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Bienal em pé de guerra

Reeleição do ex-banqueiro Edemar Cid Ferreira divide conselheiros da fundação

 

VEJINHA ON-LINE

05 de julho de 2006

ARTE

Fonte: LEME, A. Bienal em pé de guerra. Vejinha On-line. Cad. Arte. 05/07/2006. Disponível em http://veja.abril.com.br/vejasp/050706/arte.html. Acesso em 12/07/2006.


Bienal em pé de guerra

ÁLVARO LEME

Mesmo trancafiado há mais de um mês em um presídio no interior de São Paulo, o ex-banqueiro Edemar Cid Ferreira continua provocando polêmica no circuito paulistano das artes. Tudo porque ele foi reconduzido ao cargo de conselheiro da Fundação Bienal, uma das mais importantes instituições da cidade, da qual ironicamente já foi a estrela-mor. O tititi começou no dia 20 de junho, numa reunião do conselho no Pavilhão da Bienal, no Parque do Ibirapuera. Devia-se votar a permanência dos integrantes não vitalícios, eleição que costuma acontecer a cada dois anos. Dos 31 conselheiros presentes, somente seis foram contra a reeleição de Cid Ferreira. Um deles, o jurista Carlos Francisco Bandeira Lins, pediu a palavra: "Nosso estatuto obriga o conselheiro a ter reputação ilibada", disse. Estava armada a confusão.

Num dos momentos mais inspirados do debate que se estendeu por quase duas horas, um dos presentes chegou a dizer que somente Jesus Cristo tem a dita "reputação ilibada" prevista no estatuto. Argumentou-se que Cid Ferreira, apesar das sérias acusações de lavagem de dinheiro e gestão fraudulenta, entre outras, não foi considerado culpado pela Justiça. Poderia, então, continuar no cargo. "Enquanto não houver condenação judicial, a presença de Edemar não afeta a Bienal", defende a colecionadora de arte Beatriz Pimenta Camargo. Bandeira Lins rebate: "Não ter antecedentes criminais e ter boa reputação são coisas muito diferentes. Prostituição não é crime no Brasil, mas nem por isso uma prostituta pode ser considerada uma mulher de bem".

O secretário das Subprefeituras, Andrea Matarazzo, também conselheiro, colocou mais lenha nessa fogueira na última terça. Desafeto declarado de Cid Ferreira, ele se posicionou publicamente contra a recondução do ex-banqueiro. "É um acinte. Vamos ter de fazer reuniões no presídio agora?", disse. "A Suzane von Richtofen ainda não foi condenada. Ela poderia participar do conselho da Bienal?" A parte do grupo que apóia Cid Ferreira não gostou nem um pouco e chegou a calcular há quanto tempo Matarazzo não dá as caras numa reunião da fundação. Segundo esses conselheiros, o secretário faltou às últimas onze, realizadas desde 2004. "Ocupo cargo público e não pude comparecer. Isso não me impede de prezar a Bienal", justifica. Por outro lado, a turma que defende a exclusão de Cid Ferreira alega que ele foi reeleito por um sentimento de gratidão de parte do conselho. "Muita gente só está lá por causa do Edemar", aponta Matarazzo.

No encontro do dia 20 foi eleito também o novo presidente do conselho, o arquiteto Miguel Pereira. Apesar de ainda não ter marcado a data da próxima reunião, Pereira diz que ela terá de ocorrer em menos de trinta dias. Servirá para marcar a posse dos conselheiros. Caso ainda esteja em cana, Cid Ferreira não poderá dar o ar da graça. E um novo impasse começa a se delinear. "Não há como ser empossado sem presença física", afirma Pereira.

 


Fonte: LEME, A. Bienal em pé de guerra. Vejinha On-line. Cad. Arte. 05/07/2006. Disponível em http://veja.abril.com.br/vejasp/050706/arte.html. Acesso em 12/07/2006.