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Diretor do Museu da Cidade se demite e ataca 'provincianismo' da prefeitura

Diretor do Museu da Cidade se demite e ataca 'provincianismo' da prefeitura

Afonso Luz, diretor do Museu da Cidade, que deixa agora seu cargo. Foto: Eduardo Knapp/Folhapress

SILAS MARTÍ SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Depois de dois anos à frente do Museu da Cidade, órgão da prefeitura paulistana responsável pela gestão da Oca e outros 12 centros culturais na cidade, Afonso Luz está deixando seu cargo. Ele alega diferenças com a gestão do secretário municipal da Cultura, Nabil Bonduki, que teria uma "abertura menor para a arte contemporânea, o design e a moda", e será substituído pela museóloga Beatriz Arruda, do Museu de Arte Contemporânea da USP.

Luz assumira o posto quando o secretário da pasta era Juca Ferreira, atual ministro da Cultura. Desde então, teve como principais objetivos a transferência do acervo de arte da cidade hoje guardado no Centro Cultural São Paulo para exibição permanente na Oca, no parque Ibirapuera, e a criação de uma escola de curadoria, ambos projetos que não foram adiante.

"Há uma visão já consolidada na máquina pública e que também advém de certo provincianismo da política municipal que a cidade não deve ter um museu de arte forte", diz Luz, em entrevista à reportagem. "A prefeitura tem uma cabeça do século 19 de história local e combina isso com uma mentalidade de repartição pública que não deve funcionar. Parece que isso é mais forte do que a visão dos secretários da Cultura que ocupam os cargos. Eles são reféns de uma estrutura que não funciona."

Em resposta às críticas de Luz, Bonduki reconhece que a área de museus "é muito frágil" dentro da prefeitura, mas diz que a prioridade não deve ser a expansão de espaços de exibição de arte, como queria o diretor que deixa agora o cargo.

"São Paulo tem vários museus de arte fortes. Na prefeitura, temos um embrião importante de coleção de arte, mas isso exige recursos e muitos anos de trabalho para mostrar", diz Bonduki. "Tenderia a dizer que é mais urgente, dentro de uma lista de prioridades, apresentar um acervo que a secretaria já tem sobre a história da cidade, fazer exposições sobre questões que estão acontecendo agora."

No fundo, a gestão atual vai na contramão dos planos de Luz. Enquanto o ex-diretor do Museu da Cidade tentou estabelecer uma escola de curadoria na Chácara Lane, espaço expositivo aberto na rua da Consolação, Bonduki quer que o lugar continue a ser um centro cultural. Também é contra a tentativa de Luz de expor a coleção de arte da cidade na Oca, mantendo o prédio no parque Ibirapuera livre para mostras temporárias.

Bonduki frisou, no entanto, que nada impede que algumas mostras realizadas na Oca sejam do acervo da cidade, entre elas dos painéis feitos para os 400 anos da cidade em 1954 que agora passam por restauro. O secretário também promete uma reforma administrativa para garantir mais recursos para o Museu da Cidade -seu orçamento de R$ 15 milhões dividido com o Arquivo Histórico do município e o Departamento de Patrimônio Histórico está hoje 70% comprometido só com a segurança e limpeza dos edifícios.