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Sobre a situação dos museus diante da cidade

Por Carlos Eduardo Riccioppo – Relato da mesa “Gestão e planejamento estratégico nos museus: construindo planos museológicos no interior do Estado”. Com mediação de Claudinéli Moreira Ramos, Secretaria de Estado da Cultura, a mesa foi composta por Angélica Fabbri, Diretora da ACAM Portinari, e Jorge Rizek, Secretário municipal de cultura de Tatuí. 22/06/2010

Por Carlos Eduardo Riccioppo

 

No intuito de apresentar os dois expositores ali presentes, bem como a pauta geral a ser discutida, a mesa deste primeiro período da tarde de terça-feira no âmbito do II Encontro Paulista de Museus inicia-se com uma fala de abertura de Claudinéli Moreira Ramos, da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo (SEC), seguindo-se a isso uma exposição de Angélica Fabbri (Diretora da ACAM Portinari) e uma de Jorge Rizek (Secretário municipal de cultura de Tatuí). Ao final, abriu-se para poucas perguntas da platéia, respondidas a seguir pelos integrantes da mesa.

Não é nosso propósito, aqui, recapitular todas as exposições que se fizeram na ocasião, mas, antes, buscar encontrar as questões recorrentes ali apresentadas, a primeira delas certamente já prevista na fala inicial de Claudinéli, que deixava entrever, de saída, uma preocupação acerca da estrutura e do planejamento museológicos.

A mediadora apontou para o fato de que ter-se-ia conseguido elaborar planos museológicos para os 23 museus ligados à SEC, e também para o processo de municipalização pelo qual os museus do interior do estado vêm passando, o que, para ela, indicaria um posicionamento rumo à profissionalização, em tudo capaz de reverter uma realidade marcada pelo amadorismo na pauta da cultura.

O mesmo diagnóstico, bem como as mesmas constatações, pareciam compor a exposição de Angélica Fabbri, que dizia encontrar, hoje, no cenário dos museus, uma grande efervescência, decerto estimulada em primeira mão pela elaboração de planos museológicos – isto que todo o evento parece abordar.

Angélica buscou demonstrar de que modo a associação da qual é representante vem oferecendo apoio à articulação dos museus no interior do estado de São Paulo, e a preocupação principal de sua fala pareceu ser a relação que se estabelece entre cada museu e a cidade em que se encontra – ela identificava um processo de descolamento entre as instituições e as cidades e via que o quadro somente poderia ser revertido caso se buscasse uma reformulação conceitual das instituições, restruturando principalmente sua curadoria, de modo que pudessem adquirir uma função representativa para as cidades. Não obstante, lembrava que o museu precisaria ser pensado dentro do contexto da cidade inclusive como propulsor do turismo cultural, de modo a torná-lo capaz de gerar e movimentar recursos.

Para tanto, comenta os planos museológicos elaborados para esses museus na parceria entre a EXPOMUS, a SEC e a ACAM Portinari, que tinham por objetivo repensar primordialmente a política de acervos das instituições e, a seguir, pensar quais os objetivos de cada uma delas, respeitando sua história e sua trajetória – planos cuja publicação está prevista para logo.

O último expositor foi Jorge Rizek, Secretário municipal de cultura de Tatuí, que comentou as fases da municipalização do Museu Histórico Paulo Setúbal, a partir do ano de 2008. Tratar-se-ia, certamente, de um caso de êxito do modelo de administração das instituições que vinha sendo exposto na mesa: o secretário comenta que o acervo começou a se constituir em 1956, por meio de doações da família do poeta que dá nome ao museu atualmente e do restante da população, e que é por meio desse acervo que o museu conta a história da cidade; comenta também que a cidade sempre interagiu com o museu e que o processo de municipalização não encontrou resistência na prefeitura da cidade. Lembra ainda que se formou uma equipe formada por especialistas, entre eles  historiadores, que foram até lá para ouvir e colher histórias da população. O projeto teria começado há dois anos, com uma licitação da SEC.

Talvez o momento mais intrigante da mesa, porém, tenha sido trazido especialmente por duas perguntas da platéia, em sua maioria formada por secretários da cultura e por pessoas ligadas à administração de museus das cidades do interior do estado; elas tratavam, de algum modo, de retomar o que, quem sabe, poderia ter ficado faltando a uma discussão que pretendesse, de um lado, avaliar a situação das instituições visando à sua restruturação, e, de outro, perguntar-se sobre a importância e a problemática da relação entre essas instituições e o contexto urbano do qual são parte – de resto, preocupações que mereceriam uma análise capaz de colocar em dia uma discussão mais profunda, atenta não apenas à bem sucedida manutenção e reformulação das instituições, mas também à vigência dos trabalhos de tais instituições no imaginário e na formação das cidades na situação contemporânea (discussão que, todavia, tenderia a rebaixar o ânimo celebratório daquelas cidades e secretarias que ao longo do II Encontro Paulista de Museus vieram apresentar depoimentos de sucesso de suas administrações).

A primeira dessas perguntas tinha o intuito de saber “qual o caminho das pedras” para se conseguir verba para a reforma de uma instituição; a ela, quem respondeu foi Claudinéli, aconselhando os municípios a buscarem parcerias por eles mesmos, para além da intervenção do estado. À segunda pergunta – como lidar com uma situação de falta de apoio da população à instituição –, os debatedores responderam afirmando que o trabalho com a população leva tempo e que precisa saber por quem passa a memória da cidade, atentando para a importância de se buscar um plano de comunicação com a imprensa, mas também uma relação com as crianças e com os clubes de serviços, de modo a dissolver a desconfiança da população.