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Mesa “A Experiência Pioneira do MAC USP no Programa de Ação Educativa Inclusiva e as novas tendências para acessibilidade em museus e centros culturais”

Relato por Camila Bosquetti Lopes

Conferência: “A Experiência Pioneira do MAC USP no Programa de Ação Educativa Inclusiva e as novas tendências para acessibilidade em museus e centros culturais”. Martin Grossmann - Centro Cultural São Paulo[1]

 

Relatora: Camila Bosquetti Lopes[2]

 

O palestrante iniciou sua fala afirmando a importância da conjunção de esforços entre instituições e lideranças para se pensar e efetivar a acessibilidade nos locais públicos; em especial nos museus/centro culturais: locais em que ocorre a mediação entre saberes, linguagens diferentes e experiências singulares que de forma conjunta, culminam numa experiência coletiva e também única para cada um; possibilitando um novo sentido àquilo que foi vivenciado nestes espaços em que se busca a democratização.

A cegueira tem um significado importante à sua trajetória profissional, afinal, seu início está vinculado à mediação realizada entre o museu onde atuava (MAC USP) e o público com deficiência visual.

No início da década de 80, a convite de Aracy Amaral, o autor, juntamente com seus colegas de equipe, organizou uma exposição acessível para este público. Na ocasião, a ousadia de Araci Amaral (curadora da exposição) e Dorina Nowill, possibilitou um encontro dos visitantes com o museu de uma forma diferente da convencional, oferecendo a possibilidade de se tocar nas peças expostas. Sendo assim, criou-se uma exposição objetivando atrair as pessoas com deficiência visual ao museu MAC USP.

Esta experiência foi considerada pelo autor como única, fascinante e envolvente, pois foi possível vivenciar e compartilhar diferentes formas de conhecer a arte; que não se liga diretamente ao belo, ao estético; através do toque, da expressão corporal e dos conhecimentos alheios trazidos pelos visitantes da exposição.

Em contrapartida, na década de 1990 em Liverpool ocorreu uma exposição onde o público com deficiência visual só poderia tocar as peças e usassem luvas específicas.

Estas são experiências que nos mostram o desafio de efetivar a acessibilidade em museus.

Com a mudança de paradigma, cada vez mais questões sobre ações inclusivas têm ganhado visibilidade nos debates. Isto nos remete à necessidade refletir para incluir em nossa prática cotidiana o espaço do outro. Enquanto psicóloga, a questão da inclusão social se faz pertinente. Lembro-me de uma cliente cega que fica constrangida em utilizar sua bengala branca de maneira adequada em locais muito movimentados. Fica preocupada em realizar a exploração do ambiente de forma correta, abrangendo um espaço maior com a bengala e causar um acidente... Alguém tropeçar e cair. Essa preocupação da cliente nos fala de um lugar em que pessoas com deficiências podem (ou não) ocupar em nossa sociedade, variando de pessoa para pessoa. Neste caso, esta preocupação é reflexo de ações populares onde o diferente causa desconforto e deve manter-se afastado. Pessoas assim são marcadas pelo preconceito e sofrem com a exclusão que a sociedade lhes impõe.

O palestrante também chamou a atenção para a necessidade de se valorizar o estranhamento; o diferente. Onde operar pela reversibilidade, pela dúvida pode gerar reflexões acerca das necessidades alheias e nos mostrar caminhos diferentes, transformando e amadurecendo nossa experiência.

Pensando na instituição como organização, no que se refere ao Centro Cultural São Paulo, CCSP, o palestrante contou que como proposta inicial de sensibilização e motivação para as mudanças, foi realizada uma vivência com os colaboradores, onde os mesmos deveriam se locomover na cadeira de rodas ou ainda com vendas nos olhos; além disso, os colaboradores da CCSP participaram de uma sessão com audiodescrição do filme “Janela da Alma”.

Além disto, referiu que quando as pessoas entendem o sentido da acessibilidade; do que significa, elas passam a se relacionar com esta questão de outras maneiras. Contou que a mudança ocorrida na biblioteca foi muito significativa e é sempre importante a parceria constante para se ampliar a acessibilidade; sendo que antes, a biblioteca estava localizada no extremo ponto norte; como uma ocupação independente e isto favorecia o pouco acesso com as outras áreas, pois quem visitava a biblioteca Braille não freqüentava outros espaços do CCSP.

Atualmente, a biblioteca transformou-se em uma praça de bibliotecas, onde existem inúmeras escolhas e possibilidades. Num mesmo espaço, existem as bibliotecas Braille, Infanto-juvenil, gibiteca, etc.

Chamou a atenção do público para a provocação: A cegueira no meio da cultura visual! E o quanto foi difícil convencer os usuários da biblioteca Braille e também os colaboradores da biblioteca desta nova proposta. Para tais mudanças, foi necessária a colocação do piso tátil, equipamentos como softwares de som e vídeos ampliados; além  da colaboração de outras instituições, como Fundação Dorina Nowill para Cegos e Laramara; além de lideranças, como Mara Gabrilli[3], para que a proposta fosse de fato efetivada.

Soma-se à isto, o desafio de fazer com que as pessoas que planejam a pensam na programação para o público, pensem também em acessibilidade.

Para finalizar, o palestrante evidenciou a importância da audiodescrição como estratégia de acessibilidade e inclusão de pessoas com deficiência visual; sendo o curso para formação de audiodescritores uma tendência pertinente.

Refletindo sobre as falas do palestrante, fiquei pensando na importância de atitudes ousadas e inovadoras na intenção de se promover a acessibilidade.

Penso que foi uma feliz idéia a união de várias bibliotecas num mesmo espaço físico. Implicitamente, são conhecimentos, saberes, idéias diferentes que dividem e compartilham do mesmo espaço. Sem dúvida, o mesmo acontece com os freqüentadores: diferentes pessoas, com vivências diferentes que utilizam o espaço da biblioteca e mesmo sem intenção direta, partilham; convivem.

Este espaço tornou-se um lugar que favorece diferentes formas de comunicação e relacionamentos; e consequentemente, possibilita uma experiência significativa aos freqüentadores.

Essa disponibilidade em pensar alternativas para a efetivação da acessibilidade é fundamental à nossa realidade. É fundamental que nossa sociedade aprenda e efetive ações que favoreçam a acessibilidade aos diversos públicos existentes.

Contudo, cada vez mais se tem criado alternativas para inclusão e acesso de públicos diversos em espaços públicos. Sem dúvida, este é o início de uma caminhada que tem se fortalecido.

 


[1] Professor Titular da Universidade de São Paulo. Diretor do Centro Cultural São Paulo desde agosto de 2006. Criador e Coordenador do "Fórum Permanente: Museus de Arte, entre o público e o privado". Atua como gestor cultural desde 1985 em importantes Instituições de Arte, práticas essas apoiadas pelas pesquisas e estudos em Curadoria; Ação, Mediação e Política Cultural; Museologia; Critica, Teoria e História da Arte.

 

[2] Psicóloga aprimorada em psicologia hospitalar pelo Instituto de Infectologia Emílio Ribas atualmente atuando na Fundação Dorina Nowill para Cegos como psicóloga no setor de atendimento especializado com enfoque na reabilitação de adultos cegos e com baixa visão.

 

[3] Psicóloga; publicitária; Fundadora do Projeto Próximo Passo (Instituto Mara Gabrilli), atuando na Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida da Cidade de São Paulo – (SMPED)