Circuitos Compartilhados

Relatório situacional 2

No atual estágio outros importantes filmes e participantes agregaram-se ao projeto como resultado da prevista iniciativa de atualização do acervo. Uma das incorporações é o filme em Super-8 ArtDoor, dirigido por Jomard Muniz de Britto, registro das intrevenções artísticas sobre outdoors da cidade do Recife, em 1981, fluxo esse coordenado por Paulo Bruscky e Daniel Santiago e que contou com a participação de 186 artistas de 25 países.  Encontrado recentemnte no ARQUIVO BRUSCKY, e somente agora telecinado, o filme ArtDoor teve, enfim, sua estréia pública em 27 de março, durante a semana de lançamento do projeto Circuitos Compartilhados na Cinemateca de Curitiba.

 

Outra inclusão no acervo que incide nas bases conceituias deste projeto é o filme Cildo Meireles, de 1979, dirigido por Wilson Coutinho. A obra é uma leitura poética e crítica sobre os contextos, estratégias e produções artísticas de Cildo nos anos 70, inclusive sobre o projeto Inserções em Circuitos Ideológicos, apresentado no filme pela já clássica cena de reapropriação da imagem cinematográfica de John Wayne.

 

Além dessas participações, esta fase de realização oportunizou a localização, restauro, telecinagem e digitalização de alguns importantes filmes e vídeos que estavam no acervo público da Cinemateca de Curitiba e em acervos particulares de artistas em Curitiba e Porto Alegre.  Assim, está sendo possível agora compartilhar fotos e filmes  associados à ação ArtShow, a qual, juntamente com as ações do grupo Sensibilizar, foram duas das mais radicais experiências de arte urbana empreendidas no Brasil no final dos 70 e início dos 80, propostas articuladas em precisa conceituação política e intenso envolvimento social, tendo seus fluxos de acontecimentos orientados por Sergio Moura, em Curitiba. O projeto Circuitos Compartilhados sente-se imensamente satisfeito em poder  participar do redimensionamento e recontextualização dessas referidas iniciativas, colocando-se como realizador de 2 documentários – em trabalhos desenvolvidos juntamente com Sergio Moura: o vídeo ArtShow, cuja base estrutural é um registro editado em S-8 localizado nos arquivos da Cinemateca de Curitiba, e que foi restaurado e telecinado; e o vídeo/animação fotográfica Praça da Arte / ArtShow / Sensibilizar, montado com algumas imagens selecionadas entre os cerca de 800 negativos e slides digitalizados pelo projeto, a partir do arquivo de Sergio. Depoimentos de Sergio Moura foram também especialmente capturados e editados para esses vídeos, em março de 2008.

 

Numa estratégia similar, o projeto restaurou e digitalizou o arquivo em VHS dos irreverentes artistas da ASSINTÃO – Associação Internacional dos Coleccionadores de Botão – e produziu um vídeo sobre essa iniciativa coletiva deflagrada no final dos 80 em Curitiba. Num diálogo direto com o fundador da ASSINTÂO, Hélio Leites, o audiovisual Povo do Botão, editado por Ricardo E. Machado, desdobrou-se de numeroso material gravado desde 1991, entre muitas reportagens e entrevistas de TVs, além de filmagens particulares, incidindo principalmente sobre duas das muitas ações do grupo: o Carnaval da Ex-cola de Samba Unidos do Botão e a Deus é umor – Culto Anual da Igreja da Salvação pela Graça.

 

O projeto Circuitos Compartilhados telecinou e creditou o filme em S-8 Taquara, realizado pelo grupo portoalegrense Nervo Óptico no interior do Rio Grande do Sul, no final dos anos 70; e também 2 filmes em 8mm de um de seus membros, Clovis Dariano, produções essas de 1973. Os três filmes têm aqui suas estréias públicas.

 

As telecinagens foram realizadas em Curitiba por Harry Lumm, reconhecido especialista em conversões de mídias fílmicas e cinéfilo apaixonado. Ele mesmo surge no making off imaginário do projeto como um personagem saído da tela de Cinema Paradiso, de Giuseppe Tornatore, sua  inspiração e espelho. As digitalizações de VHS foram feitas por Lúcio Araújo.

