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Práticas discursivas para artistas Investigar e Comunicar o Trabalho em Artes online - Programa

PROGRAMA

CURSO DE CURTA DURAÇÃO

Outubro-Dezembro de 2023

ONLINE

 

online
Plataformas a serem usadas:
Google Meets
Google Drive

Turma 01
23, 30 de Out. + 06, 13 de Nov.

Segundas das 19h às 21h30

Turma 02
11, 18 e 25 de Nov. + 02 de Dez.

Sábados das 10h às 12h30

 

 

Inscrições:

https://bit.ly/CursoPraticasDiscursivasOnline

Com certificado de participação - 10h.

 

APRESENTAÇÃO

 

O curso "Práticas Discursivas para Artistas ” tem como objetivo investigar aquilo que podemos falar do trabalho artístico desde o seu processo de elaboração até a sua inserção no sistema das artes, assim como oferecer ferramentas práticas que irão dar suporte a um pensamento criativo de forma organizada e coerente.

Em
4 encontros, o curso traça caminhos poéticos que a escrita artística percorre, e oferece meios práticos para esse desenvolvimento. Durante o curso será desenvolvida a capacidade de estabelecer conexões entre conceitos-chaves da produção e pesquisa de cada participante, além de ferramentas capazes de articular verbalmente seu trabalho de forma eficaz. Através de um ambiente online de aprendizagem teórico e prático faremos a aplicação de diferentes estratégias de levantamento, organização, comunicação e apresentação do seu trabalho.

Nessa segunda edição o curso se apresenta de forma
online, com encontros através do google meet, com 2 turmas disponíveis: a turma 01 terá encontros nas segundas a noite e a turma 02 aos sábados pela manhã.

 

EMBASAMENTO

 

 

Este texto estabelece os embasamentos práticos e conceituais do curso, e se divide em duas pequenas partes, ambas fundamentais para se pensar na importância dos textos feitos por artistas. A primeira, intitulada Não existe arte sem público, fala sobre os motivos de um desenvolvimento consciente dos caminhos poéticos que a pesquisa artística percorre. Uma produção que consegue nomear a sua trajetória de forma mais objetiva também estabelece uma comunicação com público mais generosa.

 

Ao contrário do que possa parecer, uma comunicação bem sucedida não ofusca o trabalho de arte, pelo contrário. Encontrar formas de oferecer chaves de leitura para a sua produção irá permitir que público acesse mais camadas de significação sobre o que foi desenvolvido. O público, nesse caso, não se restringe ao espectador, mas engloba também pares e interlocutores, da crítica ou curadoria, por exemplo.

 

A segunda parte, nomeada de Apagão da crítica, procura situar a responsabilidade da crítica de arte no silêncio que muitas vezes se segue a uma exposição ou apresentação de trabalhos. É um texto que surge da pergunta, também feita por mim em diversos momentos: por que a crítica não fala do meu trabalho? Veremos que o problema relacionado a isso é mais complexo do que parece, e que aguardar a descoberta da crítica ou curadoria para ganhar visibilidade, reconhecimento ou outras intencionalidades pode ser um grande erro. Antes da crítica ou curadoria começarem a falar do seu trabalho, por exemplo, o público, no qual elas se incluem, irão parar também para lhe ouvir, e irão procurar ali elementos que motivem a inclusão da sua produção no pensamento que desenvolvem ou se interessam.

 

 

  1. Não existe arte sem público

 

A convite da Federação Americana de Artes, em Houston, Texas, em 1957, o artista Marcel Duchamp escreve um texto de conferência intitulado “O ato criador”. É quando ele oferece duas maneiras de darmos importância ao público no meio da arte. Primeiro ele se refere ao ato criador: “O ato criador não é executado pelo artista sozinho; o público estabelece o contato entre a obra de arte e o mundo exterior, decifrando e interpretando suas qualidades intrínsecas e, desta forma, acrescenta sua contribuição ao ato criador.” Na sequência, comenta então sobre as distâncias que se formam entre a intenção da produção artística e o que o público pode interpretar sobre o que foi realizado. Essa distância entre produção e recepção foi nomeada por Duchamp como “coeficiente artístico”: diferenças, falhas ou lacunas, como numa relação aritmética, entre a intenção e a realização.

 

Um bom coeficiente artístico teria uma distância pequena entre a arte produzida e o que o público pode interpretar. A intenção do trabalho de arte pode e deve abranger múltiplas leituras, mas muitas vezes são criados outros materiais para que essa distância não seja abissal: fichas técnicas de obras, memoriais descritivos, legendas e textos de parede, entrevistas e/ou outros materiais de mediação. Esses materiais dão o contexto ou território daquela produção. São pontes discursivas de aproximação, exigidas por diversos motivos. Elas podem ser instrumentos pedagógicos de uma curadoria, por exemplo, mas também uma exigência feita a artistas em editais, apresentações de portfólio, conversas públicas, entrevistas e etc.

