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O Museu e sua Função Cultural

O artista e poeta Almandrade comenta a transferência da responsabilidade cultural para a iniciativa privada e o processo de transformação dos museus em instituições de entretenimento.

Almandrade

O homem está sempre preocupado em preservar sua história e sua memória. Ele tem acesso ao seu passado através de relatos ou depoimentos de testemunhas oculares, documentos, textos, etc. Ou quando se defronta com as imagens que habitam um museu. Com isso, não quero dizer que o museu é um caminho em direção ao passado, ele é um lugar de possíveis diálogos entre passado, presente e futuro. Um abrigo do velho e do novo. Mas do que uma instituição destinada às festinhas de vernissagens, ele tem um papel cultural importante, além, abrigar os registros do tempo, é um veículo a serviço do conhecimento e da informação que contribui para o desenvolvimento da sociedade.

Desde quando a política e a economia reservaram à cultura um espaço quase que insignificante, dentro das prioridades da vida urbana, interesses alheios comprometeram o funcionamento das instituições culturais. A cidade precisa de tecnologias, partidos políticos, técnicos, políticos, empresários, especialistas, etc., mas acima de tudo, precisa de uma tradição cultural e do exercício da cidadania, para que ela própria signifique. Um museu guarda mais do que obras e objetos de valor e de prestígio social, uma situação, um fragmento da história, portanto um problema cultural. Tudo que nele é exibido deve ter um compromisso com o conhecimento, a memória e a reflexão. Sua programação não deveria ser decidida por patrocinadores que tem como objetivo final vender produtos muitas vezes até desnecessários e circular uma imagem de que está contribuindo para o “desenvolvimento cultural”.

Um museu deve ser um centro de informação e reflexão, onde o homem se reencontra com o belo, a história e a memória. Mas sem um projeto cultural que valorize seu próprio acervo e o que nele é exposto, sem deixar que eles se transformem em suportes para marcas publicitárias, o museu é apenas um lugar que atrai olhares dispersos, sem interesses culturais. Sem recursos financeiros e depois que a responsabilidade cultural foi transferida para a iniciativa privada, os museus vem se transformando em instituições de entretenimentos para atrair um grande público consumidor da marca que patrocinou os seus eventos.


Almandrade é  artista plástico, arquiteto, mestre em desenho urbano e poeta

www.expoart.com.br/almandrade
http://www.imperios.com/monse/escultor/almandrade/almandrade.htm
www.provadoartista.com.br/almandrade.html

 

As contradições e complexidade da condição atual do Museu podem ser lidas em O Museu de Arte hoje, assim como a afirmação de seu propósito politico mais premente: “Uno de los mayores retos que afronta la cultura contemporánea, y por extensión el arte en todas sus modalidades y prácticas, es la de constituirse como un espacio público válido”. Por Chuz Martinez em Como aprender del arte a la hora de reinventar nuestro espacio social.