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Conceição Evaristo toma posse na Cátedra Olavo Setubal de Arte, Cultura e Ciência

Imagem por Lis Pereira

 

Por IEA USP http://www.iea.usp.br/noticias/posse-conceicao-evaristo

 

A escritora Conceição Evaristo tomará posse como titular da Cátedra Olavo Setubal de Arte, Cultura e Ciência em cerimônia no dia 5 de setembro, às 14h30, quando apresentará o programa de sua titularidade, baseado no conceito de "escrevivência". Oficialmente, ela já está à frente da cátedra desde junho, substituindo o antropólogo Néstor García Canclini. A cátedra é uma parceria do IEA com o Itaú Cultural, e o evento terá transmissão online.

 

"Escrevivência" é o termo cunhado por Conceição para referir-se à escrita que nasce do cotidiano, das lembranças, das experiências de vida dela, das mulheres negras e do povo afro-brasileiro em geral.

 

Conceição pensa numa atuação dinâmica para a cátedra. A ideia é "traduzir o saber acadêmico extramuro da Academia e promover uma investigação interdisciplinar", buscando a incorporação de "novos modos e lugares de produção de conhecimento".

 

Em seu projeto, foi pensada a realização de atividades de formação para alunos da USP, de capacitação para professores da rede pública de ensino e de criação literária para jovens de territórios periféricos. O intuito é propiciar uma reflexão sobre como as classes populares se apropriam da língua portuguesa e criam seus textos, muitas vezes questionando a literatura canônica.

 

A primeira frente de atuação, com um público universitário, teria como objetivo pensar o conceito de escrevivência como aporte teórico para compor e ler objetos de pesquisa em vários campos de conhecimento. A segunda frente de atuação, com professores do ensino fundamental ao médio, buscaria inserir o conceito na educação literária por meio de práticas em sala de aula. Já a terceira frente atuaria em oficinas de criação com jovens periféricos para avaliar como eles produzem suas escrevivências.

 

A proposta de trabalho prevê seminários com pesquisadores e público o mais diverso possível, "buscando sempre a democratização do conhecimento". A observação e construção de um produto teórico se daria com suporte de pesquisadores das áreas da Linguística, Teoria Literária e Psicologia.

 

Para Martin Grossmann, coordenador acadêmico da cátedra e ex-diretor do IEA, a presença da primeira pessoa negra e a primeira artista a ocupar a cátedra é “fundamental nesse instante em que a cátedra pretende explorar mais o ato criativo". Ele defende que a poética possibilita uma transformação no entendimento das coisas.

 

“A oralidade envolve muito o corpo, o gesto, o olhar, o movimento. A influência da oralidade, a escrevivência e o hábito de ‘matutar o texto’, como ela diz, fazem parte de seu processo criativo. Algo que ainda não foi tocado pela cátedra e que agora terá lugar com Conceição", afirma o professor.

 

Parte dos trabalhos que Conceição pretende desenvolver na cátedra dará continuidade às atividades sobre a produção cultural das periferias, de Eliana Sousa Silva, educadora e ativista sociocultural que foi titular em 2018.

 

“Nossa expectativa é que não só sua literatura seja fundamental durante a titularidade, mas também a possibilidade de conhecer mais, explorar mais a tradição da literatura que vem das margens, das periferias, externas à cultura eurocêntrica que domina o Brasil”, diz Grossmann.

 

Para ele, ficou clara a necessidade de olhar para a periferia e para a maioria que constitui o país a partir da titularidade de Eliana. "Mais de 60% da população brasileira é negra ou parda e não está representada nos cânones. Mas ela está cada vez mais se fazendo presente, e a ideia da periferia como potência é fundamental para isso.”

 

Conceição Evaristo

Autora de romances, poesia, contos e ensaios, Conceição Evaristo graduou-se em letras na UFRJ e obteve os títulos de mestre em literatura brasileira pela PUC-RJ e doutora em literatura comparada pela UFF.

 

A escritora enfatiza que seus trabalhos têm influência da contação de histórias presente no contexto da cultura mineira que vivenciou. O hábito de se "jogar conversa fora" e o fato de ter vivido "rodeada de palavras desde a infância, com a oportunidade de escutar o encantamento das palavras, a riqueza da oralidade" são destaque em sua experiência.

 

Sua obra é considerada uma referência na luta contra o racismo e o machismo no país. A primeira publicação foi aos 44 anos, em 1990, na série Cadernos Negros, do grupo Quilombhoje. É autora de sete livros, entre eles "Olhos D'Água'' (2015), vencedor do Prêmio Jabuti. Cincos dos seus livros foram traduzidos para o inglês, francês, espanhol e árabe.

 

Foi agraciada com o Prêmio do Governo de Minas Gerais pelo conjunto de sua obra; Prêmio Nicolás Guillén de Literatura, pela Caribbean Philosophical Association; e Prêmio Mestra das Periferias, pelo Instituto Maria e João Aleixo. Em 2017, foi homenageada pelo Itaú Cultural com a Ocupação Conceição Evaristo e, em 2019, como personalidade literária pelo Prêmio Jabuti.

 

Posse de Conceição Evaristo - Cátedra Olavo Setubal de Arte, Cultura e Ciência

5 de setembro, 14h30

Evento público com transmissão ao vivo pela internet

Mais informações: Sandra Sedini (sedini@usp.br), (11)3091-1678

 

Página do evento