 

 

  1. Apagão da crítica

 

Diante do declínio massivo da crítica de arte em jornais diários e o seu deslocamento para campos específicos de sua própria área, desenvolvendo um pensamento que muitas vezes torna o trabalho de arte uma ilustração das suas ideias, como poderíamos pensar aquilo que lhe interessa hoje? Afinal, onde está a crítica de arte? Quando a psicanalista e escritora Tania Rivera aborda a dimensão crítica da arte, ela substitui a preposição que denota o sentido de posse em “crítica de arte” pela preposição que denota a noção de lugar, com “crítica na arte”, destacando que a crítica não é algo que é dito sobre a arte, mas é algo que nela habita, nela está, dentre tantas outras coisas. A crítica na arte se articula onde não há a indicação de um padrão sobre como escrever, que seria limitante sobre as possibilidades textuais, mas nos fala da construção de um pensamento que dela advém, um pensamento provocado pela própria arte e que se estrutura como um pensamento crítico e compartilhado por uma produção.

 

Na elaboração de uma crítica que advém da própria produção artística, podemos perceber uma posição auto reflexiva, como numa das cartas curatoriais que revelaram o pensamento das organizadoras da 34a Bienal de São Paulo (2021), em que destacamos um pequeno trecho de carta escrita em conjunto pela curadora Ruth Estévez e pela artista Carla Zaccagnini, relacionada ao título da mostra “Faz escuro, mas eu canto”:

 

 

Do título, mais que o ‘mas’ me preocupava o ‘escuro’, a associação do escuro com o difícil, o sinistro (que não por acaso vem de esquerda), o triste, o incerto e o mal; uma associação construída por séculos. Não se trata apenas do canto, se trata de atrever-se a olhar para as sombras, acostumar-se às trevas e enxergar tudo o que cabe na escuridão. (ESTÉVEZ; ZACCAGNINI, 2020)

 

 

Durante as últimas décadas a crítica de arte no Brasil reduziu significativamente a sua esfera de atuação e comunicação na imprensa, deslocando os seus debates para a esfera acadêmica por meio de artigos, dissertações, teses, conferências e seminários. A trajetória de declínio da crítica reduziu significativamente a sua anterior ampla esfera de circulação na imprensa. Textos diários que ocupavam espaços de destaque nos jornais como os de Mário Pedrosa (Jornal do Brasil/RJ) ou os de Adalice Araújo (mais de mil textos publicados em jornais do Paraná em décadas de atuação) foram desaparecendo por uma série de motivos, econômicos e culturais.

 

Para termos uma ideia, a cobertura de centenas de exposições inauguradas anualmente no Rio de Janeiro teve um momento intenso de crise em 2006, com uma atuação solitária na imprensa de Luiz Camillo Osório, colaborador de O Globo. (TINOCO, 2007)

 

Há uma multiplicidade de fatores e interesses que podem ser levantados diante declínio da crítica nos grandes meios de circulação, incluindo-se aí as mudanças de paradigmas na transição da arte moderna para a arte contemporânea, que minaram a autoridade da crítica.

 

Tanto o neoconcretismo quanto a arte conceitual (...) tiraram de cena um elemento fundamental para a crítica moderna: a obra física, o objeto de arte a ser avaliado. Ao se voltarem para o conceito e para a desmaterialização da arte, o não-objeto, tais artistas deslocaram o debate crítico. Com a ascensão da arte contemporânea, as certezas modernas ficaram em suspenso. (TINOCO, 2007, p.644)

 

No Brasil, a crítica de arte em jornais foi próxima da literatura durante todo a primeira metade do século XX e mesmo nas décadas seguintes, quando se destacavam a atuação de escritores e poetas como Mário de Andrade, Augusto e Haroldo de Campos, Décio Pignatari, Aracy Amaral, Ferreira Gullar, dentre outros. Após a crise no fornecimento de insumos, principalmente de papel que teve uma considerável alta entre 1958 a 1963, somada às limitações de liberdade de expressão impostas pela censura no período da Ditadura Militar, a crítica de arte se viu diante de uma primeira redução de espaço na esfera da imprensa, sendo acompanhada por uma presença do jornalismo de serviço que procurava trazer informações breves sobre as novidades de consumo, numa tendência que se consolidou nos anos de 1980 e 1990, fazendo com que a crítica de artes passasse a se referir quase que exclusivamente à acontecimentos relacionados mais a um classe social do que a uma classe artística.

