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Recém-inaugurado, arquivo de Flusser em SP tem 80% do acervo inédito

Amanda Massuela para Revista Cult, em 17/09/2021.
Recém-inaugurado, arquivo de Flusser em SP tem 80% do acervo inédito

O filósofo tcheco Vilém Flusser (Foto: Divulgação)

Fonte: https://revistacult.uol.com.br/home/recem-inaugurado-arquivo-de-vilem-flusser-em-sao-paulo-tem-80-do-acervo-inedito/

São 11.500 textos que somam 30 mil páginas, divididas em 358 pastas. Originalmente armazenados na Universidade das Artes de Berlim, na Alemanha, milhares de documentos, manuscritos e publicações de Vilém Flusser (1920 – 1991) agora estão disponíveis no Brasil, especificamente no Campus Ipiranga da PUC, em São Paulo, onde desde o dia 28 de outubro funciona um arquivo dedicado ao filósofo tcheco.

Entre livros, ensaios, correspondências, cursos, áudios e vídeos, estima-se que cerca de 80% do material reunido seja inédito, segundo o professor Norval Baitello Júnior, diretor do arquivo. Há, por exemplo, poemas jamais publicados, correspondências trocadas com grandes pensadores da época e até cursos que Flusser ministrou para a elite paulistana sobre temas como mitologia grega e filosofia ocidental.

O volume é tanto que, se publicados, os escritos renderiam nada menos que 100 livros. “A importância de este material estar em São Paulo é que ainda há muito mais a ser coletado para complementar esse acervo”, afirma Baitello Júnior. “Na Alemanha não havia rastros deixados por ele, mas aqui as primeiras décadas de Flusser ainda são de certa forma uma incógnita.”

Nascido em Praga, o filósofo chegou ao Brasil em agosto de 1940, depois que tropas do exército de Hitler invadiram a então Tchecoslováquia. Em São Paulo, viveu e produziu intensamente durante 30 anos. Um dos projetos do arquivo brasileiro é constituir uma equipe de pesquisadores para gravar depoimentos de pessoas que o conheceram e conviveram com ele nesse período.

Por isso, a ideia é que, a partir do trabalho de pesquisa desenvolvido pelo grupo, os conteúdos inéditos relacionados à obra e ao pensamento de Flusser aumentem ainda mais. “Nessas últimas semanas já recebemos retorno de pelo menos cinco pessoas que têm materiais inéditos, gravações, conversas, e que estão dispostas a doá-los”, afirma Diogo Bornhausen, vice-diretor científico do acervo. Entre eles está, por exemplo, um esboço do texto “Jogos” encontrado pelo professor Elyeser Szturm, da Universidade de Brasília, em um livro de História da Arte vendido em um sebo da capital.

De Berlim à São Paulo

O arquivo brasileiro é fruto do apoio de Edith Flusser, viúva do filósofo, e de um acordo firmado em 2012 entre Norval Baitello Júnior e Siegfried Zielinski, diretor do arquivo em Berlim, junto de Martin Rennert, reitor da Universidade das Artes. O primeiro acervo foi organizado em 1992 – um ano após a morte de Flusser – a princípio em Haia, na Holanda, e depois em Munique, na Alemanha. Chega ao Brasil com aporte da PUC-SP e apoio da FAPESP-SP e do Instituto Goethe.

“Com o arquivo, Flusser volta a São Paulo”, diz Baitello Júnior. “O que a gente vê hoje, no mundo, é a descoberta de um pensador muito instigante, provocador, polêmico e complexo, que escreveu sobre a mulher, assim como escreveu sobre o diabo, sobre Pelé, futebol, arte, tecnologias da comunicação e filosofia.” Para o professor, o conteúdo do arquivo pode trazer novas leituras à obra de Flusser, pensador que ele considera ser “mal compreendido ou distorcido em seu pensamento”, tanto no Brasil quanto na Alemanha.

Bornhausen diz que o momento é de “descoberta”. “Para além do Flusser conhecido e publicado, temos oito pesquisadores interessados em acelerar um pouco isso”, afirma. “A ideia é centralizar em São Paulo não somente o campo de acesso ao material de Flusser, mas de interlocução sobre ele. Queremos, a partir dele, gerar muito material, e isso tem nos animado muito.”

Fonte: https://revistacult.uol.com.br/home/recem-inaugurado-arquivo-de-vilem-flusser-em-sao-paulo-tem-80-do-acervo-inedito/