resumo da Conferência Inaugural - "Espaço, aceleração e amnésia"

por Fernanda Albuquerque

Amor, desejo, mercado, consumismo, subjetividade, aceleração e memória são alguns dos temas que marcaram a conferência inaugural do II Simpósio Internacional do Paço das Artes, que teve a abertura de Daniela Bousso e contou com a participação dos palestrantes Roger Buergel e Márcio Seligmann. Lúcia Santaella ficou responsável pela mediação, enquanto Nelson Brissac, Bia Medeiros e Suely Rolnik participaram da conferência como debatedores.

Roger Buergel, diretor artístico da 12 Documenta de Kassel, centrou sua fala nas relações entre o mercado e a subjetividade no mundo contemporâneo. “O que realmente me preocupa é o mercado como uma força totalizadora que estrutura a nossa subjetividade e a nossa relação com o mundo”, atentou o crítico. Para ele, a aproximação da noção de obra de arte – ou da vivência de obras de arte – ao tipo de aproximação e vivência proporcionados por um produto de consumo qualquer afeta a nossa atitude não só frente à arte, mas frente ao mundo. Afinal de contas, produtos de consumo são feitos para saciar desejos, ou ocupar vazios, como apontou Buergel, enquanto obras de arte seriam feitas para criá-los, alimentá-los, reordená-los, questioná-los etc. É nesse sentido que Buergel acredita que a “ausência de desejo” produzida pelo consumismo exacerbado característico dos tempos atuais produz uma incapacidade de amarmos o mundo.

A relação entre o público e a arte em tempos de “aceleração e amnésia” também foi um dos temas abordados por Márcio Seligmann. Tomando como ponto de partida o projeto curatorial da 12 Documenta de Kassel e sua busca por retomar os laços com a Modernidade, o teórico sublinhou a pauta marcadamente política do evento. Pauta esta que se refletiu, entre outras questões, na aposta em trabalhos que exigiam uma recepção detida – e não distraída – por parte do público. Isto é, na aposta em obras que demandavam um tempo de reflexão, ou, em outras palavras, uma atitude de desaceleração. Ao abordar as relações entre aceleração e amnésia no mundo contemporâneo, Selligmann também atentou para a hipermnésia que caracteriza os nossos tempos e sua busca incessante pela produção e arquivamento do maior número de informações possível. Trata-se de uma hipermnésia, é claro, que não deixa de ter os seus traços de amnésia e de hipomnésia. Tudo depende do nível de aceleração.