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Dia de tristeza e utopia: morre o arquiteto Paulo Mendes da Rocha

Duanne Ribeiro para Itaú Cultural, em 23/05/2021.
Dia de tristeza e utopia: morre o arquiteto Paulo Mendes da Rocha

Paulo Mendes da Rocha (imagem: Ana Ottoni)

Fonte: https://www.itaucultural.org.br/secoes/noticias/legado-de-paulo-mendes-da-rocha

Em 2018, à época da Ocupação Paulo Mendes da Rocha, uma das ideias aventadas para guiar a curadoria foi a noção de utopia. O propósito era ressaltar o caráter desbravador do trabalho desse arquiteto, urbanista e professor falecido hoje, dia 23 de maio, em São Paulo, de câncer de pulmão: sua perspectiva criativa com frequência saltava a cerca do pragmatismo, lançava no mundo possibilidades de construção, sem se restringir ao que seria possível segundo condições presentes. Pois amanhã, em outra elaboração, com os ajustes precisos, com novas invenções, a inspiração inicial poderia, enfim, encarnar.

Essa proposta seguiu no horizonte da exposição, porém sem papel dianteiro. Retomá-la agora – veja só como as ideias renascem! –, contudo, parece justo, na medida em que a morte de Paulo Mendes da Rocha, junto com a tristeza, encaminha à certeza de que sua arquitetura permanece criadora: reelaborados, readequados, reinventados, seus ideais sociais e artísticos e a sua prática de trabalho marcam já e marcarão a vida das cidades, o cotidiano de quem convive com suas obras e a ótica de tantos outros arquitetos.

“A lucidez e consistência das ideias de Paulo farão falta, ainda mais em tempos tão sombrios", afirma o diretor do Itaú Cultural, Eduardo Saron, e ressalta: "Mesmo nos projetos mais simples, a sua arquitetura viva se baseava na constituição de cidades mais humanas. Essas qualidades o acompanharam até o último segundo”.

Por isso tudo, reunimos aqui materiais que exibem um pouco desse legado, na voz do próprio Paulo – em entrevistas e participação em seminário – e em apresentações da sua obra em publicações ou depoimentos de amigos e profissionais que trabalharam com ele. Para outros dados, veja a Enciclopédia Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira.

Processo criativo

“Qual virtude para você é aquela indispensável da arquitetura?”, pergunta Paulo no livro Maquetes de Papel (2007), em que ele expõe seu processo criativo. Ele responde: “Para mim, é ser oportuna”. Dessa forma, pensar um projeto é compreender onde ele se insere e de que modo; que oportunidades se apresentam e o que precisa ser atendido.

No site da Ocupação, você se aprofunda nessa estética e nessa ótica de produção. Desde sua definição de cidade – “acontecimento extraordinariamente rico”, “suprema obra da arquitetura” –, até a sua influência em múltiplos campos do conhecimento. Ainda mais, o site aborda em detalhe vários projetos seus, entre construídos – o Sesc 24 de maio, o edifício Guaimbê etc – e não-construídos – propostas para o Aquário de Santos e a Praça da República, por exemplo. Navegue também pela playlist de entrevistas no Youtube:

 

Vivência das obras

Além da criatividade por vezes utópica, no bom sentido, o trabalho de Paulo foi marcado pela convicção de a arquitetura é “a graça e a beleza da vida feita com concreto e tijolo”. Um prédio, uma casa, para existirem, pedem que o arquiteto convoque suas lembranças e imaginário – para criar algo vivo, podemos entender, é preciso partir do vivido.

Da mesma forma como era ponto de partida, o vivido era ponto de chegada para Paulo. O significado de qualquer construção é dado por como os sujeitos se apropriam e vivem os espaços. Foi para investigar como isso se dá com alguns projetos de Paulo que fizemos esta publicação para a Ocupação Paulo Mendes da Rocha. O livreto reúne depoimentos de quem vivencia o Poupatempo Itaquera e o Sesc 24 de maio, duas produções suas em São Paulo, e traz também um ensaio fotográfico. Leia a reportagem abaixo:

Legado de Artigas

“Evitai o extremado desejo da segurança que contorna todos os riscos”, ouvimos, neste vídeo, nosso homenageado ler, e podemos crer que essa lição – enunciada pelo mentor da sua geração, o também arquiteto João Batista Vilanova Artigas – foi levada à risca por ele. Paulo, que foi assistente de Artigas, desdobrou a partir e além dele um pensamento crítico sobre a sociedade e o papel do arquiteto, o qual, segundo os dois, não deve ser mero construtor.

 

O site da Ocupação Vilanova Artigas reúne essa leitura de um discurso de 1964 e outras falas de Paulo, além de uma apresentação do Conjunto Habitacional Cecap Guarulhos, em que ambos trabalharam juntos. Na Enciclopédia, conheça mais sobre o grupo que foi – Paulo incluído – influenciado e liderado por Artigas, a chamada Escola Paulista.

Mais conteúdo: Niemeyer

Veja também a contribuição de Paulo no evento Oscar Niemeyer: um seminário, situado em 2013. O arquiteto participou da mesa “Criação de Linguagem” (no Youtube, ela está dividida em cinco partes; acesse aqui a inicial e confira os relacionados). Por fim, assista ao depoimento de Paulo para a mostra Oscar Niemeyer: Clássicos e Inéditos, de 2014:

Fonte: https://www.itaucultural.org.br/secoes/noticias/legado-de-paulo-mendes-da-rocha