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Eduardo Coimbra - Espaços de Instalações Permanentes do Museu do Açude

Uma instalação permanente nos jardins do Museu do Açude – Rio de Janeiro

Descrição da Obra e Desenhos Esquemáticos Preliminares

O projeto proposto para o Espaço de Instalações do Museu do Açude consiste na construção de uma passarela de madeira que percorre o espaço aéreo entre as árvores numa determinada área da floresta.

O lugar escolhido para a instalação do trabalho é uma encosta coberta de vegetação, com declive acentuado no terreno, onde se encontram diversas árvores altas. Partindo de um ponto dessa encosta, acessível ao público, a passarela se apoiará nas árvores e, num movimento ascendente, percorrerá o espaço aéreo, oferecendo ao visitante imersão no ambiente da floresta.

A construção da estrutura obedecerá a um desenho de projeto que prevê um percurso ascendente, mas sua forma final será determinada pelo posicionamento das árvores, uma vez que o apoio da estrutura se dará unicamente nos troncos das árvores mais altas que tenham capacidade de sustentação. Seu desenho será, portanto, o resultado de uma combinação da intenção do artista e das condições impostas pelo ambiente.  

A topografia do local escolhido possibilitará a visão da peça a partir de vários ângulos – desde um ponto situado muito abaixo do local da instalação até uma vista superior, a partir de um ponto mais alto da encosta.

A escolha da madeira como material, tanto para a estrutura, como para o piso e o guarda-corpo, visa a uma integração natural da peça ao meio ambiente. Vale registrar que o contato entre a estrutura da obra e o caule das árvores obedecerá a critérios ambientalmente responsáveis, de modo a não infringir danos físicos à natureza. Serão adotados procedimentos construtivos adequados, afim de não prejudicar o desenvolvimento das espécies.

O projeto proposto segue uma linha de pesquisa que tenho desenvolvido nos últimos dez anos, com a realização de trabalhos que exploram de diversas maneiras as questões da paisagem e da criação de estruturas arquitetônicas que

possibilitam experimentações diferenciadas do espaço real. Tanto as instalações em espaços institucionais, como as construções em espaços abertos, realizadas
ou propostas em maquetes, são meios de que me utilizo para discutir a paisagem e sua relação com a arquitetura.

A idéia da passarela proposta  para o Espaço de Instalações do Museu do Açude é a de criar uma presença escultórica no meio da mata que atrairá o olhar do público, provocando a aproximação e criando a possibilidade de entrar na floresta e fazer um passeio pelo alto das árvores. Esse deslocamento de pontos de vista, entre uma obra feita para o olhar e uma obra que convida a olhar, gera uma reflexão sobre a condição de bem tombado (o parque do Museu do Açude). Isto é, somos observadores do passado ou criamos as condições para que o passado faça sentido para o nosso presente? 

Eduardo Coimbra
outubro 2007

Apresentação Conceitual da Proposta

A convite do curador do Museu do Açude, Marcio Doctors, para compor o Espaço de instalações Permanentes do Museu do Açude, Eduardo Coimbra propôs um projeto, que relaciona arte contemporânea e natureza. Os Museus Castro Maya dão continuidade ao interesse que seu patrono manteve em vida de estimular a cultura brasileira. O perfil de Castro Maya é o de um homem sintonizado com as questões de seu  tempo. Nas artes, esteve à frente de inúmeras iniciativas que revelam uma preocupação com sua  atualidade e com o diálogo entre o histórico e o contemporâneo. Esta percepção traduziu-se na constituição de uma primorosa coleção que reúne arte moderna e brasiliana. Na conservação da natureza foi o mentor e executor da remodelação do Parque Nacional da Tijuca nos anos 1940, atribuindo a ele o aspecto e as características formais tais como o conhecemos hoje. De certo modo, Raymundo Castro Maya quando fundou o Museu do Açude, em 1964, reuniu, em um só espaço, questões pontuais do nosso tempo, que são a arte em seus múltiplos aspectos e a conservação do meio ambiente.

O Projeto de Instalações Permanentes do Museu do Açude, idealizado por Marcio Doctors, além de trazer como referência o gesto inaugural de seu fundador em apoiar iniciativas artísticas e ambientais, encontra nos 150.000 m2 de Mata Atlântica o espaço museológico ideal para fazer manifestar essa proposta de relacionar arte e natureza, como as forças capazes de preservar a qualidade da vida.  Percebeu-se que a arte contemporânea dispunha de uma contribuição oportuna e sensível a dar na formação do olhar do visitante com relação a esse acervo natural tombado e o cidadão da cidade.  Entre o prazer de vivenciá-lo e razões para preservá-lo. Para além de apreciar contemplativamente suas belezas naturais a este espaço ambiental agora se estabelecia uma perspectiva que envolvia a discussão sobre a arte e o conhecimento sobre a paisagem.  Sobre as relações de tensão presentes numa metrópole como a do Rio de Janeiro, onde o convívio e o conflito entre a urbe e a floresta é permanente e complexo.

O Museu do Açude tem registrado ao longo dos últimos anos a afluência de diversos artistas que produziram trabalhos tomando seu parque florestal como laboratório de criação. Shelagh Wakely, Tunga, Artur Barrio, Erik Samakh, Fernanda Gomes, Claudia Bakker, Adriana Varejão e Renata Padovan constam entre os nomes envolvidos nessas incursões experimentais.  Acrescentem-se ainda as obras de Helio Oiticica, Anna Maria Maiolino, Iole de Freitas, Lygia Pape, Nuno Ramos, José Resende e Piotr Uklansky que já foram incorporadas ao acervo e integram o circuito expositivo ao ar livre em caráter permanente.

A proposta  estimula uma dinâmica pedagógica integral, que parte da expansão da idéia tradicional de museu, re-qualificando sua função; passa pelo questionamento dos limites da ação da arte, ao repensar a relação da obra com o seu meio; propõe aos artistas o desafio de agir sobre a paisagem natural em seu  envolvimento no espaço urbano e chega ao público, provocando sua percepção sobre a conservação do espaço, ao incorporar a floresta como parte de seu acervo. Esta circularidade, redimensiona a noção de paisagem na arte fazendo com que ela abdique de seu destino fundador de  "landscape" ( no sentido daquilo que nos escapa ) para que dela possamos nos reaproximar, como o invólucro sensível, que nos indaga sobre a qualidade do espaço físico da natureza como meio necessário para a vida e sobre o constante movimento do homem de fazer uso da arte para reinventar-se.

O Espaço de Instalações Permanentes do Museu do Açude diferencia-se de um parque de esculturas ao afirmar um conceito de uso do espaço onde é enfatizada a integração necessária entre o artista e o meio em que ele se situa, através da obra (site-specific).

O museu ao pensar sua área florestal como parte de seu acervo visual e ao incorporá-la museologicamente, age de forma ativa sobre esse bem natural, dando vida, através desse projeto cultural, à idéia de patrimônio integral.

Ao conferir substância artística ao território da paisagem natural do Museu do Açude, o projeto estaria também concorrendo para a promoção de um espaço de reflexão sobre a importância da preservação das reservas naturais do Brasil.

 

 

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