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Sem concorrentes, Júlio Neves é reeleito para presidir o Masp

Por MARIO CESAR CARVALHO da Folha de S.Paulo em 1/11/2006.

O arquiteto Júlio Neves, 74, foi reeleito anteontem presidente do Masp (Museu de Arte de São Paulo) por unanimidade. Será a sétima gestão consecutiva dele à frente do museu --ele foi eleito pela primeira vez em 1994, sempre para mandatos de dois anos. Como aconteceu nas últimas seis eleições, não havia concorrentes. Participaram 45 dos 60 conselheiros do museu, e todos votaram em Neves, segundo a assessoria de comunicação da instituição.

A reportagem da Folha pediu para consultar a ata da eleição, mas não foi atendida. Segundo a assessoria, a ata é sigilosa até ser registrada, o que deve ocorrer na próxima segunda-feira. A Folha solicitou uma entrevista com Neves, mas não obteve resposta.

A situação financeira do Masp talvez explique por que ninguém quer dirigir a instituição que tem o acervo artístico mais espetacular da América Latina: um leque que vai de Rafael a Tiziano, de Mondrian a Picasso, de Van Gogh a Monet.

O Masp deve R$ 3,92 milhões ao INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social) e por volta de R$ 3 milhões à AES Eletropaulo. Há duas semanas, a Telefônica cortou duas linhas do museu por falta de pagamento de R$ 650. O corte ocorreu porque as contas haviam sido extraviadas, segundo nota enviada ontem à Folha por João da Cruz Vicente de Azevedo, secretário-geral do museu.

Em maio, a luz havia sido desligada por causa das dívidas acumuladas em sete anos.

Em novembro do ano passado, a empresa Heating & Cooling, que instalou o ar condicionado do museu, protestou um título do Masp pela falta de pagamento de R$ 43,5 mil. Até hoje a dívida não foi paga. O Masp informou ontem em nota que o pagamento não foi feito por causa de "imprecisões" na realização dos serviços.

Neves e o presidente do conselho do museu, o cirurgião e ex-ministro da Saúde Adib Jatene, defendem que a solução para a crise do Masp é a construção de uma torre ao lado do prédio de Lina Bo Bardi.

A torre já tem a garantia de patrocínio da Vivo, operadora de telefonia celular. A empresa comprou o prédio ao lado do Masp por cerca de R$ 12 milhões e doou-o ao museu.

Após a reforma, o Masp planejava abrir cursos de arte no local. A Universidade São Marcos já manifestou interesse em ministrar os cursos. O topo da torre abrigaria um café e um luminoso com publicidade da Vivo, o que garantiria uma receita mensal fixa ao museu.

O plano esbarrou no veto do Conpresp (órgão da prefeitura responsável pelo patrimônio histórico) ao projeto. Segundo parecer definitivo emitido em 25 de outubro de 2005, o museu não poderia erguer a torre de 125 metros de altura porque a obra interferiria num bem tombado --o prédio de Lina Bo Bardi. O museu tenta na Justiça derrubar o veto da prefeitura com a alegação de que a torre não depende de aprovação do Conpresp, já que os órgãos estadual e federal do patrimônio histórico não fizeram objeções ao projeto. A torre foi projetada pelo próprio Neves.

Em setembro, o museu fez uma nova tentativa de aproximar-se do meio cultural com a nomeação de Teixeira Coelho, professor da ECA-USP (Escola de Comunicações e Artes), para o cargo de curador, que estava vago há dez anos.

Coelho criou um conselho, responsável por aprovar a programação do museu. Fazem parte do conselho os críticos Aracy Amaral, Lorenzo Mammì e Arlindo Machado, a artista Regina Silveira e o colecionador Miguel Chaia, entre outros.

Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u65663.shtml