“DE RASGOS ÁRABES...” [cara de árabe]: seminários, exibição de filmes, concertos pop e clássico e intervenções artísticas
PROGRAMAÇÃO
Dia 2 de setembro (terça-feira)
17h
Estrecho Adventure
filme de Valeriano López (1996, 6'25'')
Estrecho Adventure
analisa a imigração procedente das costas norteafricanas e adota o
formato visual de videojogo. Numa primeira parte o foco principal é
Abdul, personagem principal que deve superar uma série de obstáculos
para cruzar a fronteira. A segunda parte do vídeo nos mostra as ruas de
uma cidade marroquina onde as crianças brincam com um videojogo.
Cuando los hombres lloran
filme Yasmine Kassari (2000, 57')
Documentário
rodado na Andaluzia, trata da imigração clandestina dos marroquinos na
Espanha. A clarividência política não é a única virtude deste filme que
narra também, de maneira digna, a impotência e a vergonha desses homens
incapazes de voltar à sua terra e revelar o fracasso de seus sonhos.
Living in Barcelona
filme Zohr Rehihil (2001, 15’)
Numa
pequena oficina realizada em Barcelona, Zohr realizou este vídeo sobre
a imigração marroquina na mencionada cidade, um dos principais destinos
dos imigrantes magrebinos na Espanha.
Boujad, a nest in the heat
filme Hakim Belabbes (1992, 45’)
Boujad
constitui um olhar pessoal e angustiado aos temas da separação, a
independência e o retorno. É a crônica da viagem que o diretor do filme
realizou desde sua casa em Chicago até a sua cidade natal, Boujad
(Marrocos).
19h30
Transacciones/FADAIAT: produção, autoria, circulação
conferência de Joaquín Vázquez (co-fundador e membro de BNV Producciones)
"Somos mouros, estamos negros”: as marcas do árabe nas novas transações culturais
diálogo entre Joaquín Vázquez e Pedro G. Romero (curador do Projeto Rasgos árabes)
Dia 3 de setembro (quarta-feira)
Políticas
16h
Barnabé, tu és meu
filme de José Carlos Burle (1952, 90')
O Baile Perfumado
filme de Paulo Caldas e Lírio Ferreira (1997, 93’)
A
representação do árabe nestes filmes recebe dois tratamentos
distintos,o que mostra sua trajetória singular no cinema brasileiro. Em
“Barnabé, tu es meu”, o estereótipo do mundo árabe de palácios, véus e
sultões é anarquizado por Oscarito (Barnabé) e Grande Otelo (Abdula)
numa delirante carnavalização às superproduções hollywoodianas, típica
das paródias das chanchadas da Atlântida. Na comédia de José Carlos
Burle, a popular dupla de comediantes (Barnabé, malandro carioca
confundido com o sexto herdeiro de Salomão por ter uma estrela de David
tatuada na mão, e Abdula, o abanador-mor
da princesa Zuleima)
terminam ludibriando o amável Salomão, mascate a quem Barnabé deve
dinheiro e que faz apenas breves aparições. Em “ O Balie Perfumado”
baseado numa história real, o mascate libanês Benjamin Abrahão
embrenha-se no sertão para filmar Lampião e seu bando, e o imigrante
árabe que até então fizera papéis pequenos, embora marcantes, em filmes
como O Cangaceiro e Corisco, o Diabo Louro, torna-se protagonista. Ao
colocar em meio à ficção as próprias cenas filmadas por Abrahão em 1936
o filme de Paulo Caldas e Lírio Ferreira subverte o “gênero” do cangaço
e questiona os limites entre a realidade e a representação.
19h30
Apresentação geral do projeto De rasgos árabes...
