Biografias

Amaral, Tarsila do

Capivari, SP, Brasil, 1886

São Paulo, SP, Brasil, 1973


A pintura de Tarsila encarnou os princípios da vanguarda da Arte Moderna no Brasil que eclodiu na semana de 22. Entretanto, a artista esteve ausente deste acontecimento porque estava em Paris, na Academia Julian, fazendo desenhos de nus e paisagens impressionistas. Nascida em uma rica e distinta família da elite paulista dos barões de café, proprietários de muitas terras, recebeu uma educação reservada à classe alta - professores franceses em casa, durante a infância passada na fazenda, e depois em internato de freiras na Espanha. Aos trinta anos, decide dedicar-se plenamente à arte. Entre 1917 e 1920, em São Paulo, freqüenta ateliês de modelagem e de pintores acadêmicos e pós-impressionistas e depois vai a Paris nos anos 1921 e 1922. De regresso a São Paulo, logo depois da Semana de Arte Moderna, Tarsila integra-se ao Grupo dos 5, conhecendo os poetas e romancistas Mário de Andrade, Menotti del Picchia e Oswald de Andrade, por intermédio de Anita Malfatti, sua companheira de aulas de pintura. O grupo, de efêmera duração, dissolveu-se em 1923, com a ida de Anita e do casal Tarsila e Oswald de Andrade a Paris. Na década de 1960, algumas retrospectivas dão destaque à sua obra, especialmente a Sala Especial da VII Bienal de São Paulo de 1963 e a mais importante no MAC USP, em 1969. A artista, impossibilitada de caminhar nos últimos anos de sua vida, trabalhava sempre com evocações ou releituras da pintura Pau-Brasil e da Antropofagia, com a tela e a paleta ao lado de sua cama. Tarsila gerou uma obra essencial para o Modernismo no Brasil e largo espectro no tempo e que a atualidade tem bem presente, pois a Antropofagia foi tema da XXIV Bienal de São Paulo, em 1998.


Monteiro, Vicente do Rego

Recife, PE, Brasil, 1899

Recife, PE, Brasil, 1970


Estudou na Escola Nacional de Belas-Artes do Rio de Janeiro, em 1908. Viajou à França, em 1911, para estudar na Academia Julian e, em 1913, expôs no Salão dos Independentes, em Paris. Segundo Mário de Andrade, Vicente do Rego Monteiro foi um dos artistas que melhor expressou os ideais da Semana de Arte Moderna, realizada em São Paulo durante o ano de 1922. Organizou exposição da Escola de Paris no Brasil com telas de Picasso e Miró, em 1930. Dois anos mais tarde, comprou um engenho em Várzea Grande, Pernambuco, onde passou a fabricar a cachaça Gravatá. Durante os anos de 1940, fundou La Presse à Bras, edição que imprimia poemas. No ano de 1952, criou o Salão da Poesia e realizou o I Congresso Internacional de Poesia, em Paris. No mesmo período, participou da exposição comemorativa da Semana da Arte Moderna, em São Paulo. Em 1957, publicou Vix Poética e assumiu a cátedra de pintura da Escola de Belas-Artes de Pernambuco. Aconteceu uma retrospectiva de sua obra no Museu de Arte de São Paulo, em 1966. No ano seguinte, representou o país na exposição Precursores do Modernismo, em Nova York, e realizou duas exposições individuais em Paris. Sua produção artística foi marcada pela insistência na abordagem de temas nacionais, transformando-o em precursor de uma tendência artística latino-americana. O repertório pictórico de Vicente do Rego Monteiro oscilava entre as figuras indígenas e a Bíblia, os clássicos e outros temas épicos, que tornam sua arte grave e profunda.


