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Edemar tinha quadros falsos, diz crítica

 

FOLHA DE S. PAULO

27 de agosto de 2006

FOLHA Dinheiro

Fonte: CARVALHO, M. C. Edemar tinha quadros falsos, diz crítica. Folha de S. Paulo. Cad. Folha Dinheiro, 27/08/2006. Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi2708200610.htm. Acesso em 06/09/2006.


Edemar tinha quadros falsos, diz crítica

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

 

Duas telas de Di Cavalcanti que pertenceram ao ex-banqueiro são falsificações, segundo avaliação a pedido da Justiça

Veredicto de que obras não são autênticas é atestado por filha do artista; valor atribuído a uma das telas chegava a US$ 250 mil



Duas telas de Di Cavalcanti que pertenceram à coleção de Edemar Cid Ferreira e estão depositadas no MAC (Museu de Arte Contemporânea) de São Paulo são falsas. A avaliação é da crítica de arte e curadora Denise Mattar, que já realizou duas grandes exposições sobre o pintor, e foi endossada por uma das filhas do artista, Elizabeth Di Cavalcanti.
A crítica fez a análise dos dois quadros a pedido do juiz federal Fausto Martin de Sanctis, o mesmo que determinou que a coleção do ex-controlador do Banco Santos fosse seqüestrada e depositada em museus de São Paulo e do Rio de Janeiro.
O MAC, museu que faz parte da USP (Universidade de São Paulo), recebeu 2.342 peças das cerca de 20 mil que fazem parte da Cid Collection.
Edemar tem mais dois quadros de Emiliano Di Cavalcanti (1897-1976), um dos mais importantes pintores do modernismo brasileiro. Um deles, batizado "Figuras - Composição", está numa das salas de sua casa no Morumbi, na zona sul de São Paulo. Sobre esses dois trabalhos não há dúvidas sobre a autenticidade.
O valor que Edemar atribuiu a "Figuras", de US$ 250 mil (correspondente a R$ 537,5 mil em valores atuais), é o mesmo que consta da ficha de uma das obras consideradas falsas, a que mostra cinco mulheres. Os preços das obras estão registrados no livro-tombo da Cid Collection, do qual a Folha obteve uma cópia em CD. Não há avaliação da outra tela considerada falsa, apelidada no livro-tombo de "Maternidade" por mostrar uma mulher com uma criança.

"Falsificação grosseira"
O juiz Martin de Sanctis pediu que os dois quadros de Di fossem avaliados porque havia recebido informações de que as obras seriam falsas, segundo a Folha apurou. A informação partiu de funcionários que trabalharam com a coleção de arte de Edemar.
Denise Mattar analisou as obras no museu e levou fotos dos trabalhos para que a filha do pintor, que vive no Rio de Janeiro, desse a sua opinião. O veredicto das duas é unânime: "A conclusão a que chegamos é que nenhuma das duas obras é de fato do artista". O texto de Mattar, obtido pela Folha, foi encaminhado ao juiz Martin de Sanctis e faz parte do processo em que Edemar é réu sob acusação de formação de quadrilha, gestão fraudulenta de instituição bancária e lavagem de dinheiro.
A análise que a crítica fez das duas telas é similar. Sobre as cinco mulheres, Mattar fez três observações:
1. "A assinatura não é do artista em nenhum período de sua produção";
2. "A coloração e a forma de aplicação da tinta não correspondem às adotadas pelo artista"; e
3. "A composição e a expressão das figuras não correspondem às adotadas pelo artista".
Na análise do quadro que mostra uma mulher nua com um bebê, Mattar assinala: "A composição difere da forma como o artista sempre retratou o tema maternidade".
Em entrevista à Folha, a crítica foi um pouco mais contundente: "O quadro das mulheres é uma falsificação grosseira. Tenho certeza absoluta de que não é um Di. As pinceladas, a composição, as figuras não são de Di".
Mattar usou a mulher de vestido para detalhar seu raciocínio. "O vestido está pintado em um tom só de verde. O Di jamais faria isso. Ele não fazia a cor na paleta e depois a aplicava na tela. Era um pintor à moda antiga. Ele construía a cor na tela pintando várias camadas, e a cor final era o resultado dessa sobreposição."
Sobre "Maternidade", Denise Mattar diz ter dúvidas se era falsa ou autêntica, já que uma poltrona similar à que está na tela aparece em outro trabalho, "Nu com Flores", que está em uma exposição que ela organizou na Caixa Cultural, no Rio, com 110 obras de Di -em 1997, a crítica fez uma retrospectiva com 157 trabalhos do artista.
A avaliação da filha de Di Cavalcanti foi fundamental para que Mattar dissipasse suas dúvidas: a assinatura não era a que o pintor usava na suposta data do quadro -1968.
"Eu tinha uma dúvida sobre esse quadro, mas a Elizabeth foi taxativa e ela conhece a obra do pai", afirma a crítica. Se houver contestações a sua opinião, ela recomenda uma análise científica do quadro.

 


Fonte: CARVALHO, M. C. Edemar tinha quadros falsos, diz crítica. Folha de S. Paulo. Cad. Folha Dinheiro, 27/08/2006. Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi2708200610.htm. Acesso em 06/09/2006.