Ana
Tomé (diretora do Centro Cultural da Espanha em SP), Pedro G. Romero
(artista e curador do projeto), Michel Sleiman (Professor de língua e
literatura árabe no Depto de Letras Orientais da USP) e Fernando
Gerheim (escritor, artista, professor de literatura, cinema e artes)
Árabes e muçulmanos na Tríplice Fronteira: construções discursivas e formações identitárias
conversa
entre Silvia Montenegro (Doutora em Sociologia pela UFRJ), Fernando
Rabossi (Doutor em antropologia social pela UFRJ) e Paulo Hilu da Rocha
Pinto (mediador e professor do Departamento de antropologia e
coordenador do núcleo de estudos sobre o oriente médio, na Universidade
Federal Fluminense)
A Tríplice Fronteira é a zona de encontro
de diferentes culturas formada pelas cidades de Foz do Iguaçu, no
Brasil, Ciudad del Este, no Paraguai,e Puerto Iguazú, na Argentina, e
tem como principal marca a presença de novos imigrantes libaneses e
palestinos saindo de uma situação deconflito no Oriente Médio, que são
atraídos para a região pela possibilidade de prosperar com o comércio e
pela comunidade de imigrantes já estabelecida na área.
Dia 4 de setembro (quinta-feira)
Histórias
16h
Noite Vazia
filme de Walter Hugo Khoury (1964, 93')
Navalha na Carne
filme de Braz Cediak (1970, 90')
Noite
Vazia e Navalha na Carne mostram duas visões distintas do amore do
erotismo em universos antagônicos: em Noite Vazia, a alta burguesia e o
submundo da prostituição e da marginalidade. Walter Hugo Khoury narra a
históriade dois amigos da elite paulistana que terminam a noite com
prostitutas de luxo (Norma Bengell e Odete Lara) depois de rodarem as
boates da cidade buscando fugir em vão de suas existências vazias. O
filme, com produção da Vera Cruz e indicado à Palma de Ouro de Cannes
em 1965,mostra o estilo próprio, de alto rigor estético, criado por
Khoury, diretor singular no panorama da época dominado pelo Cinema Novo
e por preocupações sociais. Em Navalha na Carne, adaptação da peça
homônima de Plínio Marcos, Braz Chediak mostra uma visão do amor e do
erotismo no sórdido universo da marginalidade por meio da história da
prostituta Neusa (Glauce Rocha), do cafetão Vado (Jece Valadão) e do
homossexual Veludo (Emiliano Queiroz). Louvado pela crítica e
considerado o melhor filme de Chediak, é também uma obra singular no
início da década de 1970, época do cinema marginal e do começo das
pornochanchadas Estes dois filmes dirigidos por descendentes de
libaneses são marcos da cinematografia brasileira.
19h30
Apresentação do projeto De rasgos árabes... no Brasil
Michel Sleiman e Fernando Gerheim
Imigração, memória e orientalismo
diálogo entre Milton Hatoum e Alberto Mussa (escritores)
21h30
Artificial
concerto de Kamal Kassin
Concerto pop eletrônico
programado por Kamal Kassin no Game Boy, um jogo eletrônico portátil
primitivo que o músico usou para compor quando excursionava pelo
interior dos Estados Unidos em 2002 e não tinha estúdio para gravar.
Kassin criou o projeto Artificial e nomeou o álbum Free USA.
Compositor, instrumentista e produtor musical, o leque pop experimental
dos trabalhos de Kassin vai desde a Orquestra Imperial, com repertório
de sambas de gafieira, passando pelo projeto +2, com Moreno Veloso e
Domenico Lancellotti, em que a cada álbum dois deles acompanham o
trabalho solo do outro, até a produção dos CDs de Caetano Veloso, Jorge
Mautner, Vanessa da Matta e Los Hermanos, entre outros.
Dia 5 de setembro (sexta-feira)
17h
Madame Satã
filme de Karim Aïnouz (2002, 83')
A
Lapa boemia do Rio de Janeiro da década de 1930, em que o
homossexual,negro e analfabeto João Francisco dos Santos (Lázaro Ramos)
se recusa a submeter-se à opressão é o tema do filme de Karim Aïnouz,
baseado em um personagem real. João revolta-se contra sua condição de
exclusão,seja com a capoeira ou com a arma de fogo, e alterna
temporadas na prisão com a vida “em família” com a prostituta Laurita e
o também negro homossexual Tabu; o caso com o amante que o trai e
entrega-o à polícia; e michês com homens que o procuram furtivamente.
