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BIENAL DE ARQUITETURA - ???? it cities America Latina: São Paulo – Buenos Aires – Santiago do Chile – Valparaiso

A mostra é resultado parcial do projeto de pesquisa em rede: CIUDADES OCASIONALES - ????-IT CITY Y OTROS FORMATOS DE TEMPORALIDAD (www.ciutatsocasionals.net), idealizado por Martí Peran, e promivido pelo Centro de Cultura Contemporânea de Barcelona (C.C.C.B.)

Ficha Técnica:

Realização
Núcleo de Pesquisa – Associação de Ensino de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo
Newton Massafumi Yamata (diretor)

SAO PAULO

Supervisão geral
Pedro Sales

Coordenação de pesquisa e edição
Tatiana Sampaio Ferraz

Pesquisadores
Ana Emília Andrade, Lauro Rocha, Maria Emília de Barros, Marina F. Pappa, Marina R. Sznelwar, Paula Marques, Renata S. M. Gaia, Renata Matsuoka, Rodrigo F. Oliveira

Colaboradores
Celso Pazzanese, João Kehl, Lauro Rocha, Luciana Sampaio, Nana Blanaru, Rafael  Schardosim , Ana Terra Capobianco, Caio Camarinha, Iara Rolnik Xavier (Instituto Pólis), Jorge (Informática), João Khel, Marcelo Dondo,    Marco Antonio Paraná, Omar Dalank, Renato Cymbalista (Instituto Pólis), Stefanno R. Rocco

BUENOS AIRES
Ciudades Ocasionales Buenos Aires - Feira La Salata

Equipe
Julián D´Angiolillo, Martín Di Peco, Paola Salaberri, Pío Torroja, Adriana Vazquez, Marina Zuccon

SANTIAGO DO CHILE
Ciudades Ocasionales Scl

Coordenação
Pablo Brugnoli / SPAM_arq

Equipes
Proyecto Perú_Carlos Costa, Carolina Ibarra, Cristián Frías, Cristóbal Zolezzi, Emelyn De Los Ríos, Pedro Gómez
Espacio Micro_Paola Velásquez, Pilar Ortiz
Balneario Mapocho River_SPAM_arq / www.spam-arq.cl
Proyecto Fachada_TUP / Trabajos de utilidad Pública
www.tupblog.wordpress.com

Design grafico
Kathryn Gillmore

VALPARAISO
Jugar contra la corriente

Coordenação
Galería de Artes Visuales h10
Vanessa Vásquez Grimaldiˇ


APOIO CULTURAL
AEAUSP e Escola da Cidade
SEACEX - Embaixada da Espanha no Brasil
Centro Cultural da Espanha em São Paulo
Centro Cultural da Espanha em Buenos Aires
Centro Cultural da Espanha em Santiago do Chile

Texto de curadoria:

Agenciamentos coletivos da cidade contemporânea
Usos coletivos e nômades do espaço público. Atuações transitórias que inventam condições e situações públicas não usuais. Aparições ocasionais, desaparições e reaparições ingovernáveis. O termo POST IT, cunhado por GIOVANI VARRA (2001),  a partir dos prosaicos blocos de recados e anotações usadas no dia a dia, procura dar conta  de uma cartografia móvel, mutante, "mapas feitos a lápis" do relevo, das formas de uso e itinerários espontâneos que investem o território contemporâneo.  Não codificados e desterritorializantes, os usos coletivamente intempestivos da cidade e dos edifícios convocam uma visão crítica sobre os espaços desprezados pelas funções produtivas ou que estão invisíveis às políticas urbanas.  De fato, a natureza das práticas coletivas POST IT talvez não possa ser medida por reivindicações absolutas, nem por perspectivas radicais de transformação: nesse sentido, de certo modo, POST IT constitui uma espécie de crítica implícita às estratégias e aos instrumentos com os quais a arquitetura e o urbanismo operam na cidade.  Implícita porque não dá lugar a reivindicações específicas e porque seu território é indeterminado, seu enunciado contingente e sua técnica a bricolagem; improviso, localização imprevista e transmutação de código.