 

Hoje, vivenciamos essa redução ainda mais intensivamente. Textos diários deram lugar a breves comentários semanais e muitas vezes outros textos e colaborações espontâneas não remuneradas pelos jornais, praticamente eliminando a figura do jornalista cultural. Um caminho proporcionalmente inverso ao aumento de exposições inauguradas todos os anos.

 

 

 

PROPOSTA QUE DESENVOLVEREMOS:

 

 

Em quatro encontros, o curso apresenta o conceito de práticas discursivas e sua relevância para artistas, assim como artistas capazes de articular verbalmente seu trabalho de forma eficaz. Através de um ambiente de aprendizagem teórico e prático faremos a aplicação de diferentes estratégias de 1. levantamento, 2. organização, 3. comunicação e 4. apresentação do seu trabalho. O objetivo é fazer com que o olhar prático e sensível de cada participante encontre os melhores caminhos verbais de expressão, seja escrita ou falada.

 

 

 

AULA A AULA:

 

AULA 01

Não existe arte sem público

 

 

Uma produção que consegue nomear a sua trajetória de forma mais objetiva também estabelece uma comunicação com o público mais generosa. Ao contrário do que possa parecer, uma comunicação bem sucedida não oblitera o trabalho de arte, pelo contrário. Encontrar chaves de leitura para a sua produção irá permitir que público acesse mais camadas de significação sobre o que foi desenvolvido. Durante esse encontro, teremos o primeiro contato com textos de artistas, assim como as primeiras estratégias para que cada participante expanda seu vocabulário relacionado à sua produção, explorando termos que surgem em escritas espontâneas, conceitos-chave que são levantados por seu trabalho e outros termos que criam um território de contextos e desdobramentos.

 

 

 

AULA 02

Fio delicado entre ideias dispersas

 

Uma das maiores dificuldades ao traduzir uma produção visual para uma apresentação verbal está no vocabulário. Mas isso não se restringe à quantidade de palavras conhecidas, mas sim sobre a nossa capacidade de estabelecer conexões que temos sobre o vocabulário manejado especificamente pela nossa produção. Dentre a variedade de conceitos relevantes para a compreensão e análise da produção artística, conseguir identificar e articular conceitos-chave é um passo fundamental. Nesta aula cada participante irá investigar ideias centrais e periféricas de sua produção, exercitando a habilidade de ter uma visão que parta de contextos mais amplos para os mais específicos. Iremos mergulhar nas conexões sutis que possam haver entre diferentes ideias e conceitos a partir de exemplos de outros artistas, aprofundando a compreensão conceitual e enriquecendo a discussão em torno de suas próprias obras, pesquisa ou processos criativos.

 

 

AULA 03

Abordagem de um território de pesquisa

 

Uma competência essencial para artistas e criativos é a capacidade de identificar e objetivar os problemas que surgem durante o processo criativo. Nesse encontro será apresentada uma importante ferramenta de pesquisa e suas potencialidades para a pesquisa poética e artística: os mapas conceituais. O mapa conceitual não é um território ou um lugar, mas a cartografia de um processo, é uma presença discursiva que se faz em contexto nos espaços, tempos e relações que o trabalho ou pesquisa em artes envolve. Coletivamente, o grupo será estimulado a formular perguntas pertinentes, analisar questões estéticas, simbólicas e técnicas e, assim, desenvolver estratégias para manejar problemas e imprevistos discursivos que possam surgir. Essa competência lhes permitirá desenvolver uma abordagem mais consciente e reflexiva em relação ao seu próprio trabalho.

 

 

 

 

AULA 04

Um sopro de suspense e propósito

 

Perceber que nem tudo deve ser dito, mantendo lugares em suspense também ajudará a ter uma relação mais leve e harmoniosa com as suas práticas discursivas. Escrever com propósito ou elaborar narrativas significativas é descobrir que a segurança discursiva já está implícita em todo o esforço e trabalho implicado numa produção. A produção verbal é uma ferramenta fundamental para artistas e pesquisadores comunicarem e contextualizarem seu trabalho para diferentes públicos, ocasiões e objetivos, mas ela já está contida de forma visual ou conceitual, muitas vezes, na própria produção. Nesta aula teremos a compreensão sobre os diferentes caminhos e formas de apresentação demandados pelo trabalho desenvolvido. Afinal, como falar de pontos que são chaves importantes para a comunicação tanto com um público amplo quanto com a crítica e curadoria sem reduzir sua produção à ilustração de uma ideia nem torná-la inacessível em decorrência de um discurso extremamente reduzido, vago ou abstrato?

