Você está aqui: Página Inicial / Dossiês / Dossiê Masp / CARTA RESPOSTA de Teixeira Coelho ao Presidente do IBRAM

CARTA RESPOSTA de Teixeira Coelho ao Presidente do IBRAM

O Estado de São Paulo, 11.04.2014

O IBRAM QUE CONTINUA DESCONHECENDO O MASP

A entrevista dada ao Estadão por Ângelo Oswaldo, presidente do IBRAM, demonstra apenas sua espantosa ignorância da produção e da organização do MASP nos últimos sete anos. É surpreendente que um funcionário de um órgão como o IBRAM possa dizer o que disse.
Um claro programa foi proposto ao museu, e aprovado pela diretoria, quando assumi as funções de coordenador curatorial do MASP. Esse plano incluía a formação de um comitê curatorial, que o MASP antes nunca teve, composto por artistas, colecionadores, curadores e historiadores largamente respeitados, com os quais compartilho as decisões sobre o que se faz no MASP na área artística. As decisões do comitê são por consenso. As declarações de Ângelo Oswaldo são um insulto também a esse comitê, cuja existência ele talvez ignore.
O programa apresentado incluía uma renovação do modo de expor a coleção do MASP, dando-lhe o destaque que merece, e a abertura das galerias do museu, de modo regular, à arte contemporânea brasileira e internacional. Várias exposições temáticas foram realizadas com a coleção, propondo novas possibilidades de combinação das obras com a consequente atualização do sentido de cada uma. Olhar e ser Visto, A Natureza das Coisas, Romantismo: a Arte do Entusiasmo, Passagens por Paris, O triunfo do Detalhe são algumas das exposições que organizei com a coleção, todas muito bem recebidas. Olhar e ser Visto foi convidada e exibir-se em Madrid e Santiago do Chile, além de outras cidades do Brasil.
Diferentes exposições de arte contemporânea internacional foram também organizadas neste período, e várias receberam prêmios e citações elogiosas, como Pintura Alemã Contemporânea, Sigmar Polke: a arte gráfica; Luzes do Norte, outra exposição especial para o MASP vinda do Louvre; Vermeer, do Rijksmuseum.
Todas com seus catálogos, na melhor forma e tradição da museologia internacional, abrindo sempre mais portas para o museu no exterior dada a seriedade do trabalho curatorial desenvolvido – trabalho que o diretor do IBRAM, talvez por motivos pessoais, quer desconhecer.
É desagradável falar das próprias ações mas já que o presidente do IBRAM não sabe do que fala, não tenho alternativa. Como previsto no meu programa inicial, criei o Prêmio MASP de Arte que conta, em seus júris, com diretores de museus e curadores internacionais e brasileiros de primeira linha. E em 2013 o MASP apresentou a primeira edição da Bienal MASP-Pirelli de Fotografia, outra decisão minha e do comitê curatorial -- comitê cujas decisões, é preciso dizê-lo, a diretoria do MASP sempre respeitou e apoiou integralmente.
Quando cheguei ao MASP em 2006, seu público era de pouco mais de 300 mil visitantes por ano. Em 2012, foi de 850 mil, recorde absoluto no país para museus de arte. Em 2013, ano em que 1 de cada 3 dias viram manifestações diante do museu que impediram sua visitação normal, esse publico foi de 750 mil pessoas. Números de visitantes não traduzem a excelência de um museu. Mas, neste caso, dizem que as escolhas do museu, além de tão expressivas quanto o permite seu orçamento, encontram acolhida no público de arte. E como a diretoria do museu poderá confirmar, quem isoladamente, com suas proposições e empenho pessoal, maior volume de recursos econômicos trouxe para o MASP nestes 7 anos fui eu. E pode ser que o MASP não tenha um “plano museológico” no formato que agora o IBRAM quer exigir sem dizer como isso influirá positivamente na vida econômica de museus que não pertencem ao IBRAM. Isso não impede o MASP, porém, de ser um museu organizacionalmente tão completo quanto possível no Brasil, com todos os departamentos necessários a seu funcionamento apesar de seus crônicos problemas econômicos e com uma folha de serviços de primeira linha à sociedade. Esse é, de fato, o milagre do MASP: sobreviver com esse grau de excelência museológica sem a participação institucional do governo central. E do governo estadual. Não escrevi nenhum artigo no Estadão “esculhambando os esforços” do governo federal para ajudar o museu – que, se existem, não foram explicitados. Mas sempre apontei de fato a falta de participação do governo federal (e do governo estadual) na manutenção do maior e mais visitado museu do país, uma lacuna imensa na política cultural do país. E isso apesar de renovados esforços de diálogo com o MinC –meus inclusive, pessoalmente-- ao longo de todo este período.
Ao aceitar, depois de ouvir amigos artistas e da universidade, o convite que o MASP me fez há sete anos, o que fiz foi arregaçar as mangas para colaborar com total dedicação e como possível com um museu que é um caso de amor e honra para todos neste país -- menos para determinadas integrantes do poder público das diversas instâncias e de sucessivos governos.
O presidente do IBRAM fica cordialmente convidado a vir ao MASP verificar a realidade que ignora.
Teixeira Coelho,
Curador-coordenador do MASP