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Manifestação sobre o Inhotim - ESTOU COM INHOTIM E NÃO ABRO

22 de setembro de 2009, Paulo Sergio Duarte

AUTORIZO À DIRETORA DO CENTRO INHOTIM DIFUNDIR ESSA MENSAGEM PARA QUEM E ONDE QUISER DESDE QUE SEMPRE RELATANDO QUE TRATAVA-SE DE MENSAGEM ELETRÔNICA (E-MAIL) EM RESPOSTA À SUA MENSAGEM

A razão dessas matérias contra a Coleção Bernardo Paz em Inhotim encontra-se
em alguns pontos:
1. É possível que se a Coleção estivesse instalada em Tremembé (SP) e não em Inhotim (MG) seria tratada de modo diferente.
2. Se a coleção tivesse sido construída e cedida em comodato para um órgão público, com o ônus no orçamento público que isso acarretaria, e não tivesse sido objeto de um pesado investimento patrimonial num ambiente exemplar e com edificações igualmente exemplares para abrigar as obras seria tradada de forma diferente como o são as diversas coleções cedidas a museus em São Paulo e no Rio de Janeiro. Lembro que a cessão em comodato não é doação, transfere-se ao órgão mantenedor todos os ônus de preservação, conservação e proteção (segurança) decorrentes da existência da coleção e conserva-se o direito de propriedade e de herança sobre o patrimônio cedido.
3. Por último, e talvez o mais importante, se o Centro de Inhotim e sua coleção tivessem sido construídos com recursos oriundos dos tesouros públicos por meio de renúncia fiscal, as chamadas leis de "incentivo à cultura" e ocupassem terrenos e prédios públicos, talvez não estivessem sendo atacados. Isenções fiscais das quais gozam todos os jornais na compra do papel usado na sua impressão (incentivo que, diga-se de passagem, sou a favor de ser mantido e por muito tempo num país de analfabetos, a começar pelo analfabetismo da elite).

Digo e repito, qualquer país do mundo teria orgulho de possuir um Centro de Arte como Inhotim. Os ingleses se orgulham, e com razão, do British Museum, no qual parte significativa do acervo foi saqueada de colônias e por ocasião de ocupações militares e transportada como butim. Os franceses, igualmente com razão, se orgulham da sua place de La Concorde que ostenta um obelisco egípcio que não foi comprado, bem como de parte significativa do Museu d Louvre que foi obtido da mesma forma que aquela de Londres. Aqui são certos brasileiros que tomam a iniciativa de derrubar uma iniciativa exemplar no campo da arte como Inhotim. Deveríamos estar torcendo para que todas as instâncias públicas se envolvessem nesse projeto para apoiá-lo e garantir sua continuidade.

Ainda por causa de Inhotim, rogo, que não me venham dar lições de como funciona o capitalismo. Sei disso desde os quatorze anos de idade. Mais tarde li e estudei "O Capital" com um grupo de amigos que conservo até hoje, militei contra a ditadura e paguei por isso, não o preço tão alto quanto os que foram torturados e/ou assassinados. Por isso não me venham convencer que o dinheiro de Bernardo Paz é mais "sujo" que o do Rockfeller que deu a partida na construção do MOMA, o do Simon Guggenheim ou o do Paul Getty. Qualquer adolescente que se inicia no estudo da psicanálise sabe o significado que Freud dava ao dinheiro.

Por que até hoje nenhum desses jornais que atacam Inhotim fez uma reportagem sobre o Museu de Arte de Brasília? Vai aqui, de graça, uma dica de pauta. Trata-se da capital da república que vai completar cinquenta anos em 2010. Diz-se que se trata da capital de um país com mais de oito milhões de metros quadrados, cento e oitenta milhões de habitantes, décima economia do mundo. Onde está seu Museu de Arte de sua capital? No antigo Clube das Forças Armadas, depois transformado em "Casarão do Samba", e, em 1985, transformado em Museu de Arte. Ficava num lugar ermo à beira do lago Paranoá. Agora este sítio está habitado por um conjunto hoteleiro de arquitetura pífia, muito semelhante a esses prédios de nouveaux riches com colunatas e coluninhas, cujos prédios, entre outros nomes, foram batizados de Fort Luderdale e Key Biscayne. Por Brasília, passaram treze presidentes desde sua fundação (para não falar dos dois interregnos de Ranieri Mazzili e da tróica de ministros militares) entre democratas e ditadores, intelectuais e um operário. Onde estará o museu de arte da capital do Brasil ao completar cinquenta anos ? No mesmo lugar: no antigo Clube das Forças Armadas. Acervo existe para dar início a um museu de verdade, além daquele, razoável mas mais que modesto que se encontra no museu; basta consultar as listas de obras que se encontram em posse e propriedade de instituições como o Banco Central, a Caixa Econômica Federal, e outros órgãos públicos. Depois seria traçar uma política correta de
aquisições. Por que não lançar um concurso público internacional de arquitetura para o futuro museu de arte de Brasília agora? Peço isso para que meus tetranetos não paguem o mesmo mico que estou pagando.

Por que não fazer uma matéria sobre o Museu de Arte de Brasília e os 50 anos da capital em vez de atacar o que dá certo? Só existem três instituições de arte que funcionam efetivamente no país como deveriam: a Pinacoteca do Estado de São Paulo, Inhotim e o Museu do Pontal, no Rio de Janeiro. Todo o resto está devendo, alguma coisa, mas está.

Paulo Sergio Duarte