Tendências Abstratas/Tendências Construtivas


Cordeiro, Waldemar

Roma, Itália, 1925

São Paulo, SP, Brasil, 1973


De personalidade dinâmica e muito engajada, nos anos de 1950 aglutina em torno de si artistas como Luíz Sacilotto, Lothar Charoux, Kasmer Féjèr, Leopoldo Haar, Anatol Wladyslaw e Geraldo de Barros, que, influenciados pelo artista suíço Max Bill, I Prêmio de Escultura da I Bienal de São Paulo, fundam o movimento de Arte Concreta por meio do lançamento, em 1952, do Manifesto Ruptura. Sua proposta principal, e da qual a pintura Movimento é produto, é que as obras resultam de idéias visuais que o artista realiza plasticamente, sem nenhuma relação com a realidade natural. Desenvolve sua vocação para as Artes Plásticas não só na Academia de Belas-Artes de Roma, mas principalmente copiando os grandes mestres. O fim da Segunda Grande Guerra o encontra convivendo intensamente com os artistas compromissados com movimentos em favor de uma arte moderna, liberta do peso da tradição. Em 1946, visita São Paulo, onde expõe desde 1947, quando participa da mostra inaugural do Museu de Arte Moderna de São Paulo, Do Figurativismo ao Abstracionismo, com uma pintura abstrata. Desde então até a sua morte, é presença constante nas principais mostras coletivas da vanguarda brasileira. Crítico de arte, agitador cultural, desenhista, urbanista, paisagista, montador de objetos, criador no sentido pleno da palavra, esteve sempre adiante de seu tempo. Foi pioneiro no uso dos recursos do computador como instrumento na criação artística, no que denominou de Arteônica. Dessa fase, o acervo do MAC USP possui Derivadas, s.d., obra doada por Giorgio Moscati, por ocasião da retrospectiva "Waldemar Cordeiro uma aventura da razão", realizada em 1986.


Clark, Lygia

Belo Horizonte,MG, Brasil, 1920

Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 1988


Lygia Clark começou sua carreira como tantos outros artistas, com lápis, papel, pincéis e tintas. No início, a artista utilizava apenas preto, branco e cinza em seus desenhos e pinturas, característica que se manteve em quase toda a sua produção pictórica. Outra característica de sua pintura é a exclusão das molduras. A artista retirou as molduras de seus quadros, relacionando a pintura com o espaço em volta, como se ela fosse a figura e a parede, o fundo. Depois de algum tempo, Lygia abandonou a tela, os pincéis e a tinta de bisnaga e passou a construir suas pinturas com módulos de cor. Em 1958, a artista começou a produzir o que chamou de "casulos", com os planos da pintura conquistando um espaço maior: placas de metal dobradas ou placas de madeira colocadas uma sobre a outra, construindo objetos que não são nem pinturas nem esculturas. Dos casulos nascem os "bichos". Os bichos eram construídos por partes de metal (alumínio ou cobre) unidas por dobradiças, lembrando a espinha dorsal dos animais, permitindo o movimento da obra, movimento que só se dá com a participação do observador, outra inovação da obra de Lygia. Durante toda a sua vida, Lygia Clark procurou outras formas de produzir e, também, de se relacionar com a arte. Depois dos bichos, Lygia criou os Trepantes que, segundo a artista, eram "bichos sem dobradiças". Outros Trepantes, feitos de borracha, foram nomeados de Obra-Mole. Esses trabalhos levaram a artista a desenvolver obras mais relacionadas ao tato e à experiência de colocar objetos dos mais diversos materiais, como elástico, pedra, sacos com água, em contato com o corpo, produzindo diferentes sensações.


Oiticica, Hélio

Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 1939

Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 1980


Metaesquemas, Parangolés, Penetráveis, Bólides, Contrabólides, Delírio Ambulatório são alguns dos nomes das obras do artista-inventor Hélio Oiticica, considerado por críticos e historiadores da arte como um dos três mais importantes artistas para a arte contemporânea brasileira, junto com Lygia Clark e Mira Schendel.A produção de Oiticica é marcada por um caráter experimental. Baseado em seus próprios conceitos e teorias, o artista propôs uma nova maneira de ver e sentir a arte, criando objetos com os quais o público interagia, tocando, vestindo, construindo uma relação dinâmica com a obra ao invés de apenas contemplá-la. O artista iniciou sua trajetória estudando pintura com Ivan Serpa, em 1954. Um ano mais tarde, participou da segunda exposição do Grupo Frente, formado por artistas como Lygia Clark, Lygia Pape, Franz Weissmann, entre outros, que defendiam a tradição construtiva, ponto de partida para a sua obra.