 

Circuitos Compartilhados viabilizou também uma nova trilha sonora para o vídeo Torreão – Intervenções, de Jailton Moreira, criada e executada pelo músico Fernando Mattos, além de ter sido o facilitador na obtenção de licenças de exibição específicas para o Torreão (Porto Alegre) entre os mais de 80  participantes que  ali realizaram interveções ao longo dos 15 anos de existẽncia do lugar.

 

Complementando a atuação na cena gaúcha, Circuitos Compartilhados motivou/catalisou a compilação de programas associados a 4 iniciativas de circuitos autônomos de grande representatividade no meio da arte contemporânea dos anos 90 e 2000, compilações de vídeos essas que têm também na própria mostra/acervo da Circuitos as suas estréias públicas: os projetos Obra Aberta; Perdidos no Espaço; Areal e Arena. A incorporação desses referidos repertórios é  aqui celebrada.

 

Do Recife agrega-se também ao acervo o recente documentário Duplo mortal parafuso – estratégias artísticas – Recife 1980, vídeo com depoimentos de aristas que marcaram uma geração e fizeram a cena das artes plásticas da capital pernambucana nos anos 80, influenciando e desdobrando acontecimentos nas décadas subseqüentes. Aqui também o projeto foi incentivador, apoiador e circuito de estréia do documentário.

 

Finalizando as atuais incorporações do acervo, alguns filmes e vídeos de e sobre: Vera Chaves Barcellos; FVCB – Fundação Vera Chaves Barcellos; CEP 20.000; CEIA – Centro de Experimentação e Informação em Arte / Espaços Cegos; Política do Dissenso, Guilherme Vaz; Frente 3 de Fevereiro; Mônica Nador & Lumila Ferolla; Ricardo E. Machado;  ACT – Ateliê de Criação Teatral; e/ou;  Couve-flor – Mini-comunidade Artística Mundial; Luciana Costa; Cuquinha, O Mergulho; Polavra; Aparelho; Carlos Henrique Túllio, Bicicletada; Orquestra Organismo; Ystlingue.

 

Uma seleção sobre esse acervo todo, já atualizado, veio a compor a programação da mostra Circuitos Compartilhados ocorrida na Cinemateca de Curitiba, entre 22 e 28 de março, marcando a estréia da atual fase do projeto. A mostra encerrou-se com a mesa-redonda Compartilhamento de Acervos, da qual participaram Paulo Bruscky (ARQUIVO BRUSCKY, Recife);  Ana Pato (VideoBrasil, São Paulo); Afonso Luz (Ministério da Cultura, Brasília); Sergio Moura (Praça da Arte / ArtShow / Sensibilizar, Curitiba); Fabianne Balvedi e Glerm Soares (Estúdio Livre / Orquestra Organismo); e Goto – mediador (epa! / Circuitos Compartilhados). A generosa e aprofundada conversa estendeu-se por cerca de 3 horas (futura e oportunamente o material gravado em vídeo será transcrito e também compartilhado).

 

Considerando as 29 novas ações incorporadas a Circuitos; a relevância artística/cultural dessas participações; toda articulação relacional e produtiva ativada nesse processo; a grande quantidade de novos vídeos; e a duplicação do número de matrizes antes estipulada no projeto; tudo isso implicou numa nova estratégia processual e de cronograma. Visando manter a qualidade equivalente aos originais recebidos e dar conta do aumento de trabalho de compilação e autoração digital das matrizes de DVDs – empreitada que possui etapas próprias e seqüenciais de realização –  a nova estimativa de copiagem e lançamento da coleção está prevista para o final de abril, a partir de quando uma agenda de distribuição será realizada. Mais da metade das matrizes da coleção já estão prontas, e estima-se que elas sejam 31 DVDs.

 

Goto, epa!, Curitiba, 14/04/2008.