No âmbito da pesquisa em rede CIDADES OCASIONAIS  — www.ciutatsocasionals.net —, concebida e impulsionada pelo professor MARTI PERÁN desde o Centro de Cultura Contemporanea de Barcelona,   a mostra preparada para essa 7ª BIA procura registrar o atual momento do trabalho de pesquisa desenvolvido por professores e alunos de arquitetura e urbanismo do Núcleo de Pesquisa da Escola da Cidade, trazendo e fazendo conviver, em trabalho de curadoria, experiências cartografadas na cidade de São Paulo, Buenos Aires, Santiago do Chile e Valparaíso.

???? it cities: cidades ocasionais?
Para nós, antes de tudo, trata-se de agenciamentos da cidade contemporânea. Acontecimentos, composições improváveis, que relêem e re-propõem coletiva e transitivamente o espaço público urbano. Mesmo eventuais, contingentes, passageiros, ou seja, essencialmente temporais, tais acontecimentos ou agenciamentos pressupõem uma relação de fluxos diversos com um território (emissões e encontros) e essa relação é de descodificação/recodificação. Um fluxo qualquer, desterritorilizado, reterritoriliza-se em outro lugar, um certo canto.

Daí a pro????a: mapear os fluxos, os territórios, os códigos e dispositivos (an-arquiteturas) que definem, na cidade de São Paulo, algumas das temporalidades que reinventam o espaço geral da ordem, engendrando territorialidades efêmeras da criação coletiva. Sem idéias gerais, nem maniqueísmos. Mas maquinismos. Cruzar linhas...

Captar as articulações do real e re-cortar bem nelas.
No caso europeu a noção de ????-IT CITY remete ao que se opõem [opposite-city?] à figura ordenada e codificada do espaço público e seus usos. Seja ela o da cidade oitocentista, seja a resultante das novas operações e projetos especiais e as correlatas hiper-definidas configurações dos espaços abertos. 

Três aspectos caracterizam, segundo VARRA, a condição ???? IT:
1. sua indiferença à rede tradicional das centralidades, sua irredutibilidade aos principais fluxos que atravessam o território;
2. a temporalidade, a efemeridade de sua manifestação, das práticas coletivas: é a presença das pessoas que a ativa;
3. a intensificação de espaços e lugares anônimos, “terra de ninguém,” surpreendentemente disponíveis a abrigar práticas coletivas. Mas também intensificação de significados que derivam da materialidade do próprio espaço: terrenos vagos, espaços residuais conectados a sistemas infra-estruturais territoriais, bordas de áreas urbanizadas, espaços à margem da reflexão projetual da arquitetura e do urbanismo.

Nas cidades brasileiras (e latino-americanas), o empréstimo do termo pode ajudar a cartografar situações urbanas marginais, tangentes tanto à ordem sobre-codificada da riqueza quanto à necessidade determinante da pobreza. Portanto, é no interior deste intervalo que distancia e enrijece as posições cada vez mais opostas, e para lá do uso codificado, primário do espaço urbano, onde esta pesquisa monta seu campo de indagação e experimentação.

A contemporaneidade da questão, entretanto, não significa superação dos aspectos excludentes e regressivos que marcam a vida e o funcionamento urbano. Pelo contrário, o tempo é, antes, o de sua culminância. Mas é também —  desde a multiplicidade, a politextualidade e a fragmentação dos discursos, racionalidades e lógicas que permeiam e caracterizam a sociedade atual — tempo de abertura, deriva e experimentação coletiva. Manifestações e acontecimentos, temporalidades que se desenham indiferentes a formas e funções codificadas, univocamente absolutas e fortemente determinadas. Residuais, contingentes, criativas são antes agenciamentos inesperados e ocasionais: fluxos, descodificações, desterritorializações. Modalidades de encontrar-se, agregar-se, reconhecer-se e distinguir-se de modo não tradicional. Pistas... intensidades e linhas que se entrelaçam e que talvez abram buracos no tecido urbano estratificado, por onde fazer passar novas condições e potencialidades de vida urbana.



