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Bolsonaro está 'muito tranquilo' com nomeações na Cultura, diz secretário

Por Daniel Gullino e Jussara Soares para O Globo em 10/12/2019 .
Bolsonaro está 'muito tranquilo' com nomeações na Cultura, diz secretário

Secretário Especial da Cultura Roberto Alvim Foto: Bruno Santos / Folhapress

BRASÍLIA — O secretário especial de Cultura, Roberto Alvim , afirmou nesta terça-feira que o presidente Jair Bolsonaro está "muito tranquilo" com as nomeações recentes feitas na área e que Bolsonaro não fez nenhuma cobrança, após as escolhas receberem críticas. Alvim se reuniu com Bolsonaro na tarde desta terça, junto com parte de sua equipe.

— O presidente está muito tranquilo em relação às minhas nomeações, os currículos, as pessoas. Os objetivos e as pessoas foram determinados com clareza, então o presidente está muito tranquilo em relação à minha equipe. Não houve nenhuma cobrança nesse sentido em relação às críticas. As críticas, no meu ponto de vista, não procedem em absoluto — disse Alvim, na saída do encontro.

De acordo com o secretário, o objetivo do encontro, que teve a participação de nomes como Reynaldo Campanatti Pereira (Secretaria da Economia Criativa), Sérgio Camargo (presidente afastado da Fundação Palmares) e Camilo Calandreli (Secretaria de Fomento e Incentivo à Cultura), foi apresentar a equipe para Bolsonaro.

— O presidente não conhecia ainda a minha equipe. A equipe então veio, conversou com o presidente, falou sobre seus planos, suas metas, suas dificuldades e o presidente nos aconselhou e se informou acerca dos nossos objetivos.

Sem propaganda ideológica

Alvim negou que as escolhas para a equipe tenham cunho ideológico. Segundo ele, a esquerda patrocina "propaganda ideológica", enquanto a direita patrocina "obras de arte".

— Então, o que nós estamos lutando é pelo renascimento do conceito de obra de arte. Uma obra de arte tem múltiplos significados, ela não dirige o pensamento das pessoas, ela não faz propaganda política, não é uma palanque político, não é um veículo partidário.

Para o secretário, obras de arte não são nem de esquerda nem de direita:

— O que nós queremos fazer são obras de arte. "Julio César", do Shakespeare, é uma peça política, mas ela é de esquerda ou de direita? "Satyricon", do Fellini, é de esquerda ou de direita? "Gritos e sussurros", do Bergman, é de esquerda ou de direta? Uma sonata de Beethoven é de esquerda ou de direita? Nem de esquerda nem de direita, são obras de arte. Nós estamos lutando pelo conceito de obra de arte, não por um veículo de propaganda ideológica, não por um veículo de agenda, seja ela qual for. Então, de maneira nenhuma nós faremos uma estrutura de propaganda de qualquer ideologia que seja. Estamos lutando contra isso.

Questionado se a secretaria apoiaria obras de Fernanda Montenegro, a quem já chamou de "sórdida", Alvim respondeu:

— Claro que sim.

Contratação de mulher é 'falácia'

O secretário também comentou o episódio em que convidou a própria mulher, a atriz Juliana Galdino, para trabalhar na Fundação Nacional de Artes (Funarte) e gerir uma verba de R$ 3,5 milhões, que motivou uma investigação do Ministério Público Federal. Alvim disse que não comentou sobre isso com Bolsonaro.

— Essa é uma falácia completa que não merece ser alvo de uma conversa com o presidente. Aquilo foi um projeto, já esclareci 15 mil vezes, minha esposa seria voluntária, não receberia 1 real. O orçamento está no projeto — disse, acrescentando: — No orçamento está discriminado cada centavo dos R$ 3,5 milhões, que pagavam quase 150 profissionais durante um ano inteiro de projeto, e minha esposa estava lá com salário zero.

Ele reafirmou que sua mulher tinha competência para o cargo, mas disse que desistiu da ideia ao ser avisado de que configuraria conflito de interesses:

— Quando soube pelo jurídico que isso configurava conflito de interesses, eu cancelei o projeto e arquivei o projeto. É um projeto que não existe mais. Não houve a contratação nem a destinação de 1 centavo para esse projeto, porque eu o cancelei ao tomar conhecimento da questão do conflito de interesses. Então, isso não é uma questão minimamente relevante para ser alvo de uma conversa presidencial.