Você está aqui: Página Inicial / Dossiês / Dossiê Masp / Uma tarde no museu - Mônica Bergamo

Uma tarde no museu - Mônica Bergamo

Folha de S. Paulo em 01/12/2006.

Depois da exposição sobre Charles Darwin, que custou cerca de R$ 5,5 milhões, representantes do Museu de História Natural de NY planejam trazer mais nove mostras a SP; Einstein e Genoma estão entre os temas


uma tarde no museu

O Museu de História Natural de Nova York nunca havia montado antes uma exposição com seu acervo no Brasil. Pois agora se prepara para anunciar outras nove mostras além da exposição sobre o naturalista Charles Darwin (1809-1882), que será aberta ao público na sexta-feira. Elas serão feitas em torno de temas como "água", "pérolas", "Albert Einstein" e "Genoma". Alan Draeger, diretor de exposições itinerantes do museu, considera que a cidade tem potencial: "No sábado passado, passei no Ibirapuera e tinha uma fila imensa à frente daquela mostra ["Corpo Humano: Real e Fascinante']. O Brasil tem um público muito bom para esse tipo de mostra", diz ele, enquanto observa o corre-corre da montagem das obras no Masp, na tarde de quinta-feira, acompanhada pela coluna.

Para manter a exposição, o instituto Sangari, que negociou a vinda da mostra para cá, já conseguiu captar quase toda a verba de R$ 5,5 milhões autorizada pelo governo -o dinheiro será abatido nos impostos dos patrocinadores.

O instituto explica que parte do dinheiro será usado para bancar o aluguel do museu paulistano -cujo valor chegou a ser tratado, em contrato, com a cláusula de "confidencial". Outra parte vai para os custos operacionais. O que vier da bilheteria (R$ 15, o ingresso) será lucro. O presidente do Masp, Júlio Neves, diz que cobra "taxa pelo serviço", mas não aluguel. "Nós não alugamos nada. Nós temos contrato de parceria. Isso aqui não é a Oca!", diz. Ele falou sobre a exposição à coluna:

FOLHA - As mostras comerciais e as científicas não descaracterizam o museu?
JÚLIO NEVES
- Veja bem, o Masp teve 468 mil visitantes no ano passado. Nenhum museu pago no país teve isso. Estamos começando a fazer coisas fora do Masp. Fizemos duas exposições no shopping Morumbi, que montou lá um espaço especial, um negócio grande. A gente montou a Casa de Cultura da Fiat, em Belo Horizonte.

FOLHA - O senhor concorda com a afirmação de que as dificuldades se devem, em parte, porque grandes patrocinadores investem nas próprias instituições, como o banco Itaú com o Itaú Cultural, o Banco do Brasil com o CCBB?
JÚLIO NEVES
- É verdade. Não sou contra nada disso, pessoalmente. Mas aqui nós não temos, realmente, um Banco do Brasil... Não baixamos o padrão de qualidade. Estamos lutando para ficar com a cabeça fora d'água. Estamos entrando na Lei Rouanet com projeto para captar R$ 9 milhões de pessoas físicas ou jurídicas que queiram contribuir para a manutenção do Masp.

FOLHA - Mas o Masp vem de uma crise. O ar-condicionado pifou...
JÚLIO NEVES
- Não, nunca. Quando teve uma baita chuva, o ar-condicionado ficou 15 minutos desligado. Mas sabe como é, né? Quem é contra, aí já vira uma loucura. Mesmo quando houve o negócio do corte de luz, nós não ficamos nem duas horas sem, porque já mandamos vir três geradores. Isso aqui não desliga nada. Não baixamos o padrão de qualidade em nada aqui dentro.

Nos bastidores da exposição, a correria é grande. Às 8h30, o chefe da montagem David Levy, que veio de Nova York para coordenar o trabalho em São Paulo, liga um aparelho de som à tomada e aumenta o volume do jazz. "Let's go!", grita aos funcionários para animar a equipe.

A idéia é mostrar como Darwin viveu, os lugares e animais que conheceu. De avião, veio uma página do manuscrito original do livro "A Origem das Espécies", que Darwin publicou em 1859. No mais, é quase tudo de mentirinha: dez containers transportaram "esqueletos" de cavalos feitos em acrílico, réplicas de patos, de uma ave e de um macaco. Uma espécie de cidade cenográfica darwiniana.

Boa parte dos itens verdadeiros que estarão na exposição são daqui mesmo: quatro tartarugas de água doce e dois jabutis que sempre estiveram expostos no Instituto Butantã; duas iguanas e um sapo que virão do criadouro Pró-Repteis; e 60 orquídeas do orquidário do Morumbi.


"Hum... eu não acredito que isso esteja no lugar certo", diz, rindo, Alan Draeger, apontando para um desenho infantil colocado, de brincadeira, dentro de um dos aquários ainda vazio.

com AUDREY FURLANETO (Reportagem)

Fonte: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/cultura/imprensa/?p=634