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Intelectuais negras criam espaços de pesquisa e acolhimento em São Paulo e no Rio

Casa Escrevivência, de Conceição Evaristo, se junta às iniciativas Casa Sueli Carneiro e Espaço Feminismos Plurais, de Djamila Ribeiro.
Intelectuais negras criam espaços de pesquisa e acolhimento em São Paulo e no Rio

A escritora Conceição Evaristo durante lançamento da Casa Escrevivência, espaço aberto na semana passada no Rio - Fernando Frazão/ABr

Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2023/07/intelectuais-negras-criam-espacos-de-pesquisa-e-acolhimento-em-sao-paulo-e-no-rio.shtml?utm_source=sharenativo&utm_medium=social&utm_campaign=sharenativo

Darlene Dalto - Jornalista, é autora dos livros “Processo de Criação” (ed. Marco Zero) e “Mulheres Negras Importam”

Sueli Carneiro, Conceição Evaristo e Djamila Ribeiro, três das mais importantes intelectuais e escritoras brasileiras, têm algo em comum além da luta antirracista a que dedicam suas vidas há décadas: cada uma idealizou e inaugurou espaços onde compartilham conhecimento e acolhimento em especial às mulheres negras e mulheres brancas aliadas, igualmente antirracistas.

A Casa Sueli Carneiro e o Espaço Feminismos Plurais já funcionam em São Paulo. A Casa Escrevivência Conceição Evaristo foi inaugurada semana passada no Beco João Inácio, próximo à praça Mauá, no Rio de Janeiro, local também conhecido como Pequena África. A data escolhida propositalmente, às vésperas do Dia das Mulheres Negras Latino-americanas e Caribenhas, comemorado nesta terça (25) no país. Foram três dias de eventos e festa.
Na última quinta-feira (20), na abertura oficial da Casa Escrevivência, a escritora mineira autografou seus livros, como "Olhos d'Água" e "Ponciá Vicêncio", do final da tarde até a meia-noite. A casa abriga suas obras, rascunhos, prêmios e boa parte da sua memorabilia e, futuramente, vai hospedar escritoras de fora da cidade.
A Casa Sueli Carneiro foi inaugurada em março de 2021, em plena pandemia, no Butanta, zona oeste de São Paulo, na casa onde Sueli Carneiro morou durante 40 anos e onde recebeu algumas das mais importantes ativistas ligadas ao movimento negro e ao movimento de mulheres negras do Brasil, em reuniões de luta e em almoços de confraternização.

Graduada em filosofia e doutora em educação pela USP (Universidade São Paulo), em 1988 ela fundou o Geledés - Instituto da Mulher Negra para fomentar o debate sobre feminismo negro, racismo e sexismo, que continua em atividade até hoje e deu origem ao Portal Geledes.
O novo espaço foi criado para abrigar seu legado intelectual e sua biblioteca e colocá-los à disposição do público interessado. Mas não só. Ao longo do ano há inúmeras atividades. Em junho passado, mês em que ela completou 73 anos, foi realizado o 2° Festival Sueli Carneiro com rodas de conversa, oficinas, exibição de filme e lançamento de livros.
Em parceria com a Fundação Rosa Luxemburgo, a CSC acaba de lançar o livro "Raízes e Asas: Cuidar da Memória Para Fortalecer a Autonomia Negra", derivado da segunda edição do curso Fazeres de Memórias Negras.
No momento a casa está fechada para reforma. A previsão é que ela reabra ainda neste ano.

A filósofa e colunista da Folha Diamila Ribeiro começou a pensar no Espaço Feminismos Plurais há seis anos, em 2017, quando lançou seu primeiro o livro "Lugar de Fala" -a inauguração foi em maio do ano passado, em Moema, São Paulo.
Sem fins lucrativos, o instituto tem como objetivo a troca de ideias, de conhecimento e o acolhimento.

"O EFP tem uma perspectiva educacional e cultural e é multidisciplinar. Nós temos atendimentos jurídicos, psicológicos, odontológicos gratuitos sobretudo para as mulheres. E promovemos parcerias com a Casa Rosângela Rigo, o primeiro abrigo para mulheres vítimas de violência doméstica no município de São Paulo, com profissionais liberais e com terapeutas holísticas que acompanham, duas vezes por mês, a Jornada do Sentir", explica Djamila.

O espaço possui ainda uma biblioteca aberta ao público, que funciona na sala Toni Morrison, em homenagem à escritora americana, a primeira mulher negra a receber o prêmio Nobel de Literatura, em 1993.
Há dias Djamila levou novos livros para a biblioteca, entre os quais exemplares do português José Saramago que recebeu da viúva dele, Pilar del Río, com quem esteve recentemente em Portugal. Ali também ficam disponíveis computadores e wi-fi gratuito para pesquisas e trabalhos acadêmicos.
Não raro na casa acontecem lançamentos de livros, alguns do selo Feminismos Plurais, coordenado pela própria Djamila.
Recentemente o instituto selecionou 25 mulheres e quatro coletivos que participaram do edital Fundo Johnnie Walker para Mulheres Negras, criado para capacitar empreendedoras e acelerar seus negócios. Elas receberão atendimento durante três meses, mentoria, cursos do Senac e um aporte financeiro.
Espaços como esses têm como objetivo de fundo reescrever a história da população negra no Brasil. Sueli, Conceição e Djamila sabem que seus passos reverberam. Elas representam milhões de outras mulheres como elas -que vieram antes e que ainda virão.