Você está aqui: Página Inicial / Dossiês / Dossiê: outros espaços e formas de gestar os museus em São Paulo / MAC não terá projeto de Niemeyer

MAC não terá projeto de Niemeyer

Por Eduardo Simões para a Folha de S. Paulo em 04/12/2008.

Secretário da Cultura de SP diz que proposta do arquiteto, orçada em R$ 120 mi, "seria quase o valor de um novo prédio"
Para Niemeyer, parar o trabalho "é um pouco ruim'; segundo Sayad, estrutura atual será adaptada, ao custo de até R$ 50 mi

O secretário estadual da Cultura, João Sayad, anunciou ontem que não vai mais realizar o projeto do arquiteto Oscar Niemeyer, 100, para a readequação do prédio do Detran (Departamento Estadual de Trânsito), no parque Ibirapuera, onde será instalada a nova sede do MAC-USP (Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo). Segundo ele, a reforma "demoraria demais" e "ultrapassaria a atual gestão da secretaria".
Além disso, teria havido contestações "ainda não formalizadas" de órgãos ligados à preservação de prédios históricos, como o Conpresp (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico) e o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).
Sayad disse que esteve com Niemeyer há cerca de 15 dias para comunicar a decisão. O arquiteto ficou contrariado. À Folha ele disse ontem considerar que "o problema é do governador" José Serra, mas que, como se dedicava com afinco ao trabalho, esperava que o projeto do museu saísse do papel.
"Parar o trabalho, a que eu e o governador estávamos dando tanta atenção, é um pouco ruim", lamentou Niemeyer.
O arquiteto contou que "há uns três, quatro dias" um emissário do governo paulista visitou-o no escritório, a fim de explicar as razões da decisão.
"Falta de dinheiro, foi o que ele disse", afirmou Niemeyer sobre as explicações dadas pelo representante de Serra, cujo nome o arquiteto disse ter esquecido. Sobre a alegada falta de dinheiro, limitou-se a falar: "O problema é do governador, não tenho nada a dizer".

As novas adaptações
De acordo com a proposta de Niemeyer, custaria R$ 120 milhões a reforma do antigo Palácio da Agricultura, projeto original do próprio arquiteto carioca, entregue em 1954 como parte das festividades do Quarto Centenário de São Paulo.
"Seria quase o valor de um novo prédio", justificou Sayad à Folha, adiantando que a nova reforma deve ficar entre R$ 40 milhões e R$ 50 milhões. "Não contratamos um novo escritório de arquitetura. Vamos apenas adaptar o ar-condicionado, as escadas e a vedação das janelas. Ou seja, vamos usar o mesmo edifício, com as características que tem hoje, atendendo plenamente às necessidades do MAC. Esperamos que tudo esteja pronto até o fim de 2009."
O prazo anterior era junho.
Atualmente dividido entre um prédio na Cidade Universitária e um andar no Pavilhão da Bienal, também no Ibirapuera, o MAC-USP tem um acervo de cerca de 8.000 obras, entre elas peças de Modigliani, Picasso e Tarsila do Amaral. O acervo nasceu a partir da coleção do mecenas Ciccillo Matarazzo (1892-1977), doada à universidade e que fazia parte da primeira fase do MAM (Museu de Arte Moderna) paulistano.
Sayad descartou a hipótese de a decisão ter sido motivada por uma priorização do projeto do Teatro da Dança, do escritório suíço Herzog & De Meuron, que custará R$ 300 milhões.


Colaborou SERGIO TORRES , da Sucursal do Rio.

Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0412200809.htm