendo pesquisas e depoimentos distintos de críticos, curadores, teóricos e artistas brasileiros e estrangeiros", afirma Pedrosa, também um dos co-curadores da Bienal.
Com o seminário, surge outro artista que passa a integrar a exposição, o norte-americano Dan Graham, 63, que passou há poucos dias pela cidade para conhecer o edifício da Bienal e escolher o local onde irá instalar sua obra. Segundo Pedrosa, "Graham é uma figura central na arte contemporânea e uma referência fundamental para as relações entre arte e arquitetura". Muitas de suas obras refletem o "como viver junto", desde "Homes for América" (1966), sua investigação acerca da arquitetura suburbana vernacular norte-americana, que surge após a Segunda Guerra, até seus famosos pavilhões de vidro.
Além de Graham, outro norte-americano que participa da Bienal e que também tem seu trabalho relacionado com arquitetura é Gordon Matta-Clark (1943-1978). "Ao, literalmente, cortar e fazer incisões em casas e edifícios nos anos 1970, Matta-Clark fez na arquitetura o que Lucio Fontana havia tão radicalmente feito na tela, nos anos 1950, ao cortá-la. Muito do vocabulário contemporâneo da instalação e da intervenção faz referência a ele", afirma ainda Pedrosa, que aponta dois dos mais jovens artistas já selecionados para a mostra entre os influenciados por tal vocabulário: Renata Lucas e Marcelo Cidade. Coincidentemente, ambos estão em exposição na cidade, Lucas na Millan Antonio e Cidade na Vermelho.
No primeiro seminário da Bienal, em janeiro passado, que teve Marcel Broodthaers como tema, tornou-se pública a proposta de boicote à Bienal de São Paulo, feita pelo artista norte-americano Jimmie Durham. Parece que Durham resolveu "viver junto". Ele confirmou, segundo a organização do evento, sua participação num dos próximos seminários da Bienal, o que vai tratar do Estado do Acre.