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Transcrição - Mesa de Debate - About Academia e o debate STEM & STEAM

Quarta e última mesa do ciclo de debates acerca da exposição About Academia de Antoni Muntadas. Mediação: Guilherme Ary Plonski / Participantes: Soraya S. Smaili / Marcos Buckeridge / Antoni Muntadas e Martin Grossmann
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Martin Grossmann

Muito bom dia a todos, "todes" e a todas, é um prazer enorme tê-los aqui mais uma vez no IEA, em especial nessa série de debates que estão ocorrendo desde o primeiro semestre, de abril, quando nós lançamos a exposição. "About Academia", uma interpretação online do artista catalão, espanhol e até norte-americano Antoni Muntadas, que há muito tempo coopera ou trabalha e vem desenvolvendo projetos obviamente de escala global, mas com uma forte relação com o Brasil, como é esse caso em relação a esse projeto que nasceu em Harvard, nos Estados Unidos, onde foi a primeira exposição e que tem também corrido o mundo e em alguns espaços de arte, discutindo basicamente essa relação entre academia, que é um conceito talvez mais abstrato, mais filosófico, e a universidade, que é esse lugar de ensino superior, de uma pesquisa científica. O trabalho do Muntadas, então, interessa muito esse tensionamento entre o papel da universidade mais essa abrangência maior do conceitual e filosófica da academia.

Desde abril, iniciamos com três debates: que universidade queremos, uma problematização de um projeto global, que é a Intercontinental Academia, da rede Ubias, University-Based Institutes for Advanced Study, e também uma discussão sobre universidade, universalismo da universidade e a sua relação contextual, sua relação que pode ser local, regional, nacional, mas também é territorial, de certa maneira. No debate que encerra essa sequência de encontros e mesas redondas, nós estamos trazendo um questionamento que vem, talvez, mais da formação escolar, do papel da ciência nessa formação, esse tensionamento mais uma vez dos STEM e dos STEAM, de uma estrutura dos STEM, que é muito mais ligadas às ciências, às tecnologias, a matemática, e os STEAM é quando há a inclusão da arte nessa discussão.

Então, o que estará em jogo hoje, é a questão do papel da arte. A mediação cabe ao nosso diretor do Instituto, Guilherme Ary Plonski, que agradeço imensamente, nós do projeto agradecemos imensamente o envolvimento do Ary desde o início da exposição. Uma exposição que, originalmente, era para estar na Biblioteca Brasiliana da USP, no Campus Butantã, mas que devido à pandemia, foi transferida. Então, é por isso que há uma tradução, o processo de tradução de uma exposição física, um espaço de exposição, para a virtualidade que, como tantos outros projetos também fizeram.

Então, a mediação será pelo Guilherme Ary Plonski, com a participação do artista Muntadas, que mais uma vez, Muntadas, agradecemos a sua cooperação, o seu envolvimento, o seu, enfim, essa parceria que permitiu que fizéssemos essas várias mudanças e pudéssemos também desenvolver um debate como esse que teremos hoje.

E agradeço em nome de todos aqui, do IEA e do Fórum Permanente, a participação de Soraya Smaili, que foi reitora da Unifesp, mas que está... Participa ativamente na discussão da universidade, mas não só aqui e agora, mas nessas projeções de universidade no futuro, assim como Marcos Buckeridge, colega de longa data, que também no IEA tem essa esse perfil, o seu perfil interdisciplinar, bastante aberto e permeável com outras áreas do conhecimento. Também, na sua prática, como biólogo, e gestor, tem uma relação muito importante nessa possibilidade da interdisciplinaridade e até talvez a transdisciplinaridade que o IEA é um grande fomentador.

Então, eu desejo a vocês um excelente debate, mais uma vez agradecendo a presença de vocês e, obviamente, da audiência nesse momento, aqueles que nos acompanham e à toda a equipe do IEA de apoio e também do próprio Fórum Permanente, no caso aqui, o Diego.

Ary Plonski

Muito obrigado, Martin, retirando os agradecimentos que o Martin já fez, mas incluindo um agradecimento ao professor Martin Grossmann, que foi o idealizador, organizador e animador, eu diria que desta festa intelectual e sensorial, que é participar; mais do que assistir, participar da exposição, a "About Academia" do Antoni Muntadas. Eu vou direto ao meu papel de mediador. Na verdade, eu diria que mediar não é bem o termo, porque ninguém vai brigar aqui para eu ficar no meio e separar, mas talvez de, enfim, participante da conversa que acontecerá daqui a alguns minutos. Me permito, então, fazer três comentários.

O primeiro comentário é dizer, em adição ao que o professor Martin já expôs, que essa transposição da exposição presencial, que seria na Biblioteca Brasiliana, - a quem agradecemos sempre a disponibilidade e a parceria -, para o modelo virtual, fez com que nós tivéssemos, então, uma presença expressiva, um número de visitas expressivo, quase três mil, um pouco menos que três mil. Mas o que impressionou, o Diego acabou de comentar isso enquanto estávamos aguardando para iniciar a reunião, que mais de 40% desses visitantes são do exterior, o que volta ao tema do interesse em global, que traz a exposição tão especial que o Antoni Muntadas preparou.

O segundo comentário é um comentário relativo ao fato de que a exposição continua, se eu não me equivoco, até 31 de dezembro, não é isso? Então, eu acho que ainda podemos fazer um esforço de divulgação agora nesse momento, esse evento é parte desse esforço, mas para conseguir que mais gente possa se inspirar no material coletado e também apresentado pelo Antoni Muntadas para poder, enfim, valorizar ainda mais esse trabalho que é feito e compartilhado conosco.

O terceiro e último comentário prévio, é que talvez, - eu penso, Martin, você me corrija se eu estiver equivocado -, mas eu penso que essa reunião de hoje saiu um pouco em função da conversa que tivemos depois dos primeiros eventos, em que os eventos foram absolutamente importantes e, vendo a exposição do Antoni Muntadas, um dos comentários que eu fiz além do elogio e do prazer intelectual e sensorial que é participar da exposição, mas é que havia, de certa maneira, uma carência nas falas de pessoas que não fossem das áreas de humanidade e ciências sociais, e que a arte... Não que não fosse, vamos dizer assim, desejável que essas falas todas tivessem ocorrido, mas que precisaríamos ouvir também e ver outros olhares. O Martin conseguiu capturar a agenda, o interesse e principalmente a agenda da professora Soraya e do professor Marcos Buckeridge, que são ambos da área do que poderíamos chamar das biológicas.

A professora Soraya na área de farmacologia e o professor Marcos Buckeridge na área... Também é diretor do nosso Instituto de Biociências aqui na USP, e que ambos são pessoas de visão global, institucional, dedicadíssimos. A professora Soraya fez duas gestões como reitora da Universidade Federal de São Paulo, 2013 a 2017 e 2017 até esse ano há poucos meses, e se me permite, não vou elogiar todas as realizações, conheço algumas da sua gestão, mas eu não posso me furtar de mencionar uma que é a criação do Instituto de Estudos Avançados Convergentes, o IEAC, instituído na Unifesp durante a sua gestão. O processo foi muito inteligente. A universidade chamou o Professor Renato Janine Ribeiro que foi, por muito tempo, conselheiro aqui do IEA, para ser professor visitante da Unifesp e a missão que ele recebeu foi de germinar o IEAC.

Então, eu queria cumprimentar. Participei recentemente de uma reunião lá, está muito dinâmico e é um desafio também porque a Unifesp, que começou na Escola Paulista de Medicina, acabou sendo uma instituição multi campi, não é? São José dos Campos, em Guarulhos e Osasco. Enfim, então é um desafio ter um instituto com tantos campi. Nós temos três: São Carlos, Ribeirão Preto e São Paulo, mas o da Unifesp não é pequeno esse desafio.

E o professor Marcos Buckeridge, como já foi dito pelo Martin, ele é uma pessoa que vem da área das biológicas, por assim dizer, muito interessado no campo da flora, das florestas, das árvores. Mas, que tem uma visão estratégica e inovadora em formas de pesquisa. Eu aprendi pelo professor Buckeridge o modelo que o programa USP Cidades Globais que ele coordena, adotou, é que é o modelo de centros de síntese. Ou seja, a ideia de que existe já muito conhecimento primário, como você organiza e traduz esse conhecimento de uma forma que possa gerar valor para a sociedade.

E aí, eu termino é fazendo a conexão e para passar a palavra para a nossa figura central, Antoni Muntadas, para dizer que justamente o que me chamou muito atenção e foi um objeto até de uma pergunta durante os debates no começo desse ciclo, é que foi uma preocupação que o Antoni teve com relação às universidades norte-americanas, que foram o foco principal do olhar dele, que é a questão do público e do privado. Porque, de fato, a presença do privado no sistema universitário americano é muito alto, não só porque instituições como Harvard são, vamos dizer assim, privadas, mas porque as questões de valor na universidade americana são muito... Talvez às vezes diferentes do que nós olhamos por aqui. Eu vou dar dois exemplos e com isso eu termino a minha fala introdutória.

Um exemplo é de natureza mais macro e o outro é micro. O macro é o seguinte: nesse momento, na verdade, antes de ontem, a informação que descobrimos, o valor total da dívida que as famílias americanas têm... Norte-americanas têm para que os seus filhos e filhas cursem "college", façam o ensino superior de algum dos formatos que estão lá, é de US$ 1.75 trilhões. Não são milhões, não são bilhões, são trilhões de dólares. O que são 43 milhões de estudantes e as famílias devem para bancos, para sistemas de financiamento com alguma apoio do governo federal americano, mas devem essa quantidade que, para nós, é até difícil de entender. Ou seja, é uma outra lógica. Nós temos as nossas questões aqui no Brasil, mas só dizer que são lógicas de operação diferentes, e por isso eu entendi muito bem quando o Antoni chama a atenção do público e do privado.

E a segunda, é uma experiência, se me permitem, micro. Eu estive lá um tempo, fiquei também nos Estados Unidos como pesquisador visitante e a minha parceira principal na universidade onde fiz esse estágio, tive essa passagem, enfim. Conversando com ela, ficamos bastante amigos e, conversando, eu perguntei mais ou menos por volta de junho, julho... O ano acadêmico começa em setembro e que disciplinas ela daria no ano que vem, que cursos ela daria no ano seguinte.

