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Sobre Vital: entrevista com Thiago Bortolozzo

 

Em entrevista ao Fórum Permanente, Thiago Bortolozzo se coloca a respeito de seu trabalho Vital Brasil e sua relação com arquiteturas e contextos institucionais.

 

Giberto Mariotti: Parece que Vital Brasil, enquanto projeto, toma novas conformações de acordo comos espaços em que acontece. Você "direcionou" os projetos a certas instituições por conta de seus projetos arquitetônicos específicos, ou poderia, a princípio, pensar o projeto em conversa com qualquer "arquitetura"?

 

Thiago Bortolozzo:  A vontade do projeto Vital Brasil é de ser cru e aparente, revelando as estruturas e andaimes que geraram os desenhos da Arquitetura. Quando iniciei os projetos o trabalho poderia dialogar com elementos de qualquer arquitetura, como colunas vigas, paredes e pisos.

Com a apropriação das estruturas das escoras de concreto (elemento que tem a função de moldar o concreto armado dentro do contexto da construção civil)  esta implícita a relação com o material bruto, portanto os espaços que apresentam esses elementos sem camadas ou sobreposições de texturas, seriam os melhores onde o trabalho se adequava.

O uso das estruturas das escoras em contato com a Arquitetura propunha novas configurações a esta, gerando diferentes reverberações a partir do contexto da exposição, características do lugar e questões culturais, ligadas ao publico do Museu.

Na maioria dos espaços onde o trabalho foi realizado eu possuía um conhecimento prévio de suas arquiteturas e estes foram eleitos, como possíveis lugares para as intervenções. Mas tal “eleição” significava também ser aceito pelos jurados de salões, editais e curadores e também negociar com a produção e Museografia das Instituições.

 

G.M: Em que medida, a partir de uma primeira idéia de intervenção, as arquiteturas destes espaços mostravam resistência a ponto de te fazer mudar ou reorientar o  projeto?

 

T.B: Cada projeto Vital Brasil realizado propunha dentro do espaço expositivo um “canteiro de obras”, um instante de realidade para relembrar ao espectador que ele é parte primordial na construção do significado da obra de arte.

No entanto, certas instituições com espaços de características cubo branco ou aquelas com forte Museografia, onde os elementos da arquitetura costumam ser escondidos, alteravam os modos como os trabalhos agiam  no espaço.

Também os contextos, a abrangência da exposição e o lugar da exposição,  alteraram o modo como os trabalhos se relacionavam com a arquitetura e por conseqüência  com espectador.

Tendo a cada novo espaço suas especificidades, precisava sempre mudar as estratégias de relação dos trabalhos, com estas qualidades do lugar.

 

G.M: Citando sua resposta anterior: um instante de realidade para relembrar ao espectador que ele é parte primordial na construção do significado da obra de arte.

Gostaria de saber mais sobre esse objetivo em relação ao espectador. Você vê, na forma do trabalho, um potencial para a criação dessa autoconsciência por parte do público?

 

T.B: Esta autoconsciência que acredito existir no trabalho, acontece,  devido aos trabalhos gerarem um atrito entre objetos do mundo que estão a serviço de uma construção  e o espaço da Instituição ou Museu. Este estar em obras gerava no público indagações e questionamentos, que impunham a este um posicionamento na construção do significado ou função do trabalho, no entanto, isto acontece em diferentes níveis com diferentes públicos, de acordo com especificidades culturais e sócias do espectador,  que eu não posso mensurar.

 

G.M: Esta seria a função de uma intervenção crítica na instituição museológica?

 

T.B: Talvez uma crítica a volubilidade das políticas de cultura públicas e privadas no Brasil e suas funções sociais, sempre neste estado de construção de uma base sólida.

 

G.M: Em que medida esta consciência da percepção depende de uma problematização do espaço arquitetônico?

 

T.B: O espaço da arquitetura delimita o espaço do museu, este lugar onde o publico já espera encontrar um universo a parte, por mais que o espaço se altere para receber exposições, é a arquitetura do espaço que permanece.

 

Para o projeto Vital Brasil o espaço arquitetônico, era elemento importante para a intervenções e dependia deste atrito com a arquitetura para gerar um estado de suspensão dos conceitos do público em relação ao espaço do Museu.

Instaurando este estado de incerteza naquilo que o Museu, possuía de mais sólido quanto suas características de perpétuo e perpetuar.

 

G.M: Gostaria de saber também como você chegou ao título Vital Brasil. Ele veio como elemento do trabalho no tempo do projeto?

 

T.B: O título surgiu no início dos trabalhos, em meus estudos sobre arquitetura, entendi o sistema de escoras como sendo uma parte da construção que é  vital para o concreto armado em conseqüência para a arquitetura, e pensando no arquiteto Vital Brasil surgiu o nome, que  refletia os modos de construção bem como a utopia da arquitetura modernista.

 

G.M: Acha que este nome é emblemático de uma situação ou relação que os projetos propuseram às instituições em que ele aconteceu?

 

T.B: Acredito que o nome tem muita importância na construção de um sentido para o trabalho. A vontade que o trabalho possui, de alterar por determinado período de tempo os espaços, de propor a este nova configuração, de se adequar a novas situações e circunstâncias, reflete um pouco do modo de vida no Brasil, sempre neste estado de construção onde devemos sempre inventar novas maneiras de sobrevivência.