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Equipo Crónica

Paula Braga identifica pontos de encaixe entre Histórias paralelas e similares a partir de exposição ocorrida na Pinacoteca: “Fica claro que estudar o pop brasileiro exige não só uma referência ao pop norte-americano mas também um mergulho na produção artística que ocorreu em países que, como o Brasil, receberam a influência de Warhol e Lichtenstein durante uma ditadura.”

Equipo Crónica, Serigrafia, 53,7 x 71,2cm

 

No dia 26 de março encerrou-se a exposição do Equipo Crónica na Estação Pinacoteca. O catálogo da exposição, produzido pelo IVAM (Instituto Valenciano de Arte Moderna), deve garantir que os ecos da mostra continuem a reverberar na pesquisa feita no Brasil sobre a arte dos anos 1960 e 1970: depois dessa mostra, fica claro que estudar o pop brasileiro exige não só uma referência ao pop norte-americano mas também um mergulho na produção artística que ocorreu em países que, como o Brasil, receberam a influência de Warhol e Lichtenstein durante uma ditadura. Não deve ser apenas por acaso que essas pinturas e serigrafias feitas por Manuel Valdés e Rafael Solbes durante a ditadura de Franco tenham ficado tão bem instaladas no Brasil justamente naquele prédio do centro de S. Paulo que hoje conhecemos por Estação Pinacoteca.

Equipo Crónica 1

Guerrilleros, 1966, guache sobre papel, 40 x 55cm

 

Entrando nas salas dessa exposição tinha-se uma sensação de grande familiaridade com as obras, não só porque as composições do Equipo Crónica citam obras famosas da história da arte – Picasso, Leger, Hausmann, Duchamp, Goya, Lichtenstein, Velázquez... - mas principalmente porque já vimos uma apropriação parecida dos aspectos formais do pop americano nas obras de Maurício Nogueira Lima, Regina Silveira e Júlio Plaza, Carlos Vergara, Antônio Dias ou Gershman. Ou talvez algumas dessas pinturas pareçam tão familiares pelo tema explicitamente político. Ou porque várias delas incluem textos, frases que explicam a composição, legendas identificando personagens, flechas apontando um detalhe na tela que não deve passar desapercebido. Ou ainda, talvez as obras da dupla valenciana aproximem-se tão facilmente do espectador por serem simplesmente muito bonitas, irresistíveis. É portanto de várias formas que a produção do Equipo Crónica é pop: popular por ser compreensível por vários tipos de leitores. A montagem feita na Estação Pinacoteca reforçava a facilidade de acesso e leitura das obras ao colar na parede, ao lado das etiquetas de identificação, pequenas reproduções dos quadros citados nas composições de Valdés e Solbes.

 

O catálogo reproduz em grandes pranchas as 16 pinturas, duas esculturas e 41 obras sobre papel do acervo do IVAM que estiveram na Estação Pinacoteca. A qualidade da pesquisa feita com essa coleção transparece nos belos textos que acompanham cada prancha e na completude dos ensaios de Barbara Rose, Michele Dalmace e do curador da exposição, Facundo Tomás, salpicados com pequenas reproduções de obras de outras coleções. Faltou apenas um texto que aproximasse a produção do Equipo Crónica com o pop brasileiro, o que não constitui falha mas sim generosidade: a exposição cedeu esse grande tema a quem queira sobrepor duas histórias e identificar os pontos de encaixe.

 

(por Paula Braga)

 

Equipo Crónica 3

Guernica, 1971, Serigrafia, 75,3 x 55,4 cm

 

Saiba mais sobre a exposição: /espanha_boletim

 

Partenheimer e o desenho do desenho, de Laymert Garcia, é outro texto escrito a partir de exposição ocorrida na Pinacoteca do Estado de São Paulo que levanta questões sobre representações de nosso real a partir de um olhar estrangeiro. Mas ler o artigo de Rafael Polar El efecto Philco neste contexto é experimentar uma via de mão dupla entre a percepção de nossa cegueira quanto à América Latina e a pertinência de um olhar estrangeiro ácido em relação à nossa própria cultura