E ela falou: "Não, ano seguinte eu não vou dar curso nenhum", mas eu perguntei o que aconteceu, "É o sabático?", "Não, não é o sabático. O que aconteceu é que eu recebi...", como eu já sabia de fato, "...você sabe", ela disse, "eu recebi a confirmação de que um grande apoio, um grande grant me foi dado para coordenar e, portanto, eu vou me dedicar o ano próximo e o outro ano a esse projeto". Falei: "Bom, mas e quem vai dar aula por você?", "Eu", disse ela, "contratei um professor sob minha responsabilidade e que vai dar aula em meu lugar."

Eu disse... Pensei se uma ideia dessas, não é, professora Soraya e professor Marcos, uma ideia parecida com essa fosse sequer pensada por aqui, a pessoa já estaria no mínimo com sindicância. No mínimo. Isso lembra uma placa em Nova York que é lá na região dos brasileiros: "Don't even think of parking", "Nem pense em estacionar aqui", nem pense nisso.

Enfim, só dizer que quando o Antoni fez a exposição que, de novo, é uma coisa maravilhosa, alguns focos são focos bem norte-americanos e com questionamento forte pelas humanidades. A questão do Vietnã e tudo isso que ele traz, no Noam Chomsky, etc. E nós temos as nossas questões, mas então, uma dessas questões era que seria bom se tivéssemos também o olhar de áreas que são não a área das humanidades e ciências sociais para enriquecer. Então, nós temos novamente a professora Soraya e professor Marcos, mas a primeira exposição, primeira fala, por favor, professor Antoni Muntadas. Eu falo "professor" porque você nos ensina e ensinou muito com essa exposição.

 

Antoni Muntadas

 

Quiero agradecer a todo el mundo que ha colaborado se proyecto y que ha activado el proyecto especial mente a Martin Brofman que entendió cuando supo de este proyecto, el poderlo presentar en la librería Brasilia era brasiliana y que luego por la del apademya, hubo que inventarse otra forma que es interesante porque yo creo que el inventar formas de comunicación en este caso convertir interpretar traducir about Academia de analógico físico a virtual a sido una experiencia muy interesante y os agradezco, quiero agradecer a Ari quiero agradecer a la última en general, por está cogida y Tech escucharme que

No hable portugués, sino ni por tu no, porque estoy dando clases en Venecia en italiano, sería demasiado ya que sería un embrollo bien lo que quiero introducir el tema de about Academia es que para mí about Academia se inicia primero, por me interesa la educación interés en la educación interés en que la los elem entos y el acceso a la educación sea lo más abierto posible y evidentemente está educación empieza por una educación básica y se va de una manera más específica haciéndose a lo que llamó aquí llegando a lo que es la Universidad Academia es una red.

Si hay Academia en un sentido Makro pero en el fondo habla de que es la universidad que durante 40 años he participado en la Universidad Americana me hizo pensar de cuál es las partes positivas creativas de enseñanza. Llegue estado trabajando donde Martín porque así decía 40 años y recibiendo una propuesta de Harvard para hacer un proyecto pensé que era el momento de autorreflexión y reflexión en general sobre la educación en un sentido de una universidad que tiene accesos muy amplios de muchos estudiantes de parte del mundo aparte de los americanos pero que también.

la situación en que la cuestión de coste económico que lo que hablaba antes Ari es a veces llega la sumas de escandaloso, aunque aparecer historias interesantes como ayer me entera, qué departamento de arquitectura de Maite está haciendo un esfuerzo para convertirlo en gratuito, eso sería una buena buena buena noticia porque hay muy pocos instituciones en América había Cooper reunión y se volvió a pagamento en fin, yo creo que son situaciones que el acceso que yo lo que creo que es importante a que todo el mundo tenga acceso a la universidad es difícil estos costes económicos el proyecto Academia se inicia por una serie de entrevistas a

Especialistas por decirlo profesores que han participado durante muchos años en la docencia y que cubrían sobre todo limpio las universidades de Maite y de Harvard al estadio ene Maite y venir el proyecto como una invitación dejarla me parecieron que era centrarlo en Cambridge para luego poco a poco abrirlo a otras universidades en wayuu y Princeton etcétera, lo que tengo que decir repetido muchas veces que esto es un proyecto que cuando se presentan al exterior tiene que activarse como Martín entendió perfectamente con mesas redondas con conversaciones con accesos a contexto y poder discutir este modelo no?

Críticamente y ver qué es un modelo americano pero no sirve en cualquier lugar no es un buen modelo para ningún lado ni pareja, ni siquiera para para Estados Unidos hay que criticar lo entonces la exposición desde el principio que yo he entendido por las mesas anteriores, es que evidentemente el reloj europeo, el modelo brasileño, modelo latinoamericano está muy distante y cada uno trata de hacer su modelo este proyecto lo voy a presentar a una ciudad de Granada en 10 días y la Universidad grande en España con muchas facultades sobre todo medicina y ahí en la aula de cursa EEUU se va a presentar. Ahora sí físicamente la instalación, pero nos están escuchando hoy no está escuchando porque les dije.

Que por favor, porque en el fondo una extensión a el proyecto que físicamente se hizo las preguntas que durante el proceso de trabajo de horas de academia, se hicieron eran preguntas que empezaba con la pregunta Academia versus universidad privado versus público la importancia de la economía, la importancia de aprender y el conocimiento ha sido unas preguntas que llegaban hasta el final a situaciones más definidas sobre la custion de acceso a de género de étnica las importancias que podían tener la diferente.

Disciplinas y las interdisciplinares y que pensaban la docencia de que cuál podría ser el futuro y que podía ser lo cambio todo esto está registrado en el proyecto que no voy a hablar, pero lo que creo que fue interesante que en un momento dado después de haberlo presentado en Harvard y haber ido a Canadá Holanda cetera tuve la impresión de que faltaba algo faltaba las voces de los estudiantes los estudiantes fueron la segunda parte about Academia d'Or entreviste algunos de mis propios estudiantes y algunos estudiantes de otras universidades el resultado es interesante porque es una visión muy diversa el docente, o sea, nosotros impartimos los otros reciben pero este está manera de recibir.

Se puede hacer de otra manera, quizás se puede ir el resultado de la de los de los de los que eran participantes podríamos llamar estudiante, es casi más crítica que la de los docentes con ello quiere decir que bueno la universidad está en cuestión. La ciudad tiene que volver la universidad te tiene que hacer accesible lo máximo posible a todas las posibilidades de gente educación y 12 si crees Martín que hay alguna cosa específica que crees que debo definir me lo preguntas ahora o más adelante aparecerá, si no agradecen a todo el mundo a todos los participantes hoy y los anteriores  a esa acogimiento al proyecto y esas ganas de participar en una problemática que es tan grande como la universidad.

 

Ary Plonski

Agradeço ao Antoni Muntadas a fala introdutória, que contextualiza o clima no qual ele criou essa exposição, e só queria dizer que as perguntas que você faz são particularmente relevantes no momento que nós estamos aqui na Universidade de São Paulo, no ápice do processo de sucessão reitoral. No dia 25, semana que vem, nós escolheremos o próximo reitor e vice-reitora e, portanto, as perguntas que você faz, "que Universidade queremos", etc. são as perguntas que estão presentes. Muito obrigado mais uma vez. Professora Soraya, poderia nos fazer a gentileza de ser a primeira a contribuir, por favor?

 

Soraya Smaili

 

Bem, antes de mais nada, eu quero agradecer imensamente a essa oportunidade. Gosto muito de estar no Instituto de Estudos Avançados da USP, a USP também, que é a minha alma mater porque me formei na USP embora eu tenha já passado mais do que uma vida inteira na Unifesp, inclusive antes de ser Unifesp, quando ainda era a Escola Paulista de Medicina. Mas é um prazer enorme, Ary, estar com você aqui novamente, poder contribuir se possível com o nosso debate e é um prazer enorme reencontrar o Martin, é sempre muito bom podermos trocar estas informações, experiências e quero agradecer imensamente ao Antoni Muntadas pela maravilhosa experiência.

Eu sou uma daquelas duas mil, três mil pessoas, aproveitei muito a exposição. De fato, entrei e assisti algumas vezes, não só uma vez, e pude fazer alguns paralelos com muitas coisas que eu mesma tenho vivido e vivi nos últimos tempos como reitora da Unifesp. Então, para mim, é uma grande oportunidade poder contribuir, vou tentar contribuir e agradecer também a companhia do Marcos Buckeridge, que eu também agradeço porque estamos trabalhando juntos agora no centro Sou Ciência, que vou falar daqui a pouco, ao final da minha apresentação.

Então, eu quero também trazer alguns elementos, alguns provocativos, mas alguns talvez sejam refrescantes para nós, pensar que nós, em uma universidade brasileira com todas as suas crises e suas dificuldades, também podemos fazer algumas diferenças. Nós também podemos criar algumas coisas para um futuro diferente.

 

Então, eu quero iniciar aqui compartilhando a minha tela e começo. Primeiro, quero dizer que entrei nas duas partes da exposição, About Academia, um projeto magnífico, e alguns pontos chamaram muito a atenção, porque tem um paralelo... A exposição tem o seu conteúdo voltado para as universidades e a problematiza a universidade norte-americana, estadunidense mais especificamente.

Mas, chama a atenção muitas das questões que foram colocadas nas falas e na própria exposição, nos dados apresentados, sobre as questões que nós vivemos hoje também, principalmente no que diz respeito à liberdade de expressão, a dicotomia, contradição entre público e privado, porque é realmente uma disputa que nós vivemos aqui, diferente da dos Estados Unidos, mas é uma questão importante hoje também para nós. A questão da autonomia versus a heteronomia, que hoje estamos vivendo profundamente, em especial as universidades federais, que estão ligadas a um governo que não respeita a autonomia das universidades e a questão do poder econômico na universidade pública brasileira, que hoje eu vejo muito menor, muito mais difícil do que em tempos passados.

Além disso, o quanto a sociedade quer e deseja a transparência no uso dos recursos, mesmo sendo poucos os recursos, tendo tido tantos cortes e também as contradições relacionadas ao ativismo e a excelência acadêmica. Muitos dos nossos colegas muitas vezes nos questionam quando nós temos muito ativismo ou quando nós temos uma atividade política ou engajamento na sociedade. Na verdade, a combinação dos dois é fundamental para a constituição da vida acadêmica.

