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Intervenção Artística no Morro da Conceição

O Morro da Conceição constitui-se em patrimônio histórico de valor indiscutível, sendo um dos marcos iniciais da urbanização da cidade do Rio de Janeiro e vindo a se tornar, após o desmonte do Morro do Castelo, o principal exemplar remanescente da mais antiga tradição luso-carioca de moradia. A ocupação inicial do Morro data de 1634 com a construção de uma ermida consagrada a N.S. da Conceição; ampliou-se com a escolha do local, em 1702, para abrigar a sede do arcebispado e consolidou-se com a construção da Fortaleza da Conceição entre 1715 e 1718. Além da Fortaleza, ainda em operação como quartel do Exército, o Morro possui outros equipamentos urbanos de destaque, como o antigo Palácio do Bispo, a Igreja de São Francisco da Prainha e o Observatório do Valongo (UFRJ). Contudo, sua maior riqueza está não nos monumentos tombados, mas no expressivo conjunto vernacular que constitui seu casario. Ao longo dos séculos 19 e 20, deu-se a ocupação residencial característica que permanece até hoje, exemplificando a sobrevivência de um núcleo urbano bastante peculiar, típico da colonização portuguesa.

Esquecido em meio à sanha de bota-abaixo e especulação imobiliária que desfigurou o Centro do Rio de Janeiro ao longo do século 20, o Morro da Conceição conseguiu sobreviver quase intacto. Nos últimos vinte anos, o lugar passou a ser objeto de esforços de preservação e revalorização; e sua transformação em Área de Proteção Ambiental, mediante decreto municipal de 1988, foi passo importante nesse sentido. Desde então, órgãos da Prefeitura, capitaneados pelo Instituto Pereira Passos, vêm se dedicando a reabilitar o Morro através da recuperação de imóveis e logradouros públicos. Contudo, esses esforços têm obtido sucesso apenas parcial. Um obstáculo permanente é a dificuldade de mobilizar a comunidade em prol da preservação do patrimônio histórico. Com alarmante freqüência, os órgãos públicos são vistos pelos moradores com hostilidade, mais como instâncias de repressão e cerceamento do que como aliados. A presente interação justifica-se pelo intuito de envolver a comunidade num projeto sustentável de preservação e reinvenção funcional do Morro. Como expressão viva e imediata do fazer cultural, a produção artística pode contribuir para a consciência de que “patrimônio” não é algo que pertença somente ao passado, mas antes aquilo que se cria e se constrói diariamente através das ações e obras individuais e coletivas.

Dezoito artistas contemporâneos serão escolhidos para realizar ações e obras criadas especificamente para espaços públicos do Morro. Essa intervenção artística ficará instalada no local durante um fim-de-semana inteiro, promovendo a interação entre artistas e comunidade, inclusive através de atividades paralelas como oficinas e apresentações. A idéia é de enfatizar e reforçar a identificação já existente entre o bairro e a produção artística, realçando a vocação do Morro da Conceição como pólo cultural. O desafio a ser colocado para artistas e curadoria será de conceber ações e obras voltadas para a apropriação criteriosa do patrimônio histórico e, ainda, para a integração com moradores e instituições presentes no Morro da Conceição. Dois conceitos fundamentais preconizados por Aloísio Magalhães embasam a presente proposta: primeiramente, que o uso é a melhor maneira de preservar o antigo e, paralelamente, que a comunidade é o melhor guardião de seu patrimônio. Assim sendo, a intervenção proposta teria a função simbólica de demarcar o Morro da Conceição como um espaço de especial abertura para as artes visuais e, por extensão, de evidenciar o valor dessa vocação artística como fator de coesão entre preservação do patrimônio e manutenção da comunidade e seu modo de vida.

Pretende-se que as ações artísticas e suas decorrências contribuam para transformar a percepção de artistas, instituições e moradores envolvidos. A meta é que a comunidade passe a enxergar a atividade artística como algo capaz de garantir a preservação do patrimônio histórico e, por conseguinte, a sua própria sobrevivência. Por sua vez, o meio artístico e aqueles artistas que não pertencem já à comunidade serão estimulados a freqüentar e ocupar o Morro da Conceição, adensando um movimento que vem ocorrendo naturalmente ao longo dos últimos vinte anos. Mais do que um simples evento passageiro, a intervenção proposta tem a finalidade de celebrar, de modo simbólico, o casamento entre esse espaço privilegiado do patrimônio histórico nacional e uma vocação cultural que poderá mantê-lo ativo e vibrante no cenário futuro.