Cartografia: casos em estudo
No atual estágio desenvolvimento em que se encontra (resultado do trabalho de identificação, convivência, registro e edição), a pesquisa em São Paulo traz cartografados os seguintes casos:

  • feira de imigrantes bolivianos

Na dinâmica migratória constituinte da cidade São Paulo, que a povoa desde pelo menos meados do século XIX, a última corrente que se estabelece tem origem boliviana. Seu motor e condição de existência é a precarização dos meios de vida e de trabalho. Os ganhos relativos e os benefícios supostos pelo deslocamento geográfico são anulados pelo regime de permanência e de exploração a que é submetida grande parte deste contingente migrante: clandestinidade, jornada de trabalho e salários resultam situações altamente perversas. Ao binômio reclusão/exaustão física-exclusão social que marca seu dia-a-dia, a alternativa que se apresenta tem na feira dominical da comunidade no bairro do Pari território e código de referência. Rincão, abrigo de manifestações, sulco de memórias coletivas. Mas também, objeto em processo de captura: códigos sanitários, inserção cultural, classificados, canais financeiros. Sobrecodificações.

  • academia de box em baixos de viaduto

A prioridade política e a ênfase tecnicista conferidas aos sistemas viários estruturais na cidade de São Paulo nas últimas quatro décadas, sua absurda autonomia e incongruência territoriais, acabariam por legar não só formas e paisagens incompatíveis e disfuncionais, como, por isso mesmo, amplos espaços residuais, restos amorfos e vazios desconexos. A preocupação em dar uma utilização e significados positivos a esses espaços sempre esbarraram na própria estreiteza e/ou desprezo das iniciativas públicas. Só um desejo potente e alucinado poderia promover os encontros e as condições necessários para agenciar becos e pessoas, rejeitos e regras, em incríveis combinações e bricolagens de pilares, pneus e geladeiras, de livros e ringues a serviço do box. A obrigatória mudança do endereço original só faz mostrar que o vazio dos espaços é o vazio das idéias.

  • espaços de ócio e lazer em via elevada

Se a hegemonia da engenharia viária produziu incongruências e disfunções, produziu também uniformidade e redundância: seria o destino inexorável das grandes infra-estruturas urbanas? A discussões e tentativas disciplinares se debatem interminavelmente entre a remoção, o enterramento ou a melhoria da aparência, do funcionamento e dos efeitos de uma via elevada na região central da cidade. Enquanto isso, a medida de expandir, incluindo o domingo, o tempo de fechamento da operação de um trecho abriu a possibilidade de uma releitura prática, coletiva, daquele espaço público: uma faixa de asfalto de 12 metros de largura por 2 km de extensão, elevada 9 metros do chão, como campo de atividades do tempo livre. Os pontos de acesso obrigatoriamente em rampa se tornaram portas e a área em torno a cada uma delas ponto de encontro-domínio de um grupo, de “uma” cultura urbana.  A despeito da inadequação e precariedade das condições, multiplicidade.

Das cidades latino-americanas vêm selecionadas as seguintes manifestações:

  • feira  em Buenos Aires

La Salada á a maior feira ilegal da América Latina e foi identificada pela União Européia como o símbolo mundial do comércio e da produção de mercadoria ilegal. Instalada perto de Lomas de Zamora, ao sul da avenida 9 de Julho, em um lugar onde havia tanques de água salgada, graças a ela vivem 60 mil famílias de distintas nacionalidades. Altas instituições comerciais, industriais e jurídicas, bem assim operações policiais, têm fracassado em seu intento de desbaratar a feira, cujas vendas não crescem mais precisamente por falta de poder de produção. Nesse contexto, os puestos, ou pontos comerciais, constituem objeto de difundidos negócios imobiliários, compra, venda e aluguel, e os fluxos de pessoas e marcas se dá duas noites por semana, quando encontra-se tudo que não é permitido, e onde “o ocasional espontâneo e o permanente consolidado confrontam suas temporalidades”.

  • jogar contra a corrente nas ruas de Valparaíso

“A figura da declividade é parte fundamental da paisagem de Valparaíso. Sobre ela se construiu todo o imaginário cultural da cidade. Aí, o jogo de futebol de rua tem sua própria cara. Jogar contra a corrente é sua característica. As crianças jogam nas ruas, pintando a cancha no próprio chão. Em declividade. Inserindo a variante newtoniana como parte fundamental das regras do jogo. Onde a lógica do poder se instala para além do resultado numérico. O jogador ou equipe em desvantagem está realmente em desvantagem. Esta ocupação espontânea do espaço público por parte de seus habitantes é a metáfora perfeita que vincula arte e cultura local ou global.”


Os curadores
São Paulo, novembro, 2007