Quero destacar uma frase de uma das entrevistas, em que a frase dita: "As universidades do século 21 terão que ser totalmente permeáveis". Esta frase bateu muito forte para eu montar essa apresentação, então eu quero destacá-la. Mas antes disso, eu gostaria de fazer essa provocação, que muito se diz no Brasil a respeito da crise da educação superior ou da educação. Darcy Ribeiro, há muitos anos, mencionou que a crise da educação no Brasil não era uma situação de crise, era um projeto.

Então, nós temos sempre essa pergunta porque temos vivido, especialmente na educação superior, momentos de grande instabilidade. Alguns poucos momentos de estabilidade e outros grandes momentos de instabilidade. Então, este conjunto de manchetes dos jornais, esse conjunto é recente, um conjunto que representa bem, mas tem muitas mais manchetes todos os dias, todas as semanas. Nós temos visto o corte das verbas, principalmente a partir de 2006... 2016, perdão, a partir de 2016, do impeachment da presidente Dilma, as universidades federais tiveram realmente uma derrocada nos orçamentos, principalmente.

E também depois, mais recentemente nos últimos dois anos, uma interferência de fato nas suas ações até com medidas de restrição à liberdade de expressão ou mesmo na escolha dos reitores das universidades, que eu também vou mencionar daqui a pouco. Esse quadro é muito representativo para nós, mas nós estamos vindo de uma expansão das universidades no Brasil. Nós tivemos aqui, em azul, nós temos a expansão das universidades federais e, em marrom, nós temos a expansão das universidades particulares, das universidades privadas no Brasil, que teve uma expansão muito maior ligada à educação como uma forma de obtenção de lucros.

Muitas das privadas - não todas, mas muitas delas -, estão voltadas para realmente a obtenção de recursos, de financeiros, mas mesmo assim nós tivemos uma expansão muito grande e estávamos a caminho de atingir a meta 20 do Plano Nacional de Educação, que seria dobrar o número de jovens entre 18 e 24 anos nas nossas universidades até 2023. Isso não vai acontecer, nós estamos estagnados. Pelos nossos cálculos, se continuarmos assim, levará talvez 40 ou 50 anos para atingirmos este patamar da meta 20 do Plano Nacional de Educação. Mas nós fizemos uma grande expansão, especialmente as universidades federais. Nós éramos 48 universidades e hoje são 69 universidades com mais de 400 campi em todo o Brasil, inclusive em regiões bastante interiorizadas do país, longínquas de centros urbanos e isso foi importante porque levou a universidade a diversos lugares.

Hoje, por conta da expansão do sistema de permanência que foi criado, que dá auxílios às famílias mais vulneráveis e também ao sistema de cotas que as universidades federais têm há 10 anos, no ano que vem faremos 10 anos da lei de cotas, nós hoje temos 70% dos estudantes com baixa renda, que são de famílias de baixa renda e que são os primeiros das suas famílias a cursarem a universidade. São mais de 50% de negros e negras nas universidades, nós tínhamos um nível muito abaixo disso há 10 anos e nós temos também muitos que concluíram, mais de 60%, que concluíram o ensino médio em escola pública, são provenientes da escola pública.

 

Além disso, uma característica, acredito que o Muntadas conhece o sistema brasileiro e sabe que as universidades públicas, diferente dos Estados Unidos, são as universidades que fazem muita pesquisa. Mais de 80% dos pesquisadores do nosso país estão nas universidades públicas e são estas universidades que desempenham bem e estão produzindo ciência de qualidade no nosso país. Entre 20 universidades, as mais produtivas e também de qualidade, entre elas, 20 são universidades públicas.

Então, nós temos as federais e também as estaduais, e eventualmente, dependendo do sistema de avaliação, muitas vezes nós temos a PUC, uma comunitária, é diferente e tem uma situação diferente das universidades privadas no Brasil. E estas universidades públicas fazem muita pós-graduação, então formação de novos doutores e formação de pesquisadores. Mas, como eu disse, a situação é bastante difícil.

Nós temos, a partir de 2015 principalmente, e depois 2016 muito mais, uma queda no investimento em educação. Esses são os recursos do Ministério da Educação do nosso país, quer dizer, hoje nós temos menos da metade dos recursos que tínhamos em 2014. Portanto, uma situação de muita dificuldade. Este ano particularmente, em 2021, as federais tiveram um corte de 16% mais ainda, um corte de 16% com um orçamento completamente condicionado ao resultado primário. Ou seja, se o Brasil consegue fazer o resultado primário no teto dos gastos, o orçamento é liberado. Se não consegue, depende de uma aprovação do Congresso Nacional.

Então, é uma situação de instabilidade permanente e com constantes cortes. Além disso, nos últimos dois, três anos do governo Bolsonaro, nós temos tido... Essa é uma matéria do Estado de São Paulo, publicada recentemente, nós temos hoje que 36% dos dirigentes nomeados pelo presidente, dessas 69 universidades, não foram eleitos pelas comunidades. Então, a nossa autonomia que prezávamos tanto e esse é um artigo publicado por mim e outros reitores recentemente também no mesmo Estado de São Paulo, hoje a nossa autonomia, que era respeitada há mais de 30 anos, nós tínhamos um sistema em que o eleito pela comunidade era eleito pelo Conselho Universitário e depois eleito indicado pelo presidente da república. Hoje isso não está acontecendo, o que tem gerado grandes tensões e até crises nas universidades que não tiveram seus reitores eleitos.

Eu quero voltar aqui à nossa About Academia e falar agora da outra parte da exposição e dos pontos que me chamaram a atenção a partir das falas dos estudantes. A Universidade Aberta derrubando muros, o desejo dos estudantes, a conexão com as comunidades, quer dizer, uma forma contínua de atuação, Universidade Aberta com as comunidades do seu entorno, comprometida com os problemas da cidade e isto é também algo que chama a atenção e acredito que nossas universidades terão que caminhar para isso. Derrubando os muros, como já falei, com padrão de qualidade, sim; edifícios, nem tanto, tem uma crítica bastante forte na exposição a partir da fala deles sobre a exploração imobiliária, sobre como a universidade acaba sendo também um foco para a aquisição de edifícios e valorização dos recursos imobiliários do seu entorno.

Mas, também falarmos que é muito mais importante a infraestrutura do que as edificações, quer dizer, infraestrutura para o estudo, para os laboratórios, para a pesquisa é muito mais importante hoje do que as edificações maravilhosas. No Brasil, nós temos, no caso das universidades particulares, algumas delas, que têm edificações que parecem verdadeiros shoppings centers de tão grandes e tão ostensivas que são.

Então, estas questões que foram colocadas por eles, são questões extremamente importantes e que eu trago para o caso da Unifesp. Durante o nosso tempo de gestão, eu diria que estava tudo em paz na Unifesp, até que veio a expansão, aquela mesma expansão que eu mostrei agora a pouco. Aconteceu muito fortemente na nossa universidade, tivemos muitos confrontos de ideias, de gerações, áreas de conhecimento. É uma universidade que antes estava só na cidade de São Paulo e hoje está em várias cidades no seu entorno, nas regiões metropolitanas, muitas delas altamente vulneráveis.

Éramos cinco cursos de graduação, hoje são 54 cursos e esta expansão que a Universidade Federal de São Paulo fez... As federais no Brasil expandiram 177%. A Unifesp expandiu 1000%. Então, nós temos proporcionalmente, realmente, uma transformação e essa transformação veio com muitas mudanças, inclusive no ambiente, na formulação, aqui eu remonto ao ano de 2012, que foi o ano da nossa primeira campanha para reitoria. Nós vivíamos uma crise, uma grande crise porque havia uma dicotomia e um dos nossos lemas era: "A Unifesp é uma só". Não era o campus São Paulo ou campus Diadema, ou campus Osasco, não. Nós queríamos ser uma única universidade com toda a sua diversidade e nos candidatamos, duas mulheres, à reitoria em 2012. Essa campanha foi vitoriosa e difícil. Muitos não acreditavam que nós chegaríamos lá, mas chegamos.

Aqui, vocês vejam, essa é uma festa de comemoração da nossa campanha e estávamos do DCE da Unifesp com todos os estudantes, misturados com os técnicos administrativos, com os professores. Então, acredito que eu vou mostrar para vocês cenas de uma universidade pública que nós acreditamos que está em transformação, a Unifesp. Aqui as cenas das nossas duas posses, aqui duas mulheres tomando posse e aqui, novamente e agora com uma segunda gestão com o vice-reitor, Nelson Sass, que hoje é o reitor da Unifesp. Aqui as nossas posses.

Esse é um momento emblemático para nós, para mim, particularmente, e eu acredito que para a universidade também. Na primeira posse, a Unifesp geralmente tinha nas suas posses quem levava o reitor, conduzia o reitor à posse, era um professor titular, um professor emérito ou dois professores eméritos. Então, aqui começa uma mudança, uma marca da nossa gestão. Uma servidora do Hospital São Paulo, assistente em enfermagem e um estudante, naquele momento, do quinto ano de medicina que me conduziram para a posse. E depois, na segunda posse, aqui, as mesmas servidoras e um servidor que me ajudaram na condução.

Aqui são as cenas destas mudanças que eu acredito que nós fizemos, foram muitas experiências, muito conhecimento e, acredito, muitas transformações. Quero trazer aqui algumas das coisas que eu considero emblemáticas na nossa experiência: a humanização. Nós temos a Escola Paulistinha de Educação em que nós trabalhamos e atuamos para fazer encontros geracionais, inclusive tratando das questões do meio ambiente, a arte na universidade. Foi uma transformação imensa porque nós não tínhamos isso. Era uma escola médica que depois se transformou em universidade, expandiu e passou a ter todas as áreas do conhecimento. Então, nós realmente construímos essas atividades chamadas Unifesp Mostra sua Arte e nós passamos a ter a arte na nossa formação também.

Lutando junto com os movimentos sociais. Aqui, estou já reitora nesse momento, se não me falha a memória, em 2014, em que nós estávamos no campus Zona Leste da Unifesp que ainda não tinha iniciado. Nós estávamos lutando junto com os movimentos sociais para a implantação desta unidade, que hoje... Aqui um ato com o padre Ticão, uma famosa liderança, pessoa importante da região e com vários parlamentares. Aqui também com o padre Ticão e outros membros da comunidade da Zona Leste, em que nós implantamos e já iniciamos o Instituto das Cidades, mas que está em implantação por conta das questões orçamentárias que ainda não puderam ser resolvidas, como eu já disse.

