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Eletropaulo corta energia elétrica do Masp

Fabio Cypriano, para a Folha de S. Paulo , via Reportagem Local em 24/05/2006.

Dívida de R$ 3,47 mi do museu com a empresa, acumulada em 7 anos, "gato" e quebra de acordos levaram à interrupção

Direção do Masp usa geradores para preservar as obras e manter operações básicas, mas não informa se o museu estará aberto hoje

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

O Museu de Arte de São Paulo, o Masp, teve seu fornecimento de energia elétrica cortado às 7h de ontem pela Eletropaulo devido à falta de pagamento de uma dívida com a concessionária de energia. Dono do mais importante acervo de arte moderna da América Latina, com mais de 7.000 obras de artistas como Vincent van Gogh, Claude Monet e Pablo Picasso, o Masp passa por crise financeira que ontem afetou sua infra-estrutura.
Com uma dívida com a Eletropaulo de R$ 3,47 milhões, acumulados em um período de sete anos de inadimplência, a administração e a reserva técnica só funcionaram graças a geradores de energia movidos a diesel, segundo nota distribuída pela diretoria do Masp (leia à direita a íntegra do comunicado). Mesmo com a geração de emergência, o museu ficou parcialmente fechado ontem -apenas grupos com visita agendada puderam percorrer a exposição "Degas - O Universo de um Artista", mas não tiveram acesso à coleção permanente. Não há informação se hoje a instituição estará aberta ao público.
No final da manhã de ontem, a direção do museu reuniu-se com a Eletropaulo para tentar solucionar a crise, mas não houve acordo. "O diretor do museu, Julio Neves, não trouxe proposta concreta de solução. Ele só disse que o museu está numa situação difícil e pediu o religamento da energia", disse Ricardo Lima, vice-presidente comercial da Eletropaulo.
O corte ocorreu por dívidas anteriores a junho do ano passado, época de um acordo que reduziu os gastos mensais de cerca de R$ 95 mil para R$ 80 mil. Desde então, o museu paga as contas de luz em dia, mas os R$ 3,47 milhões referem-se às mensalidades dos anos anteriores e à identificação de uma "ligação irregular", o popular "gato", ocorrido durante dois anos, no valor de R$ 414 mil. Dois acordos para o pagamento da dívida, segundo Lima, já haviam sido rompidos, um de julho de 2000 e outro de fevereiro de 2004, que previa 35 parcelas de R$ 21 mil. "Foi paga apenas a primeira parcela", afirmou o vice-presidente.
O museu tem ainda outras pendências financeiras. Segundo dados do Tribunal de Justiça de São Paulo, entre falta de pagamento de serviços técnicos, danos morais, indenizações e outros, o Masp está sendo cobrado judicialmente em R$ 3.998.413,79. Há também uma dívida, que o museu contesta, de R$ 3,3 milhões com o INSS.

Apelo
O secretário da Cultura do Estado de São Paulo, João Batista de Andrade, fez, no fim da tarde de ontem, um apelo à direção da Eletropaulo solicitando o religamento e o início de negociações. "Não se pode colocar em risco o patrimônio cultural do museu."
Segundo Lima, "quem pôs em risco a situação do museu foi sua diretoria, pois em 5 de dezembro de 2005 ela foi comunicada que estava sujeita a corte. Antes de cortar a energia, tivemos o cuidado de verificar se há geradores no local". Em relação ao apelo do secretário, o vice-presidente afirmou que "cabe à direção do museu uma proposta concreta".
E as obras? Estariam em risco? "Enquanto o gerador estiver garantindo a estabilidade de energia no museu, não há risco para seu acervo. Apenas se os aparelhos que mantêm o ambiente estável, em sua temperatura e umidade, forem desligados, aí sim as obras podem sofrer danos", afirma Florence Maria White de Vera, conservadora e restauradora de pintura aposentada do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo.

Tese oposicionista
Segundo oposicionistas do diretor do Masp ouvidos pela Folha, a crise do Masp pode ser uma estratégia de Júlio Neves para impor a torre da Vivo que ele quer construir ao lado do prédio de Lina Bo Bardi.
Como a obra foi vetada pelo patrimônio histórico da prefeitura, Neves teria deixado o museu descuidado para mostrar que a torre é imprescindível e assim remover os obstáculos interpostos à sua construção, acreditam os oposicionistas, que pediram anonimato.


Colaborou a Reportagem Local

Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq2405200634.htm