Neste mundo em que erotismo, violência e exclusão se confundem, ele
acaba conseguindo realizar o sonho de ser um artista transformista
subindo ao palco improvisado dobar Danúbio Azul, e cria para o carnaval
a emblemática fantasia de Madame Satã, título de um filme de Cecil B.
de Mille. As cores noturnas que evocam a sensualidade desse mundo de
amores proibidos, por vezes com imagens desfocadas e fora do “raccord”,
fazem com que o filme do cineasta cearense de origem berbere Karim
Aïnouz ecoe em seu alto teor erótico Un chant d’Amour, filmado por Jean
Genet no norte da África.
19h30
Apresentação do projeto de rasgos árabes... na América Latina
Pedro G. Romero
O Islã Africano na Diáspora: Tates-Corongos, Insurreição e Resistência Negra no Brasil Imperial
conferência
de Rogério de Oliveira Ribas (Professor Depto de História da UFF e
especialista no estudo da sociedade arábico-muçulmana)
21h30
A moura encantada - Os árabes na tradição musical luso-brasileira
Concepção de Anna Maria Kieffer
Com
Anna Maria Kieffer (mezzo-soprano), Sami Bordokan (voz e alaúde árabe),
Cláudio Kairouz (qanoun), William Bordokan (percussão) e Sebastião
Marinho e cantador repentista.
O concerto concebido por Anna
Maria Kieffer, com arranjos próprios e de Sami Bordokan, refaz a
trajetória desde a Idade Média até nossos dias, mostrando como a
presença moura ao longo de oito séculos na península ibérica foi
trazida para o Brasil pela colonização portuguesa, incorporou-se à
nossa formação cultural e pode ser encontrada na música que se faz
hoje. O concerto se origina de uma pesquisa realizada pelos músicos e
compila peças dessas várias épocas, algumas executadas com instrumentos
tradicionais. A fábula “A moura encantada” alude à essa presença
através dos tempos.
De 2 a 5 de setembro
INTERVENÇÕES ARTÍSTICAS
Lucia Koch - Conjunto K, 2008
Intervenção com padrões recortados a laser; fundo refletor; piso iluminado; sistema tuboLED
O
trabalho de Lucia Koch nos sugere, em seu tratamento da luz e na
utilização da arquitetura como linguagem, a mesma pergunta que surge a
partir da morte do brasileiro Menezes: aonde está o árabe? Ela
apropria-se de elementos de influência mourisca que se adaptaram e se
incorporaram à arquitetura brasileira e aproximam os trópicos do
oriente – esses dois modelos “periféricos” de civilização.
Frente 3 de Fevereiro - A morte de Flavio Sant’ana / Trilogia das bandeiras
Série de 2 múltiplos em formato de postal (10cm x 15cm; 4 x 1) para reprodução
Coletivo
formado por 21 pessoas, entre artistas plásticos, músicos, atores,
cineasta, cenógrafo, designer gráfico, historiador, socióloga e
advogado. Suas ações sempre políticas são planejadas para o espaço
público e freqüentemente para uma escala de massa, infiltrando-se no
circuito midiático.
Projeção contínua do documentário: Que teus olhos sejam atendidos, de Luiz Fernando Carvalho (2000, 171')
Ao
ser lançado em 1975, Lavoura Arcaica, de Raduan Nassar, torna-se
imediatamente um clássico da literatura brasileira. Em 1998, decididido
a transformá-lo em filme, Luiz Fernando Carvalho vai ao Líbano com o
escritor e de sua pesquisa surge o documentário Que teus olhos sejam
atendidos,expressão árabe para desejar a alguém que realize seus
desejos.
Local: Cinemateca Brasileira (Sala Cinemateca BNDS)
Largo Senador Raul Cardoso, 207, Vila Clementino, São Paulo
Informações: 3512-6111 ramal 275
Lotação: 210 Lugares
Seminários, concertos e intervenções: Entrada Franca
Filmes:
R$ 8,00 e R$ 4,00 (meia-entrada) e grátis para estudantes do ensino
médio e fundamental de escolas públicas, mediante apresentação de
carteirinha.