Derrubando muros e abrindo portas. Então, Guarulhos, que é a escola de filosofia, letras e ciências humanas da Unifesp, abriu as suas portas para os estudantes, para a comunidade do entorno e em uma região de altíssima vulnerabilidade, como o bairro dos Pimentas, um bairro situado na região de Guarulhos. A saúde indígena, a educação indígena; estamos com a licenciatura para os indígenas e o núcleo de assistência à pessoa trans, que é uma experiência também que nós acreditamos que foi muito importante para a nossa universidade, porque também abriu para esta questão tão importante.

A construção permanente da participação a partir dos do congresso da Unifesp, que foi paritário e que levou a uma estatuinte e nós concluímos depois, em 2018. Levamos quase quatro anos para concluir a reforma do estatuto. As plenárias. Isso foi importante porque nós instituímos as plenárias e eu fiz um conjunto de audiências públicas e de plenárias ao longo dos oito anos, e as plenárias tinham o objetivo do controle social, principalmente na questão orçamentária, do orçamento, e nós colocamos isso no estatuto ao final... Incluímos na reforma de estatuto que as plenárias se tornariam obrigatórias aos futuros dirigentes, não só era uma vontade minha de fazê-las, mas também que nós incluiríamos aos dirigentes. E o Conselho Estratégico Universidade-Sociedade, que nós chamamos de CEUS e tem a participação de diversos membros da sociedade civil, que se reúne. É um conselho consultivo e também consta do nosso estatuto.

E para finalizar essa parte da minha apresentação, eu queria falar das mulheres. A nossa gestão trouxe também uma questão importante. Eram duas mulheres assumindo, as primeiras mulheres a assumirem a Unifesp, a reitoria. Mesmo antes, quando era Escola Paulista de Medicina, nunca havíamos tido uma mulher na diretoria desde 1933. A pergunta era: onde estavam todas aquelas mulheres fantásticas que, de repente, surgiram e passaram a dizer: "Essa universidade também é minha"?

Então aqui, eu e a minha chefe de gabinete, Andréa Rabinovici, e a Valéria Petri que foi minha vice-reitora na primeira gestão. Aqui é uma gestão de mulheres, nós tínhamos apenas o Ésper Cavalheiro como um dos pró-reitores, mas todas as outras gestoras, junto comigo, eram e são mulheres em todas as pró-reitorias, e também em diversas áreas e debates que fizemos aqui, nesse momento, com a então secretária especial para as questões das mulheres, a Eleonora Menicucci, que foi ministra e nossa professora também da Unifesp. Então, eu quero mostrar esse vídeo.


Vídeo (diferentes vozes femininas)

 

O que eu diria para as mulheres que desejam desbravar o ambiente científico é que não existe, no conjunto das ciências, territórios proibidos para elas. A palavra "desbravar" é muito rica, pois implica ousadia, curiosidade, determinação, descoberta, ou seja, as qualidades de um espírito científico.

Uma mulher que já esteja no caminho pelo conhecimento, é uma mulher que já deu um passo importantíssimo na busca pela sua liberdade, pela sua autonomia, pela sua independência.

Apesar de todas as dificuldades inerentes aos espaços para atuação nossa, diria que a pesquisa é um campo que deve ser abraçado cada vez mais pelas mulheres, e assim contribuir para o reconhecimento e a reformulação dos problemas que afligem a nossa sociedade.

Vejo que muitas conquistas e muitas mudanças ocorreram nas últimas décadas, mas ainda é preciso fazer muito mais. Em especial, ocupando os lugares de direito com inteligência e com a habilidade que temos.

O trabalho na ciência, exige dedicação, observação com olhar curioso e, principalmente, interesse em produzir conhecimento. Devemos ocupar nosso lugar na ciência e nos valorizarmos neste espaço.

 

O fato de eu ser uma mulher influencia que as meninas se interessem por tecnologia também. Quando você entrar em uma sala de reunião ou em um evento e ver que é a única mulher presente, fale, participe e mostre que você está bem preparada.

Eu vou continuar lutando não só pela mulher cientista, mas, principalmente, por aquela mulher trabalhadora do dia a dia do nosso país a superar todas as nossas sequelas e mazelas.

Envolver-se na pesquisa é isso: se entregar a uma necessidade de ampliar o conhecimento. Nós podemos e devemos fazer diferença.

É preciso ter coragem e ousadia para acreditar e seguir em frente.

E há um grupo no qual eu me incluo que sofre ainda uma maior invisibilidade: o das pesquisadoras negras aqui na Unifesp, que tem um papel pioneiro nas ações afirmativas. Nós temos o dever de incentivar e inspirar para que os seus talentos não fiquem ocultos entre nós.

É no caminho da luta por direitos iguais, sermos donas de nossos corpos e de nossos saberes.

Então alunas e futuras alunas... na luta sempre pelo conhecimento e na luta por uma universidade pública, gratuita e de qualidade para todos e para todas.

Avante mulheres. E parabéns.
(Fim do vídeo)

 

Soraya Smaili

Alguns outros momentos também se destacam, como a vinda da pesquisadora Judith Butler no meio do auge dos negacionistas e eu quero também falar rapidamente, para finalizar, os dados das mulheres na Unifesp. Nós, hoje, somos maioria praticamente em todas as áreas do conhecimento na Unifesp, com exceção um pouco do Instituto de Ciência e Tecnologia, que é a área de engenharias e de tecnologia, mas que está crescendo. E somos maioria não só como alunas, como estudantes mulheres, mas também as orientadoras, as pesquisadoras como eu mencionei, praticamente em todas as áreas. Na enfermagem, maioria absoluta. Na medicina, mais de 60%. Então, nós realmente estamos em um momento de grande transformação. Aqui, as mulheres são maioria também na pesquisa, no copo do geral, e quase 60% das nossas estudantes.

E aqui, um ato da criação do dia das mulheres e das meninas na ciência. Eu acho que vou ficar por aqui, embora eu tenha esta parte que rapidamente eu passo, que foram os momentos de conflito que nós tivemos nesses oito anos e que geraram diálogos. Aqui foram greves dos estudantes, a audiência pública com os estudantes e também as situações que tivemos de viver com os trabalhadores do nosso Hospital São Paulo.

Teria muito mais a falar, mas acho que eu fico por aqui. Essa imagem é de um pouco antes da nossa pandemia, da pandemia que nós vivemos. Certamente tem uma transformação enorme que vai acontecer e que ainda não sabemos exatamente qual vai ser o resultado, mas nós certamente temos que continuar e estamos na defesa da educação pública no nosso país, especialmente em razão do momento político que nós vivemos, o momento político orçamentário. Muito obrigada. Desculpem, passei um pouco do tempo.

 

Ary Plonski

 

Muito obrigado, professora Soraya, pela sua apresentação fascinante. É fascinante não só pela forma engajada com que expôs, mas por descrever um processo de transformação institucional profunda e feita de, vamos dizer assim, em um período extremamente curto. Eu lembro com clareza de uma noite em dezembro, dezembro de 1994, em que eu acompanhei o então reitor da USP, Professor Fava, na cerimônia com a presença do então ministro da educação Murílio Hingel, de transformação da Escola Paulista de Medicina, EPM, em Universidade. Inclusive, na época, o ministro Murílio Hingel chamou a atenção de que seria, pelo menos essa era a ideia inicial, na primeira universidade especializada na área da saúde e que, como você...

Me permita chamar de "você", reitora sempre magnífica, mas você já está tanto conosco, então me permita chamar de "você". Em que você descreveu esse processo, que eu acho que inclusive é um processo orgânico no sentido de que nasceu de forças internas, de expansão não só numérica, mas diversificação da universidade, não só geográfica, mas também em termos de áreas, tornando-se de fato uma universidade no seu sentido mais universal do termo.

Então, agradeço muito a sua exposição e, com relação ao que é importante também, a questão da presença da mulher, eu fico sempre emocionado com a... Enfim, a foto que você mostrou da nossa querida Helena Nader, que também foi catedrática na cátedra que o professor Martin coordena, Olavo Setubal. Ela foi catedrática em um momento singular e inovador de uma cátedra dicéfala, ela, ciência e o Paulo Herkenhoff como arte. Um ano maravilhoso na história do Instituto, na história da universidade, graças à professora Helena.

E só dizer que a professora Roseli de Deus Lopes, a vice-diretora do Instituto, está nos acompanhando pelo YouTube. Ela teve um perrengue com o Zoom, e ela também é uma situação interessante, porque ela é professora de engenharia na Poli, colega da Poli, engenharia elétrica, eletrônica para ser mais preciso, e ela acabou se encantando com tecnologia e educação. Fez essa ponte e foi a idealizadora, criadora da FEBRACE, Feira Brasileira de Ciências e Engenharia. Então, estamos juntos. Muito obrigado, professora Soraya. Passo então agora a palavra ao querido amigo, professor, colega, Marcos Buckeridge.

 

Marcos Buckeridge

Obrigado. É difícil falar depois da professora Soraya, excelente apresentação. Obrigado, professora, é um prazer estar contigo. Eu estou em débito com a senhora sobre o Sou Ciência ainda por causa de muitas coisas que estão acontecendo aqui. Vou, então, colocar aqui a minha apresentação. Talvez bem mais simples do que a da professora Soraya, mas eu tinha a ideia de que a professora Soraya iria apresentar alguns dados sobre as universidades federais que eu não tenho, é uma visão diferente porque eu sou aqui do estado de São Paulo.

Eu queria cumprimentar o Muntadas pelo trabalho. Aconteceu uma coisa comigo, Muntadas, que depois eu não comentei com o Martin isso, mas eu tive uma experiência que quando eu abri, não sei se era o meu computador que estava com problema ou se você colocou isso de propósito. Quando eu comecei a ver os vídeos da parte americana, ele fica escrito "Carregando" e os diálogos começam, mas ele não mostra nada para mim. Eu ficava com a tela preta e os diálogos se alternavam.