 

 

 

MINISTRANTE:

Arthur L. do Carmo

(http://lattes.cnpq.br/7767347351293208)

 

 

 

BIBLIOGRAFIA DE REFERÊNCIA:

 

ALŸS, Francis. Numa dada situação: Francis Alÿs. Trad.: Vários tradutores.

São Paulo: Cosac Naify, 2010.

 

BARRIO, Artur. Textos, manifestos e um ‘texto mais recente’. RevistaVisuais.

Revista do Programa de Pós-graduação em Artes (Campinas), v.2, n.2, Unicamp, 2016.

 

BASBAUM, Ricardo. A crítica de arte como campo privilegiado para a ficção contemporânea. In.: Manual do Artista-etc. Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2013, pp.39-49.

 

 

BUENAVENTURA, Julia. Cânone e colonial guilt. Periódico Permanente (São Paulo),v.10, n.09, 2021. Disponível em:

http://www.forumpermanente.org/revista/periodico-permanente-9/textos-em-html/canone-e-colonial-guilt

 

BUREN, Daniel. Limites críticos. In.: DUARTE, Paulo Sérgio (Org.) Daniel Buren: textos e entrevistas escolhidos (1967-2000). Rio de Janeiro: Centro de Arte Hélio Oiticica, 2001.

 

CLARK, Lygia. A descoberta da linha orgânica. In.: O mundo de Lygia

Clark. Disponível em: https://issuu.com/lygiaclark/docs/1954-descoberta-da-linha-organica_p

 

CLIFFORD, James. Museus como zonas de contato. Tradução: Alexandre Barbosa de Souza e Valquíria Prates. Revisão técnica: Diogo de Moraes. Revista Periódico Permanente, v.07, n.06, 2016. Disponível em http://www.forumpermanente.org/revista/numero-6-1/conteudo/museus-como-zonas-de-contato

 

COMO FAZER A CRÍTICA DA ARTE CONTEMPOR NEA INDÍGENA. Paraty: FLIP, Festa Literária Internacional de Paraty, 2021 [Live]. 1 vídeo (1h:28min). Participantes: LAGNADO, Lisette; BANIWA, Denilson. Mediação: MENEZES, Renato. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=JAlCXzLvGYE

 

FERREIRA, Glória. Emprestar a paisagem – Daniel Buren e os limites críticos. Revista do PPGAV-EBA/UFRJ Arte & Ensaios, v.8, n.8, 2001.

 

FETTER, Bruna. Das reconfigurações contemporâneas do(s) sistema(s) da arte. MODOS: Revista de História da Arte (Campinas), SP, v. 2, n. 3, p. 102–119, 2018.

 

FIALHO, Ana Letícia. As exposições internacionais de arte brasileira: discursos, práticas e interesses em jogo. Revista Sociedade e Estado. v. 20, n. 3. p. 689-713. Brasília, 2005.

 

FIGUEIREDO, L. (org.). Lygia Clark_Hélio Oiticica: Cartas. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1996.

 

GOLDSMITH, Kenneth. Copiar é preciso, inventar não é preciso. [Entrevista a] Giselle Beiguelman. Desvirtual [Online]. Disponível em: https://desvirtual.com/text/copiar_eh_preciso.pdf

 

HALLEY, Peter. Notes on Abstraction. Arts Magazine, New York, Vol. 61, June/Summer 1987.

 

KOSUTH, Joseph. Arte depois da filosofia. In FERREIRA, Glória, COTRIM, Cecília. (Orgs.). Escritos de artistas: anos 60/70. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2006.

 

 

MORAIS, Fabio. Palavras para serem vistas: a linguagem na arte dos anos 1960. Uma resenha. ¿Hay en portugués?, nº6. Florianópolis: Plataforma par(ent)esis, 2016.

 

MORESHI, Bruno. A arte de ver: em cartaz extintores e afins. Revista Piauí. Edição 28, Jan./2009. Disponível em: https://piaui.folha.uol.com.br/materia/a-arte-de-ver/

 

RIBAS, Cristina. Vocabulário político para processos estéticos. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 2014. Disponível em:

https://vocabpol.cristinaribas.org/

 

RIVERA, Tania. O retorno do sujeito e a crítica na arte contemporânea. In.: FERREIRA, Glória; PESSOA, Fernando (Org.). Criação e Crítica. Seminários Internacionais Museus Vale. Vila Velha: Museu Vale, 2009.

 

TINOCO, Bianca Andrade. A crítica de arte nos jornais de 1955 a 2005: o caso carioca. Anais do III Encontro de História da Arte - IFCH/UNICAMP. Campinas, 2007.

 

ZANINI, Walter. O museu e o artista. In. FREIRE, Cristina (org.). Walter Zanini: Escrituras críticas. Org.: Cristina Freire. São Paulo: Annablume; MAC USP, 2013.