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Escravidão, eugenia e arte afro-brasileira serão temas de encontros na Semana da Consciência Negra

Por Fernanda Rezende para o IEA/USP em 14/11/2019

As gentes

"As Gentes'', de Rosana Paulino, uma das expositoras do encontro do dia 21

Na semana em que se celebra a Consciência Negra, os 17° e 18° encontros da Jornada Relações do Conhecimento entre Arte e Ciência: Gênero, Neocolonialismo e Espaço Sideral trarão discussões relacionadas ao tema. As atividades são abertas ao público e com transmissão ao vivo pela internet.

No dia 21, às 14hEtnologia e Escravidão: (Des)compromissos da Ciência com a Liberdade abordará a carreira da artista Rosana Paulino, que tem se dedicado a um vocabulário plástico para dar conta de como o processo de escravização se apropriava dos corpos negros.

Além de Rosana, participarão do debate o neurocientista Sidarta Tollendal Gomes Ribeiro, diretor do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte; e o curador Helio Menezes, que falará sobre  a arte afro-brasileira contemporânea. Paulo Herkenhoff, um dos titulares da Cátedra esse ano, será o moderador. Também será exibido o vídeo “Vila Rica”, do Grupo EmpreZa.

No dia 22, também às 14h, o encontro Técnicas de Apagamento e Reconstrução da Memória da Escravidão nos Espaços de Eugenia Urbanística discutirá as inúmeras técnicas de controle social que já foram propostas para tentar ocultar a cultura negra e os sítios fundamentais da história da escravidão, como a ideia de Rui Barbosa de destruir os arquivos da escravidão como modo de apagar a chaga do cativeiro, a teoria do embranquecimento e a apropriação de padrões afro-brasileiros por discursos de exotização.

Para falar do assunto, estarão presentes os artistas Jaime Lauriano, que reconfigura a memória da escravidão em mapas do Brasil ou plantas do centro de São Paulo, e Rommulo Vieira Conceição, que reivindica o direito a trabalhar sobre qualquer pauta como qualquer outro artista. Eles discutirão se é tarefa do artista afrodescendente estabelecer um foco em questões de sua origem e as alianças necessárias à discussão da dimensão afro do Brasil. Também avaliarão como a exclusão dos negros afeta os campos da arte, da academia, da crítica e da ciência.

Também integrarão o debate o curador Igor Simões, que falará sobre eugenia e o papel do curador afro-descendente; a química Anna Maria Canavarro Benite, para abordar a produção de ciência afrodiaspórica; e Giselle Beiguelman, que discutirá o caso da vereadora assassinada Marielle Franco. Herkenhoff será o moderador.

Homenageados

No encontro do dia 21, a homenageada será Lélia Gonzales, antropóloga que faleceu prematuramente, "mas viveu o suficiente para resistir à ditadura e implantar perspectivas avançadas de compreensão do legado histórico africano no Brasil contemporâneo", segundo os organizadores da Jornada.

No dia seguinte, a homenagem será a Manuel Querino e Abdias do Nascimento. Manuel Querino foi um abolicionista e historiador da arte que criou o mais radical corte analítico na história da arte brasileira, que é o reconhecimento do valor estético dos objetos de culto dos orixás. "Essa posição, no início do século 20, resistia às teorias de embranquecimento e antecipava ideias europeias sobre art nègre, numa compreensão que o próprio modernismo brasileiro não atingiu plenamente", explicam os organizadores.

Abdias do Nascimento, nascido em Franca, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde criou o Teatro Experimental do Negro e tornou-se ativista cultural cultural. Sua resistência à ditadura de 1964, o levou ao exílio nos Estados Unidos. Lá, além de lecionar, desenvolveu sua pintura e fez contatos políticos com os black panthers. Grande referência para a emancipação dos negros no Brasil, foi eleito senador pelo Rio de Janeiro na abertura democrática do país.

Fonte: http://www.iea.usp.br/noticias/escravidao-eugenia-e-arte-afro-brasileira