Eu não sei se isso foi colocado de propósito, mas assim, eu ouvi os dois diálogos ao mesmo tempo e, de repente, um vinha e o outro desaparecia, depois vinha o outro e aí você ouve uma experiência única. Eu até escrevi para o Martin, falei: "Esse negócio é incrível". Eu não sei se isso foi feito de propósito, mas assim, uma experiência realmente muito interessante. Muito interessante, inclusive, assistir os depoimentos dos professores e dos alunos, porque o interessante disso, que eu falei que esse diálogo ia e voltava, que eu ouvi uma opinião de um aluno e depois uma de um professor com ângulos diferentes, como se eu estivesse um fazendo uma viagem pela semiosfera da academia e ouvindo vozes enquanto eu viajava. Foi essa sensação que eu tive, que você me propiciou e que só a arte pode fazer.

Eu sou um produto do particular, eu me formei na Universidade de Guarulhos e, ao mesmo tempo, um produto da universidade pública federal pois me formei justamente na Escola Paulista de Medicina no mestrado, então eu sou da mesma universidade que a professora Soraya. Depois, fui para o exterior e agora sou professor da Universidade de São Paulo. Eu não sei se o Muntadas tem a ideia, pelo menos eu tenho essa ideia, não sei se o Martin, o Ary e a Soraya concordam comigo, que São Paulo é uma espécie de Catalunha no Brasil. Nós temos uma personalidade própria.

Eu queria que São Paulo fosse até mais Catalunha... Ele é, a nossa arte, a nossa forma de ver o mundo é uma forma diferente e nós falávamos aqui antes, no começo, sobre... O Martin estava comentando sobre a diferença cultural que existe no Brasil em relação ao resto da América Latina e isso é por causa de uma origem cultural, e eu acho que nós em São Paulo somos diferentes também por causa de alguns fenômenos que ocorreram no século 19, no século 20, que foi a questão da evolução da agricultura, a entrada dos Bandeirantes. Depois, um fato muito importante que tivemos, foi a partir da década de 20, temos a semana de 22 que é super importante, o antropofagismo é uma marca e eu me sinto marcado por isso. Vamos comemorar agora no ano que vem.

Eu não sou artista, mas eu me sinto totalmente marcado pela semana de 22 e a fundação da Universidade de São Paulo, que foi feita como uma resposta a uma tentativa de revolução que São Paulo fez para sair do Brasil, para ser independente. Nós perdemos a guerra, como se diz, mas a resposta nossa foi: "Nós vamos fazer uma universidade que será tão importante que vocês vão ver" e daí é que veio o símbolo "Scientia Vinces", "A Ciência Vence". Nós não vencemos a guerra, mas nós vencemos na ciência. Então, não sei, vamos ver. Estamos trabalhando nesse caminho.

Então, essa experiência foi muito interessante e eu fui olhar a questão de academia justamente, e eu coloco aqui só um pequeno gráfico para vocês e que me remeteu um pouco a uma questão que o Muntadas coloca, que a exposição coloca, da infraestrutura dos prédios versus a infraestrutura; professora Soraya tocou um pouco nisso. Então, a ideia de academia pelo que eu entendi, ela começa com Platão e em um jardim. Platão começa essa academia em um jardim, o jardim de Atena, e o nome é Academia porque ali morava uma entidade de um dos deuses, que é o Academo. Daí vem a palavra "academia".

Jardim, eu sou um jardineiro, sou botânico de origem. Jardim, para mim, é a estrutura, jardim é beleza, jardim é arte, é você emocionar, é você se comunicar com o sistema límbico do cérebro e provocar sensações nas pessoas. Então, eu acho, na minha visão, que a estrutura dos prédios é sim muito importante. Você estar em um lugar que tem uma estrutura, em que a arquitetura - que é uma espécie de ponte entre a arte e a engenharia -, a arquitetura te provoca. Se você entrar no prédio, não sei se o Muntadas chegou entrar na FAU aqui, Martin, mas assim, quando você entra e vê aquele prédio, você não consegue se emocionar, você fica absolutamente extasiado com a arquitetura que está ali dentro. Eu acho que isso é importante, é importante que tenha a infraestrutura, é importante que tenha a arquitetura.

Outra questão que versa sobre a academia e a universidade, que é o ponto da exposição, eu recentemente li o livro do Peter Burke, que foi inclusive uma pessoa que visitou o Instituto de Estudos Avançados, um instituto que eu adoro e sou diretor do Instituto de Ciências, mas o Ary sabe que eu sou um fã e um adorador do Instituto de Estudos Avançados da USP e o Peter Burke escreveu um livro, para mim, fenomenal.

Ele pegou 500 polímatas, explica o que é um polímata, classifica o polímata e Peter... Hoje mesmo vinha no carro ouvindo uma palestra do Peter em português, - ele é de Cambridge -, uma palestra em português do Peter. Ele esteve aqui, passou um ano aqui e o livro é absolutamente fascinante. Ele mostra como os polímatas, que são pessoas que podem ser artistas, ele mesmo fala na palestra dele, você pode definir um polímata como alguém que tem uma banda de Jazz e ao mesmo tempo é um cientista, é ao mesmo tempo um esportista. Ele ou ela fazem várias coisas e a polimatia se torna aí. E o principal lugar dos polímatas na USP chama-se Instituto de Estudos Avançados, é para onde os polímatas vão. Essas pessoas que não se encaixam na era da especialidade e o Burke descreve muito bem também no livro, a especialidade começa principalmente no século 20. A USP é um produto dessa especialidade, a história linda que a Soraya coloca da Unifesp, eu sou da Unifesp como Escola Paulista de Medicina e a Unifesp se transforma em uma universidade, mas se transforma numa universidade especializada.

Nós temos os departamentos e esses departamentos são estruturas muito complexas do ponto de vista social e que, na minha opinião, são um ponto que causa uma dificuldade ou alguma barreira muito grande para interdisciplinaridade. Na minha visão, humilde me considerando uma espécie de polímata, eu acho que é necessário começarmos a retornar. Por isso eu coloco aí para frente no século 21 entrarmos na era da interdisciplinaridade. Se fala muito disso, se falou disso nos Estados Unidos, se fala disso aqui e a interdisciplinaridade exige método, porque não é a mesma coisa que eram os polímatas, porque quando os polímatas existiram, a quantidade de conhecimento era menor.

Os polímatas... Outra curiosidade, outra coisa interessante, é que os polímatas não eram necessariamente da universidade, eles podiam ser e geralmente eram pessoas ricas que conseguiam ter dinheiro o suficiente, do sexo masculino porque as mulheres eram discriminadas, felizmente com o nosso movimento isso está mudando, então existem poucas mulheres polímatas por causa da discriminação e mais indivíduos do sexo masculino, indivíduos ricos que tinham dinheiro para poder estudar as várias coisas e não precisarem trabalhar. Ou então, como o Leibniz, pessoas que se tornaram bibliotecários e que entenderam o mundo através das bibliotecas.

Então, essa é uma pequena visão que eu acho que vem com alguns elementos como a boa arte que o Muntadas colocou, ela provoca e eu estou aqui me apropriando do Umberto Eco, da Obra Aberta de Umberto Eco, então essa é a minha "visão Muntadas", se você me permite. Você quando faz arte, a mensagem é minha agora, ela não é sua mas ela é Muntadas, ela continua a ser Muntadas. Muntadas, como nós... Eu vou dar uma visão do que eu vejo aqui até chegar na estrutura da USP e, talvez, fazer uma ligação com o que a professora Soraya colocou.

A primeira coisa é que a academia, eu coloco "academia" aqui como os pesquisadores, eu vou pegar e apontar para mais fácil. Então, nós temos a pesquisa orientada por teoria, que chamamos também de pesquisa básica, gradativamente, geralmente depois de 10 anos, essa pesquisa vai se tornar uma pesquisa comportadora de futuro. Eu acredito que a metodologia que estou falando aqui vale para a ciência, Martin pode depois comentar, mas deve valer para a arte também, o processo criativo não é muito diferente.

Costumamos fazer essa diferenciação, mas eu acho que existem diferenças no processo criativo. Eu sou um fanático por um canal de televisão, - o Muntadas mencionou a televisão -, eu sou fanático pelo "Arte 1", acho que é a melhor televisão que o Brasil já fez e o que eu morro de inveja no Arte 1 é que nele, em todo momento, eles estão perguntando o que é arte e colocando pessoas diferentes para responder. Eu consigo enxergar, pelo menos, que se fosse feito um canal de ciência que fizesse a mesma coisa, as perguntas e as respostas seriam muito similares.

Então, a pesquisa orientada por teoria pode se tornar a pesquisa aplicada, que é o que vai gerar tecnologia e essa é a produção de soluções. Aqui eu coloco um triângulo e, dentro desse triângulo, nós chamamos de "sopa primordial", que é onde flutuam as soluções e flutuam aspirações, ou aqueles apontamentos de problemas ou caminhos que uma dada sociedade quer. Então, é muito interessante ver nos Estados Unidos como é a universidade, como é aqui, e entender que isso está eternamente ligado à sociedade. Sempre esteve e sempre estará. A arte é uma das formas de apontar; de apontar tanto soluções quanto apontar aspirações.

E nós temos aí a política, as ideologias e toda essa carga que é onde se tomam decisões. Geralmente nos sistemas democráticos, essas decisões têm uma agenda de quatro anos, então para que um sistema caminhe bem, ele teria que ser melhor embasado em ciência. Quanto maior for a base de conhecimento, ou seja, quanto maior for a influência da academia nas decisões e essa academia, sendo uma academia que enxerga a sociedade, melhor serão as soluções, que são as políticas públicas.

Então, nesse slide eu coloco os dois lados: políticas públicas embasadas no conhecimento acadêmico... Desculpe a falta do acento no "conhecimento acadêmico". E onde a ciência produz bastante soluções e a sociedade, então existe um equilíbrio; sociedade pede, a ciência produz as soluções e a política captura essas soluções, coloca nas suas agendas e faz o equilíbrio maior, essas sociedades avançam melhor, dão maior bem-estar para as pessoas. Em políticas públicas não embasadas onde, por exemplo, no Brasil e em vários lugares isso está acontecendo e acontece periodicamente na história do mundo, a política toma decisões e não toma conhecimento de decisões que sejam embasadas do que a academia produz.

A sociedade continua apontando os problemas porque ela é sempre estável apontando, "Eu quero isso, eu quero viver assim", e continua apontando os problemas se for permitido, não no sistema militar que nós tivemos aqui, às vezes a academia não consegue fazer, não consegue apontar. Na ditadura militar, nós não conseguíamos apontar esses problemas. Na Espanha vocês tiveram problemas parecidos, em vários lugares do mundo, mas em geral, a sociedade fica bombardeando a sopa primordial com o apontamento de problemas e se a política começa a tomar decisões sem base, o sistema tende a ser um sistema perdedor.

