O limiar entre ficção e realidade na exposição “The Fourth Wall”

O limiar entre ficção e realidade na exposição “The Fourth Wall”

Reconhecido pelos trabalhos que tratam de questões sócio-políticas, o artista alemão Clemens Von Wedemeyertraz ao Brasil, com apoio do Goethe-Institut e o Paço das Artes, a exposição “The Fourth Wall – A quarta parede”.

Oprimeiro contato entre o homem branco e civilizações longínquas é o ponto de partida para uma das obras mais extensas de Clemens Von Wedemeyer, a exposição “The Fourth Wall – A quarta parede”, em cartaz no Paço das Artes, de 4 de outubro a 2 de dezembro.

Tendo como ponto de partida o mito em torno dos Tasaday, uma tribo supostamente descoberta em 1971 na selva da Ilha de Mindanao, nas Filipinas, “The Fourth Wall” é composta por oito diferentes fragmentos de filme, todos fazendo referência ao primeiro contato de antropólogos e exploradores com grupos de pessoas vivendo em selvas remotas, que nunca tiveram contato com a civilização ocidental. Cartazes, fotografias e livros completam a exposição.

Mais do que formular uma conclusão sobre a tribo Tasaday, a exposição confereao expectador o papel de detetive ou explorador, tecendo uma fascinante e elaborada teia entre fato e ficção ao redor da noção de “primeiro contato”.O título da exposição faz alusão à barreira imaginária entre atores e público que deve existir para que uma apresentação pareça real.

Os Tasaday: mito ou verdade?

Os Tasaday, um grupo de 26 pessoas,foram encontrados na floresta de Mindanao, uma ilha ao sul das Filipinas. Antes de serem descobertos, em 1971, seu modo de vida se manteve aparentemente afastado do contato com outras civilizações e intacto desde a Idade da Pedra. Homens das cavernas que trajavam apenas folhas e que usavam ferramentas de pedra, os Tasaday se tornaram tema espetacular para fotógrafos, repórteres e antropólogos na época.A história inspirou filmes e livros e delineou a imagem do Filipino para o exterior, tendo influenciado até o movimento hippie e os movimentosde retorno à natureza.

O excêntrico e polêmico milionário, Manuel Elizalde Junior, chefe de uma agência defensora das minorias nas Filipinas, a Fundação Panamin, criou uma reserva para evitar a exploração da região da floresta tropical, habitat natural dos Tasaday, e estabeleceu controles sobre a mídia e a investigação científica, com o objetivo de preservar seu modo de vida, linguagem e alimentação. Em 1972, o regime de Ferdinand Marcos declarou a reserva área restrita. No mesmo ano, a declaração da lei marcial nas Filipinas fez com que para muitos anos se tornasse difícil o acesso a Mindanao.

Até que, em 1986, 15 anos após a descoberta dos Tasaday, um jornalista à procura do grupo, conseguiu chegar às cavernas, então abandonadas. Próximo dali encontrou o grupo vivendo em casas, fumando cigarros e vestindo calças jeans. Uma vez mais, o grupo foi alvo de manchetes, dessa vez, porém, faltava clareza à sua história. Será que o grupo isolado na floresta mudou tão radicalmente em 15 anos, ou em um período anterior, eram atores que haviam encenado tudo? Conferências internacionais de antropólogos ansiavam por averiguar a verdade.

As opiniões sobre a autenticidade dos Tasaday eram controversas. Alguns consideram a descoberta da tribo uma fraude encabeçada pelo governo de Ferdinand Marcos para desviar a atenção de seu regime opressivo. Outros consideram implausível que um grupo de camponeses poderia representar a vida na idade da pedra de maneiratão convincente de forma a enganar os repórteres ocidentais e até os antropólogos. Controvérsia e inconsistência acompanharam a maioria dos argumentos.

Mesmo após o parlamento das Filipinas ter emitido um anúncio declarando a autenticidade dos Tasaday, muitas pessoas hoje permanecem incertas e algumas delas acreditam que eles eram nada mais do que uma das maiores fraudes na história da antropologia.

Sobre Clemens Von Wedemeyer

Questões sociais, das relações de poder e os rastros da história em nosso cotidiano são recorrentes no trabalho de Wedemeyer e suas experimentações imagéticas: filmes estruturados em torno de uma narrativa, reflexões e experiências em cinema, instalações multi-canal. O artista move-se com frequência entre os campos da arte e do cinema.

Nascido em Göttingen, em 1974, Clemens Von Wedemeyer vive e trabalha em Berlim e Leipzig. Estudou fotografia e comunicação em Bielefeld e foi mestrando de Astrid Klein na Escola de Artes Visuais de Leipzig. Participou de inúmeras exposições individuais e em grupo, na Alemanha e no exterior. Seus trabalhos foram expostos, entre outros, no MoMA PS1 em Nova York, na Barbican Art Galleryem Londres e na Skulptur Projektede Münster, além da documenta (13). Além disso, os trabalhos de Wedemeyer foram agraciados várias vezes com bolsas e prêmios internacionais, como o prêmio de artes Böttcherstrassede Bremen (2005), o Award for Experimental Film and Video-Art (2002) e o Marion ErmerPrize em Leipzig (2002).Trabalhos como The Fourth Wall (2009-2010), RienduTot (2006) e Occupation (2001) tratam das noções básicas das produções e apresentações cinematográficas.

Serviço

EXPOSIÇÃO “THE FOURTH WALL“ | A QUARTA PAREDE
DE CLEMENS VON WEDEMEYER
Visitação 05 de outubro a 02 de dezembro de 2012
[terça a sexta, das 11h30 às 19h]
[sábados e domingos, das 12h30 às 17h30]
Paço das Artes
Avenida da Universidade, 01
Cidade Universitária, São Paulo (11) 3814 4832

Educativo
Agendamento de visitas para grupos
(11) 3814 4832 ou [email protected]
Mais informações: www.goethe.de/saopaulo ou www.pacodasartes.org.br