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A cidade transcriada

por Jorge Menna Barreto




A cidade transcriada  - - - - - - - - - - - - - -


 
 
 - - - - - - - A cidade é um texto, que pode ser lido, traduzido, sublinhado e deglutido.

O ponto a partir do qual Jürgen Partenheimer leu São Paulo foi um apartamento no 27º andar do Edifício Copan. Este apartamento, tornado uma espécie de máquina de leitura da cidade, foi residência para o artista durante quatro semanas em abril de 2005.

 O que resulta desta leitura é uma tradução, ou melhor, uma transcriação para o desenho e a escrita da percepção que o artista teve de São Paulo. Ao olharmos os desenhos, no entanto, não enxergamos uma cidade retratada, mas um registro nervoso e turbulento de seus fluxos.

 A turbulência do “Diário Paulistano” foi um ponto enfatizado na mesa por Laymert Garcia dos Santos. Essa turbulência parece ser uma novidade no processo artístico do artista, já que a sua produção anterior foi caracterizada por muitos críticos como suave, silenciosa, sutil e delicada. A inquietação não se apresenta somente nas linhas do desenho, mas no texto escrito do artista, que complementa a sua produção visual.

           
A cidade não cabe no meu olho. Caberia em um olhar estrangeiro?
 
Dezoito milhões de habitantes não cabem num olhar, nem em uma pessoa. A cidade de São Paulo escapa por todos os lados, e por isso a enorme sede em definí-la. Ivo Mesquita, habitante de São Paulo e também participante da mesa, deposita no olhar estrangeiro uma esperança: um olhar estrangeiro sobre o lugar onde moramos nos ensina a olhar.


- - - - - - - -Silêncio

                   
Intoxicação - - - - - - - -

Das quatro semanas em São Paulo, duas o artista ficou sem produzir, intimidado pela realidade crua do centro da cidade.  Laymert comparou a obra produzida por Partenheimer à de Henri Michaux, que também aglutinava o desenho e a escrita, sob o efeito da droga mescalina. Em tom jocoso, foi comentado que a mescalina de Partenheimer teria sido a própria cidade de São Paulo.

   
A escuta do lugar - - - - - - - - - -

São três as escalas de observação nos desenhos de Jürgen: o indivíduo, situado em um edifício projetado por Oscar Niemeyer, em uma megalópole. O sujeito, a arquitetura e a cidade.

Jürgen nos fala da busca de um indivíduo situado, ironicamente a partir de seu próprio deslocamento da Alemanha para São Paulo. Mais irônico ainda talvez seja empreender essa busca em uma cidade com tantos fluxos desterritorializantes. Mas talvez a idéia de domicílio do artista seja outra, não a da cidade habitada, mas a da linguagem criada. A residência do artista em São Paulo terminou, mas sua vivência se estende para os seus registros, tornados uma forma prolongada de vínculo com o lugar, ou um lugar em si. E é nesse lugar discursivo e estético que o artista demarca o seu habitar.