Mesmo no sistema chinês que não é um sistema democrático, eles estão cada vez mais aumentando a academia deles. Eles mudaram completamente a forma de ver a academia, estão produzindo conhecimento com uma velocidade incrível e em uma quantidade incrível. Copiaram o sistema acadêmico americano, basicamente, só que público e colocaram isso, estão gradativamente aumentando o bem-estar físico das pessoas, não necessariamente o bem-estar político, fisiológico e a liberdade, mas a COP consegue emular uma parte disto.

Outro ponto que é extremamente importante, é o equilíbrio da cultura. Aqui eu gosto de usar o Edward Tylor, é uma visão antiga de cultura, mas uma visão que nos permite ver que o equilíbrio entre saber, entre o que é produção de arte, o que é moral, costume, crenças e as leis, é muito importante, porque locais, por exemplo, onde eu tenho as crenças sobrepujando o restante, como é o caso do Irã, atrasamos a vida da sociedade e a liberdade das pessoas. Se eu tiver um excesso de saber também, talvez eu tenha a mesma coisa. Se eu tenho problemas com moral e costumes, - moral é um problema que o Brasil está tendo agora, nesse momento por exemplo, está muito pequeno -, e isso também afeta o andamento das coisas.

Outro elemento da academia que foi muito importante, principalmente no século 20, foi a entrada de uma ideia coletivista, de uma ideia de uma nova ética chamada "Ética socioambiental", que gerou o ambientalismo moderno. Então, isso contaminou a sociedade e a sociedade passa a demandar da academia, a academia precisa se adaptar a isso e nós temos uma adaptação enorme sendo feita para isso. Nas minhas buscas, começa lá em 1935 com o Arthur Tansley, que era um botânico também, que coloca os primeiros conceitos de ecossistemas. Os primeiros conceitos de ecologias surgem em um artigo de 1935 do Tansley, isso ocorre ao mesmo tempo em que matemáticos como o Norbert Wiener da década de 30 e um biólogo, Ludwig von Bertalanffy, olhavam o mundo de um ponto de vista sistêmico. Eles olhavam o mundo como se os polímatas fossem o caminho.

Nós temos um brasileiro nisso, daqui do meu instituto inclusive. Eu não estou falando só porque é do meu instituto, mas que foi um brasileiro absolutamente fundamental para o ambientalismo no mundo, que é o professor Paulo Nogueira Neto, a pessoa que geriu a primeira entidade de governo nacional e que criou todo o sistema de olhar meio ambiente no Brasil. Disse coisas, escreveu coisas que na década de 60 a 70 que são equivalentes ao que ocorria no mundo. Tínhamos uma tendência muito grande dos americanos dominarem a história. Me desculpe, Muntadas, mas os europeus também, então a história que é feita aqui não é vista. A história é sempre "primeiro os americanos fizeram e depois o resto do mundo", isso vai em todos os aspectos, até no avião, mas vários americanos, obviamente, foram muito importantes.

Foi Eugene Odum que escreveu o primeiro livro, junto com o irmão dele que está aqui embaixo, Howard Odum, que escreveram juntos o primeiro livro de ecologia... Livro-texto de ecologia para faculdade, para universidade no mundo. Eu estudei por esse livro. O Eugene era mais biólogo e trabalhou a vida inteira na parte de biologia, enquanto o Howard tinha uma visão um pouco mais politizada. O Howard tinha a visão sistêmica, estava mais pendendo para polimatia enquanto o Eugene estava mais tendendo para o especialista. No meio disso tudo, nós temos duas mulheres que foram fundamentais. Uma delas é Donella Meadows, que foi a comandante de um relatório encomendado pelo clube de Roma em 1968 e que criou um desses primeiros relatórios modernos que conhecemos. Eu vou voltar ele só rapidamente para mostrar para vocês.

E um fato que ocorreu, que foi uma observação da Rachel Carson, cientista que trabalhava com cascas de ovos de pássaro. Ela percebeu que as cascas dos ovos estavam muito fracas e que os ovos estavam eclodindo antes do tempo. Ela viu que a relação disso... Existia uma relação disso com um inseticida que estava sendo usado com muito sucesso na época, que era o DDT e ela escreveu inicialmente um artigo para The New Yorker. Esse artigo acabou se tornando um livro, foi publicado em 1962 chamado "Primavera Silenciosa", porque não tinha o "crack" dos ovos dos pássaros e esse livro viralizou, como dizemos hoje, e mudou a visão da sociedade americana em relação ao ambiente.

Essas mudanças levam ao ambientalismo moderno, que é um ambientalismo que muda, gradativamente... Para mim, é uma revolução copernicana porque ele muda gradativamente a visão da ética de valores intrínsecos, a ética que considera o indivíduo ou uma espécie como importante para a ética de valores instrumentais, que enxerga o mundo mais como nós, Homo sapiens, não são o centro, mas sim, uma parte de um sistema muito maior. Com isso na biologia e na ecologia, nós acabamos descobrindo que realmente existem os ciclos biogeoquímicos e, sem eles, nós não podemos existir, a civilização não pode existir e mais do que isso: existem os microbiomas, que são milhares e milhares de microrganismos que vivem dentro de nós, e sem os quais também não podemos viver. Essa é uma mudança copernicana, é uma visão completamente diferente não só da biologia, mas uma visão que está transformando a sociedade.

Essa transformação é nítida até mesmo nas Nações Unidas. Vemos aqui os objetivos do desenvolvimento sustentável, que coloca o objetivo número quatro, o objetivo de educação, que acho que o trabalho do Muntadas serve muito bem aí, em vários aspectos, mas no ODS número quatro. Então, isso começa lá atrás, no fim do século 20 com o relatório Brundtland, e depois acaba se transformando nesse conjunto de 17 objetivos, cujo objetivo central, a visão geral é: satisfazer as necessidades da geração atual sem comprometer a capacidade e as necessidades das gerações futuras.

Então, essa transformação vem ocorrendo e outra visão dessa transformação está nessa figura aqui. Nessa figura, vemos que uma mescla de reuniões que são do painel intergovernamental de mudanças climáticas, que o primeiro começa em 1997... 1990, desculpe. Esse primeiro relatório é aquele que vai dizer que o clima está mudando, etc., esse relatório é um produto direto da academia. Eu trabalhei em alguns desses relatórios mais recentemente, não em 1990. Trabalhei desde o ano 2000 no IPCC e aquilo é um produto da academia, direto. Por quê? Porque nós vamos buscar o conhecimento que existe, juntamos esse conhecimento em um livro ou em um conjunto de livros e colocamos esse conhecimento a disposição dos 195 países das Nações Unidas.

E, trabalhando paralelamente, nós temos as COPs nas conferências das partes que são a junções, as discussões que vão vir a partir do que o IPCC diz. Então por exemplo, a COP26, que na minha opinião foi o maior fracasso que nós já vimos até agora de todas as COPs, ela deveria estar discutindo o que fazer para não passarmos de um grau e meio e não se discutiu nada, os governos não foram.

A COP é feita para os governos e os ativistas discutirem e alguns cientistas também vão, mas a academia está lá naquele recheio, está lá naquele centro porque é o conhecimento, é a base do conhecimento que vai melhorar. Por que a COP26 é um fracasso retumbante? Porque nós produzimos o conhecimento, trabalhamos duro para juntar todo o conhecimento que os humanos já produziram, publicaram e são confiáveis para colocar isso para os países, só que os países não estão interessados em discutir isso e sim, interessados em fazer... Depois traduz o termo para o Muntadas, "fazer pedaladas ambientais".

Ou seja, mudar o seu padrão básico para que você consiga atingir as metas prometidas lá na COP de Paris, mas isso não está levando a nada. De qualquer jeito, a COP26 não tanto, agora vai ter que ter uma COP do ano que vem no Egito, um país que não é central na produção de combustíveis fósseis, e eu não sei como vai ser isso, porque vai ser muito difícil o Egito se impor e fazer com que as Nações Unidas consigam se impor em relação aos países.

Então, esse é o mundo que nós vivemos e a academia está aí no meio, eu queria trazer um ponto de vista da academia. Por último, eu só queria mostrar para o Muntadas e para vocês, o professor Arlindo Philippi e eu fizemos um brainstorm de pensamentos e escrevemos um capítulo no livro sobre a USP, que não é para dizer nada sobre a história da USP, mas o que foi pedido para nós, era sobre a estrutura de poder da USP e é muito interessante, vocês viram a apresentação da professora Soraya com todas as questões, greves e discussões sobre mulheres, sobre negros e a sociedade, etc.

A universidade brasileira está bem diferente da universidade americana, me parece pelo trabalho do Muntadas principalmente, ela está bastante diferente porque a universidade brasileira está mais enfronhada com a sociedade, está mais mesclada com a sociedade e não importa se é privado ou público, porque o dinheiro... As três universidades estaduais de São Paulo têm um custo de cerca de 10% de toda arrecadação do Estado. Quer dizer, alguém está pagando, nós estamos pagando. Então ou você paga no privado, ou você paga no público. É melhor obviamente pagar no privado. Em um país como o Brasil que precisa, que tem desigualdades muito grandes, é melhor você pagar no público, porque você dá, como a professora Soraya mostrou, a oportunidade para pessoas que são mais pobres fazerem a participação. Isso muda a academia? Provavelmente não. Melhora o sistema porque nós temos a participação de um maior número de séries.

A USP, como vocês podem ver, os quadros vermelhos que eu coloquei no centro, eles são o centro da democracia da USP. Então, os conselhos de departamentos, as congregações, Conselho Universitário, os conselhos das pró-reitorias são as formas de decisão que nós temos, que são sempre colegiadas. Em azul, nós temos o que eu chamo "Poder Executivo" da universidade, é o que nós vamos eleger agora: o reitor, os pro reitores, os diretores como eu, como o Ary, o Martin já foi diretor, a Soraya, nós pertencemos ao poder executivo por um tempo. O poder legislativo são as caixas em vermelho, são os conselhos. Em verde, nós temos o que eu chamo "Poder Acadêmico", no capítulo nós chamamos isso de poder acadêmico. Por quê?

