Encontro Paulista: museus são a vida que não é pequena
Nilo Mattos de Almeida
2021
Membro do Conselho do Sistema Estadual de Museus de São Paulo desde 2019
Sumário Panorama Reflexivo 11 anos de Encontro Paulista de Museus | Encontro Paulista de Museus |
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Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
“Mar português”, Fernando Pessoa
A pergunta primeira que vem à mente quando pensamos num evento que tem por nome “Encontro” é: qual o motivo para reunir pessoas?
No caso do Encontro Paulista de Museus, a premissa é que se possam agregar os diversos profissionais na área museológica do estado de São Paulo para um momento de reconhecimento, de troca de informações e experiências.
Os encontros até então realizados foram isso e muito mais.
O 1º Encontro aconteceu entre os dias 17 e 19 de junho de 2009 e foi um marco da apresentação do Sistema Estadual de Museus de São Paulo, palco do lançamento da versão lusófona do Código de Ética do Icom (Icom – International Council of Museums, Conselho Internacional de Museus, do qual o Brasil é país membro) para museus, com a participação do Ibram (Instituto Brasileiro de Museus).
O 2º Encontro aconteceu entre os dias 22 e 24 de junho de 2010 e tinha como tema “Ser diferente – fazer diferença”. Foi definido pelo Secretário de Estado da Cultura naquele momento como o “maior evento estadual da área no Brasil”. Houve a realização de visitas técnicas a museus estaduais e o encontro de prefeitos e dirigentes municipais de cultura. Além disso, abriu espaço para o lançamento de publicações na área museológica, no caso “Documentação e conservação de acervos museológicos: diretrizes”.
O 3º Encontro aconteceu entre 6 e 8 de junho de 2011, sob o tema “Articulando territórios”. Acrescentou a sua programação o encontro de redes temáticas de museus e destacou o papel do Sisem-SP como articulador de políticas públicas para a área museológica. O grande destaque ficou por conta da dupla homenagem a Waldisa Rússio Camargo Guarnieri, com palestra e lançamento de livro sobre sua trajetória. Também foram lançados livros sobre o Icom Brasil e museus de arte.
O 4º Encontro aconteceu entre 13 e 15 de junho de 2012 e propunha falar sobre “Novas fronteiras de gestão de museus”. Foram apresentados painéis digitais feitos pelas diversas instituições museológicas do estado. Principalmente, com as eleições de Representantes Regionais e do Conselho de Orientação, foi completa a estruturação do Sisem-SP.
O 5º Encontro celebrou a “Adesão do Estado de São Paulo ao Sistema Nacional de Cultura e a política setorial de museus”, acontecendo entre 19 e 21 de junho de 2013. Dez anos após a criação do Estatuto de Museus, marcava também o amadurecimento da discussão do campo museológico em nível nacional.
O 6º Encontro, de 2 a 4 de junho de 2014, propunha pensar a “Ressignificação dos museus”, operando profunda reflexão que iria além das questões conceituais para reinventar as práticas de instituições e profissionais.
O 7º Encontro trazia a temática “Fórum das comunidades”. Entre os dias 24 e 26 de junho de 2015 provocou a contextualização da relação dos museus com as comunidades em seu entorno.
O 8º Encontro, sobre “Redes e sistemas de museus: ações colaborativas”, ofereceu entre os dias 13 e 15 de junho de 2016 a oportunidade de conhecer as várias estruturas das instituições culturais dedicadas à museologia, tanto sob a gestão do Estado como de outros órgãos.
O 9º Encontro, nos dias 19 e 20 de junho de 2017 abordou, como proposta dos Representantes Regionais, a “Gestão de infraestrutura e segurança”. O tema vinha carregado pelo impacto do incêndio no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, em dezembro de 2015, e propunha uma visão proativa que evitasse situações como essa no futuro. De modo intuitivo, abria-se um olhar para a importância desta questão, que se aprofundou com o incêndio no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, em setembro do ano seguinte.
O 10º Encontro, sobre “Gestão e governança”, de 18 a 20 de julho de 2018, discutiu como superar os desafios da gestão dos museus por meio da ética e do comprometimento coletivo pela difusão do conhecimento.
No ano de 2019, em uma proposta de descentralizar o EPM, foram realizados seis encontros em macrorregiões do estado de São Paulo, com o apoio da rede Sesc. Tive a oportunidade de participar de uma mesa no EPM Itinerante de Campinas, quando apresentei o trabalho em processo para digitalização e criação do acervo digital da Casa do Olhar Luiz Sacilotto e do Museu de Santo André Dr. Octaviano Armando Gaiarsa na cidade de Santo André – SP.
O ano 2020 marca e é marcado pela pandemia. O EPM retorna, para sua 11ª edição, agora totalmente virtual. O tema “Museus, sociedade e crise: do luto à luta”, partia de uma importante reflexão iniciada pelo Icom Brasil e que nortearia todas as falas do evento. Tive a oportunidade de participar da comissão preparatória e, mais que colaborar, aprender com amigos e pares de profissão, num momento em que, mais que nunca, estarmos juntos é essencial.
Devemos lembrar que esta jornada é marcada pelo espaço que a acolheu desde o início, o Memorial da América Latina. O próprio Memorial teve seu percurso atingido pela tragédia, vítima de um incêndio no final de 2013. Durante sua reestruturação, a Associação Paulista dos Cirurgiões-Dentistas, o Palácio dos Bandeirantes, a Sala São Paulo e o Theatro São Pedro abrigaram os sonhos e anseios dos profissionais de museus entre o 6º e o 9º EPM.
Esta narrativa procura compartilhar tudo que pude viver ao longo desses EPMs. A emoção das falas nas plenárias, as discussões acaloradas durante os almoços, em alguma atividade noturna.
A realização continuada, ano após ano, consolidou o Sisem-SP e deu a ele a projeção que faz jus ao trabalho impecável de sua equipe. Aqui não há como aplicar a regra de uma relação custo-benefício, porque o ganho é imensamente maior, por mais dificuldades que possa haver para sua execução.
A cada ano redes e conexões são criadas ou renovadas, permitindo a disseminação de boas práticas museológicas, a busca de soluções comuns, o estabelecimento de novos paradigmas de trabalho. A única certeza é que o avanço conquistado será superado pelo do próximo ano e assim sucessivamente.
Concluo esse depoimento com imensa e profunda gratidão a todos, todas e todes que pude conhecer pelos EPMs e pelo Sisem-SP, com quem aprendi e continuo aprendendo. Para além de alguma contribuição que possa ter dado, a certeza de que minha alma não se apequenou por essa vivência é o que levo de mais precioso comigo.
Que o EPM possa continuar sua jornada, conduzindo nossos olhares, corações e mentes a um presente pleno de esperança e um futuro desafiador com mais belas realizações no porvir.