O que está acontecendo agora, na USP pelo menos, Muntadas, é o seguinte: cada professor produz o seu plano acadêmico, o que você vai fazer nos próximos cinco anos. Esse plano acadêmico é juntado pelo departamento, o departamento tem o seu próprio plano acadêmico com base no plano dos professores e os planos acadêmicos dos departamentos são juntados e nós temos o plano acadêmico da faculdade, da unidade do Instituto. Esse plano acadêmico vai ser executado, ele tem que ser executado dentro dos parâmetros que ele mesmo faz. Então, existe uma liberdade acadêmica enorme na Universidade de São Paulo e eu não sei se a Unicamp e a Unesp já estão fazendo isso, mas na Universidade de São Paulo a liberdade é enorme e a liberdade é muito pouca de quem está no Poder Executivo. As decisões são tomadas sempre através desses conselhos.

Existem alguns poderes que estão se desenvolvendo ao longo do tempo, existe um poder judiciário que é a procuradoria geral, a parte de legislação e de regras está cada vez mais importante e determinando o que essas decisões podem... Se essas decisões que os conselhos vão fazer podem ou não ser tomadas, se quem está no poder executivo pode ou não fazer alguma coisa, e existe uma fonte externa de poder, que são as fontes de financiamento das agências financiadoras de pesquisa, porque um professor que faça o seu plano acadêmico individual...

O Ary que citou uma pessoa nos Estados Unidos que não vai dar aula porque ela ganhou um grant muito grande. Esses grants muito grandes aqui na USP têm um valor parecido: acabamos dando menos aula e acabamos trabalhando mais na direção desses grandes projetos. E esses grandes projetos têm um peso político, um peso de poder grande que contrapõe ao poder executivo, que são as caixas azuis, que tem o seu orçamento e que controla um orçamento, mas é orçamento votado pelas caixas vermelhas, que são os colegiados.

Então, essa é a estrutura. Eu não sei dizer, deixo o Ary e o Martin falarem. O Ary é mais velho, o Martin é jovem ainda, não passou dos 30 anos, mas o professor Ary já passou dos 30 e podem fazer o comentário que eu deixei aí em cima. A universidade é um microcosmo da sociedade? Isso que nós estamos vendo reflete a sociedade, a política brasileira, certo? Funciona mais ou menos desse jeito. Ou a sociedade é o macrocosmo do que é a universidade? Então, eu deixo essa pergunta, um desafio para vocês para discussão e agradeço. Meu contato está aí, agradeço muitíssimo, Martin, Muntadas, Ary. É uma grande honra para mim poder ter falado nesse evento de vocês.

 

Ary Plonski

Obrigado. Então, eu queria dizer que o livro do Peter Burke deve ser atualizado com 501 biografias de polímatas, incluindo o número 501, do professor Marcos Buckeridge. Eu penso que você transita em vários campos e procura mais do que isso. Ou seja, é mais que ter uma pizza de vários sabores, você busca, de fato, como foi a tua proposta e está sendo, o seu trabalho junto ao professor Arlindo, criar um centro de síntese, a capacidade de fazer a síntese, do olhar de biólogo Bertalanffy que você comentou, considerado o pai da teoria dos sistemas contemporâneos, não é? Acho que você segue a tradição do Bertalanffy.

Agora que estou me dando conta, é bem interessante, uma hora nós especulamos, mas enfim. Eu, quando tinha um pouco menos de juventude acumulada, projeto a tua referência, fui muito fã do Bertalanffy, conheço um pouco e é bem legal vermos o teu olhar e o olhar dele, como essa origem desenvolve a capacidade de visão sistêmica, muito bacana mesmo, e que você evidentemente se arrisca a aplicar isso na Universidade de São Paulo. A professora Soraya também é da casa, então devo dizer que é um ente de elevada complexidade, mas tudo bem.

Olha, nós temos 19 minutos, 20 minutos arredondando. Eu queria sugerir o seguinte: nós temos uma pergunta objetiva já para fazer. Depois, eu gostaria de - se não vier outra questão relevante -, de passar a palavra ao Antoni Muntadas e, finalmente, passar a palavra ao Martin para encerramento, mas evidentemente deixando espaço para se ainda houver uma manifestação final. A Professora Soraya talvez até já faça a sua manifestação na resposta da pergunta, se o Marcos quiser depois complementar algo, será bem-vindo, mas para terminarmos de fato ao meio-dia.

Professora Soraya, a pergunta é de um doutorando, o Felipe, que é do doutorado em geografia humana aqui na Universidade de São Paulo, programa de pós-graduação em geografia humana. Ele, faz a pergunta diretamente para a senhora. Eu vou ler o trecho relevante. "Dada a exposição dos cortes de verbas e perda de autonomia nas universidades, como pensar em novas articulações por parte dos pesquisadores, docentes e discentes da academia?", ele inclui federais e estaduais, "para retomada de novos investimentos e mais autonomia às universidades do país". Ou seja, na verdade ele... Vamos dizer assim, a partir da problematização. Pensando, - aqui já são palavras minhas -, pensando como podemos encaminhar a saída às alternativas. Por favor, professora Soraya.

 

Soraya Smaili

Essa é uma excelente pergunta, eu agradeço muito, também agradeço à exposição do Marcos e, já também tentando compor uma finalização, nós vivemos um momento no nosso país, embora, como eu disse logo no início da minha apresentação, uma crise permanente, nos parece, não é? E a crise do sistema educacional superior no Brasil atingiu um patamar bastante elevado agora. Nós temos uma situação de muitas dificuldades, porque eu nem comentei a questão da pandemia e do quanto a pandemia vai mudar e já mudou as nossas vidas.

E ainda, nós não conseguimos medir o impacto da pandemia nas nossas universidades, nos nossos jovens e também nos nossos professores, nas nossas pesquisas. Mudou a forma. Agora mesmo a Unifesp está em um momento de escolha dos seus órgãos centrais. Nós estamos agora em um momento que a cada dois anos ocorre na Unifesp, que é a escolha dos representantes em todos os conselhos centrais. São mais de 100 posições no caso dos docentes, eles têm que votar e é a coisa mais estranha que aconteceu nos últimos 10 anos, porque ninguém fala. Ninguém está falando sobre esse assunto na universidade, as pessoas não estão debatendo, não estão falando sobre política, não estão falando sobre as propostas... Quer dizer, estamos escolhendo, pela via virtual, via online, os representantes que vão estar nos conselhos universitários, conselhos de graduação, de pós-graduação e não temos uma formulação ou mesmo uma conversa sobre isso.

Quando os grupos se reuniram para formar grupos para solicitar a apoio e tal, os votos são solicitados individualmente. As pessoas vão lá no seu... Nas pessoas que elas conhecem, mandam por WhatsApp, que é a forma de fazer política hoje, pelas redes sociais e por essas formas digitais de comunicação e nós estamos realmente em um ambiente, além dos cortes orçamentários, estamos vivendo a nossa separação física. Então, embora nós tenhamos ganho muito com, por exemplo, este encontro, nós temos pessoas que estão fora do país, pessoas que podem nos assistir em qualquer lugar do Brasil, da América Latina. Quer dizer, ao mesmo tempo que nós temos uma aproximação, nós temos uma separação, uma dispersão e até uma individualização. Então, a política universitária autônoma de partidos e governos precisa ser feita, não tem como nós sairmos desta situação orçamentária e política no nosso país se nós não nos envolvermos e não nos engajarmos nisso.

Nós vamos ter que inventar uma fórmula, porque precisamos ir ao Parlamento, falar com os parlamentares, precisamos formular as propostas. O ano que vem é um ano eleitoral e nós temos que cobrar de todos os candidatos as suas propostas para a educação superior, no nosso caso, para a ciência, para o sistema da ciência e tecnologia do nosso país que está realmente em situação muito difícil, porque nós temos a questão orçamentária.

A realidade de São Paulo é uma realidade muito diferente e nós, como estamos em São Paulo, mas fazemos parte de uma rede federal, conhecemos as realidades das nossas universidades federais. A situação de São Paulo, felizmente, por termos o investimento do ICMS, uma conquista também dos movimentos sociais que foram em busca desse apoio e desses recursos lá em 1989, 1988, e depois teve também o compromisso... Embora a Fapesp seja mais antiga, teve o compromisso do vínculo com os recursos do ICMS para a Fapesp também, nós temos uma realidade um pouco diferente. Ainda bem, que bom que temos isso, mas o Brasil hoje precisa de um projeto e de um compromisso diferente do que nós estamos tendo hoje.

A ciência, as nossas agências financiadoras, as nossas universidades, a estabilidade orçamentária, do orçamento da união, é preciso ter uma unidade nesse sentido de todas as áreas, de todos os atores da sociedade civil, não só os da universidade. A universidade hoje precisa se abrir, como eu disse, e também está na exposição, "A universidade do século 21" e eu encerro com isso, uma das frases mais marcantes da exposição para mim. A universidade do século 21 precisará ser totalmente permeável. Eu acho que tem alguns movimentos nesse sentido, principalmente nas universidades federais, mas nós estamos caminhando e precisamos caminhar mais e, ao mesmo tempo, ter a sociedade ao nosso lado para que nós possamos ter uma política diferente e possamos também tratar e levar à sociedade essas questões para que nós tenhamos o apoio dela.

Aliás, uma pesquisa do Sou Ciência, do Centro de Estudos... Sociedade, Universidade e Ciência que eu atualmente coordeno, não pude falar sobre isso, mas está no nosso site, www.souciencia.unifesp.br, essa pesquisa mostra que 92% da população brasileira apoia as universidades. Apenas 8% deseja a privatização, entende que as universidades públicas deveriam ser privatizadas. Mais de 95%... Mais de 94%, 95% da população confia, somando todas as modalidades, nas universidades, na pesquisa e na ciência que é feita nas nossas universidades e, ao mesmo tempo, olha que interessante, quer tomar a vacina. Ou já tomou ou quer tomar e não entrou nos movimentos antivacina e anti ciência. Nós nem tocamos aqui, que hoje as nossas universidades também precisam enfrentar.

Então, para finalizar, nós temos que não há formas alternativas nesta questão. Há, sim, uma grande coalizão da sociedade e, com as universidades, com os atores das universidades, para que nós possamos de fato ter um projeto de educação superior que valorize as nossas universidades e a nossa ciência. Nós temos essa oportunidade, nós podemos fazer. Finalmente, quero agradecer. Muito obrigada, um grande abraço, foi um enorme prazer estar com vocês aqui hoje.

Ary Plonski

Nós é que agradecemos, professora Soraya, também ao professor Marcos Buckeridge pela participação. Queria cumprimentar a professora Soraya também pela dedicação a essa... Vamos dizer assim, a essa construção da permeabilidade. Nós aqui no IEA costumamos chamar de "porosidade", mas acho que é o mesmo conceito. Agora pelo Sou Ciência, confesso que não ainda tive oportunidade de conhecer, mas com a dica que a senhora deu, já tenho no fim de semana algo a fazer. Muito obrigado. Professor Marcos, alguma palavra final antes de eu passar para o Muntadas?

 

Marcos Buckeridge

Eu só queria comentar que a sensação, a Soraya comentou sobre essa questão da universidade ou da porosidade, etc. Eu chamei na minha cabeça de "universidade líquida".

E nós estamos em uma discussão muito interessante na USP no momento, com duas chapas e eu acho que a discussão está muito bem colocada pelas duas e a discussão está sendo feita a respeito de pontos importantes. Eu acho que o exemplo da "universidade líquida", podemos tomar como a gestão da professora Soraya, ela fez isso. Quer dizer, é possível fazer. O meu ponto é que é possível, ou mais do que isso, já existe a universidade líquida. Ela já foi até a sociedade, ela já foi até a indústria, temos que permear tudo.

Outro ponto que eu não sei... Soraya, eu não sei se vocês dizem isso, mas é uma coisa que eu não gosto, que o pessoal comenta aqui na USP, dizer que a USP tem que seguir a sociedade. Não. Não, a USP e a Unifesp têm que ser a locomotiva. Nós temos que mostrar o caminho e a sociedade vai ser melhor porque nós estamos mostrando o caminho. Afinal, nós produzimos o conhecimento. E junto com a sociedade, eu acho que é um bom exemplo que a Soraya colocou da gestão dela, e acho que temos bons exemplos aqui na USP, já estamos em 50% de cotas, etc. Para uma universidade do nosso tamanho, é uma vitória muito grande.

Eu acho que podemos, realmente, ter uma universidade bastante diferente do que vemos na universidade americana. A Europa é mais um mosaico, talvez, de estilos diferentes, mas eu gostaria de finalizar dizendo que eu acho que a universidade brasileira já pode dizer que tem um estilo, e esse estilo foi mostrado pela professora Soraya. Porque em outros campi da Universidade Federal, professora, as pessoas estão indo no mesmo sentido.

E aqui nas universidades estaduais também estamos indo no mesmo sentido, dessa liquidez, dessa participação com a sociedade e, para isso, é preciso não distinguir mais arte de ciência, de política, nós precisamos pensar as coisas realmente de uma forma polimática. Por isso que eu coloquei aquela pontinha do século 21 no caminho da interdisciplinaridade. É isso. De novo, abraços fortes ao Muntadas, ao Martin, parabéns pela iniciativa, muito obrigado pelo convite e um abraço ao Ary também.

 

Ary Plonski

Obrigado, mas, antes de passar ao Muntadas, nós temos uma mensagem que não é uma pergunta, mas merece ser lida, de um colega servidor da Universidade, o Paulo Rocha. Prezados... Ele é um doutor em biologia e arte educadora ambiental, também tem esse lado de multi, vamos dizer assim, multi olhares e práticas, parabeniza o evento pelo tema e pelos convidados e convidadas. Excelente e emocionante relato da professora Soraya da Unifesp, também ampla e interessante a apresentação do professor Marcos do IB e cumprimenta. Antoni Muntadas, como você vê, você despertou mentes, olhos e também corações pelas falas da professora Soraya e do professor Marcos. Por favor, a palavra é sua, com muita alegria.

 

Antoni Muntadas

Sorprendido agradablemente por las dos participaciones súper brillantes de profesora Soraya y profesor marcos, para mí la idea de about Academia brasilera ayudar a contextualizar un modelo externo y ponerlo en cuestión, pero contextualizado en septiembre si hoy llueve aprendido muchísimo he aprendido con informaciones que no tenía y le ha dado sentido al proyecto, le ha dado el sentido el proyecto porque si el proyecto yo hablo de que tiene que ser activado que no es necesariamente una obra de arte es un artefacto antropológico que debe ser archivado y hoy ha sido activado en un

Brasil en su máxima dimensión yo agradecería a los posibles responsables de esto qué es Bart y mear y desde que se pudiese publicar las fotos que ha habido estos días? Por qué sería un complemento increíble para poder entender que este proyecto ha sido entendido y para transmitir unas informaciones que los dos casos son unas informaciones privilegiadas un importantísimo con eso quiero decir hoy y respecto al resto pues muchas gracias Martín y alguien porque esto ha llegado a su fin, pero yo siempre digo

Amor, espero que las cosas no acaban y que tiene un continuum y que también querría que olvidado al principio de darle gracias a Diego por ser la persona que manualmente y intelectualmente has podido hacer este trabajo en el sentido de lo que estás transmisiones la traducción analógica-digital, que yo creo que es un modelo Martín tendremos que pensar de que cuando no se pueden hacer las cosas de una manera, hay que hacerlas de otra y traducirlo todo a digitalmente en estos momentos que la pandemia los tenían cerrado, ha sido unas buenas buenas buenas modelo de que yo tenía un bicho, lo tengo que decir.

Perder la hay una excursión de movimiento de un espacio físico una sociabilidad un encuentro entre la gente pero reconozco que ha hecho posible el que sigas a más gente y que desde luego yo creo que la posible publicación con estos sentimientos sería fundamental gracias a todos y bueno también hacer puntualmente. Gracias a Soraya de traer la referirse a la viabilidad de la Universidad el siglo 21 y a Marcos el recuerdo del jardín de Platón y que todo comienza y que el jardín y la peripatética de la del saber eso algo que debe seguir quizás con otros medios estamos en una patética virtual pero ahí vamos muchas gracias.

 

Ary Plonski

Muito obrigado, caríssimo Muntadas. Queria dizer que como nós teremos duas, pelo menos duas formas de perenização dessa exposição, uma são os próprios vídeos que ficam disponíveis e a nossa experiência é muito antes da pandemia, isso foi desde a gestão do professor Steiner há um bocado de tempo. Essa midiateca é bastante acessada posteriormente e portanto, vamos dizer, esses debates que aconteceram em abril e agora, eles ficaram disponíveis, mas conversamos depois, não é, Martin e Diego? Como podemos... Não fazer uma transcrição, porque talvez fique um pouco extenso, mas tentar ver evidentemente com os participantes e as participantes se conseguimos fazer algo. E aí, junto com o Muntadas, para ter uma característica não só de diálogos, mas de também ter arte.

Bom, e aí você, Martin, que é em nosso guru artístico, terá muito a sugerir. Eu agradeço e certamente ficam muitas perguntas no ar. Uma das perguntas que eu deixo, é a questão que, nos Estados Unidos, na instituição de ensino superior, você tem vários modelos. Nós acabamos olhando mais o que é o nosso modelo específico, chamadas Universidades de Pesquisa, assim chamamos no Brasil, Research Universities, aquela classificação da Carnegie, mas o sistema de ensino superior é muito variado. Enfim, é uma das questões a refletir, mas temos material para outros temas e para outros encontros. Novamente, como sempre, ficaremos muito agradecidos se puder contar com a presença da querida professora Soraya, o Marco já é da casa, e o Antoni Muntadas. Você continua em Nova York ou não? Onde você está fisicamente, além de estar no espaço virtual?

Antoni Muntadas

Estoy en Venezia, dando clases. Cada año, tres meses entre otubre y deciembre estoy en la universidad de arquitetura Del Veneto. Y, bueno, es un buen complemento con Nueva York, más tranquilo.

Ary Plonski

Certo, muito bom. Então, te desejamos uma boa estada, um bom passeio de gôndola, felicidades e continuamos juntos, principalmente pelo Martin e pelo Diego, mas queremos saber do teu "Whereabouts", onde está Muntadas. Então... Obrigado a você. Martin, você fez a abertura, por favor, conclua.

 

Martin Grossmann

Muito rápido porque passamos já do horário previsto. Agradecendo a todos e a todas que contribuíram com a qualificação desses depoimentos, dessas contribuições aos debates iniciados em abril. Fecho com chave de ouro essa sequência, como o Muntadas também já mencionou. O que eu acho interessante, só o meu último comentário, é que no Brasil, eu sempre falo que nós nunca tivemos necessariamente uma academia de arte forte como vemos na Europa, essa formação mais específica do artista.

Aqui no Brasil, realmente, nós somos modernistas na base e o ensino, a formação do artista se faz na universidade, que é esse campo que o IAE explora talvez como ninguém esses institutos e a boa lembrança do Ary, da recém-criação do Instituto de estudos avançados e convergentes da Unifesp, criado pela reitora Soraya. É importante porque são esses instrumentos de interface, mas também que investem na transversalidade e que eu sempre brinco que é um campo muito rico que ainda não foi explorado pelas nossas universidades, que é de fato esse encontro entre as várias áreas.

Então, a arte faz muito sentido estar nesse campo, apesar da dificuldade que é de conversarmos, mas acho que esse dia de hoje, essa manhã, mostra que há sim, convergências, há sim, diálogo, a possibilidade do diálogo e da escuta. Eu acho que o mais importante, antes de tudo, vem a escuta para que a interação e a possibilidade de talvez de imaginarmos outra possibilidade, outras possibilidades de Universidade, seja elas líquidas, sejam elas permeáveis, sejam elas do que forem, mas certamente mais próximas à sociedade, mais próximas às diferentes realidades que encontramos ao redor do mundo.

Então, as Universidades precisam sim, olhar para o contexto. Eu acho que o Muntadas tem essa preocupação permanente nos seus vários projetos e esse, apesar da sua especificidade, deixei isso muito claro da necessidade de estarmos permanentemente pensando na Universidade. Mas, então é isso. Deixo aqui o meu abraço a todos e a todas e meu agradecimento a essa audiência, que não foi muito grande, mas eu acho que nos acompanhou de forma bastante frequente, que é importante. E como o Ary falou, todo esse material estará disponível... Está disponível e esse nosso encontro estará disponível em alguns dias.