"Seja marginal, seja herói" até hoje é uma obra perturbadora. Motivo de orgulho para um artista que quando vivo fazia questão de perturbar o mundo com a sua inquietude.




Impactos da Nova Figuração


Lee, Wesley Duke

São Paulo, SP, Brasil, 1931


Destaca-se por sua formação cosmopolita e sua atuação sempre à frente, indicativa de novos horizontes para a arte. Em sua formação artística, muito ampla e rica, convergem as neovanguardas norte-americana e européia; absorveu milenares tradições da cultura ocidental e oriental, não descartando as tecnologias informacionais. Conseqüentemente, nestas últimas quatro décadas, sua arte tem expressado pensamentos e sensibilidade complexos, abarcando uma multiplicidade de meios: desenho, gravura, objeto, pintura, happening, instalação e arte digital.


Dias, Antônio

Campina Grande, PB, Brasil, 1944


Antonio Dias iniciou o seu aprendizado artístico em família, dando os primeiros passos no desenho sob a orientação de seu avô. Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1958, onde começaria a trabalhar no ano seguinte como desenhista de arquitetura e designer gráfico, dedicando-se à produção de ilustrações para livros de literatura. Datam da mesma época seus estudos de gravura com Oswaldo Goeldi no Atelier Livre da Escola Nacional de Belas-Artes. Em 1964, realiza sua primeira exposição individual com texto de apresentação do crítico Pierre Restany. No ano seguinte, é premiado na IV Bienal de Paris na categoria pintura, permanecendo na cidade para estudar, entre 1965 e 1968, com uma bolsa do governo francês. Algum tempo depois, transfere-se para Milão, onde monta ateliê, passando então a dividir o seu tempo entre o Brasil e a Itália. Em 1977, Dias viaja para o Nepal a fim de desenvolver pesquisa sobre técnicas de produção artesanal de papel e pigmentos junto a comunidades locais. No final da década de 1980, o artista muda-se para a cidade de Colônia, na Alemanha, passando a atuar como professor, em 1992. Ao longo de sua trajetória, Antônio Dias tem-se dedicado a experiências artísticas diversas que abrangem pintura, gravura, fotografia, Super 8, instalações, vídeos, livros de artista e trabalhos sonoros.


Leirner, Nelson

São Paulo, SP, Brasil, 1932


No período de 1947 a 1952, residiu nos Estados Unidos e iniciou curso de engenharia têxtil no Lowell Technological Institute, mas não o concluiu. Em 1956, de volta ao Brasil, estudou pintura com Joan Ponç. Dois anos depois freqüentou o ateliê de Samson Flexor por um curto período. Fundou o Grupo Rex, em 1966, com Wesley Duke Lee, Carlos Fajardo, José Resende, Geraldo Barros, Frederico Nasser e Thomaz Souto Correa. Em 1967 realizou um happening de encerramento das atividades do grupo com Exposição-Não-Exposição. No mesmo ano enviou para o Salão de Arte Moderna de Brasília um porco empalhado, por meio do qual questionava publicamente, no Jornal da Tarde, os critérios que levaram o júri a aceitar a obra. Por motivos políticos, fechou sua sala especial na Bienal Internacional de São Paulo de 1969 e recusou outra em 1971. Em 1974, expôs a série A Rebelião dos Animais, trabalhos que criticam duramente o regime militar, e recebe o prêmio de melhor proposta do ano da Associação Paulista dos Críticos de Arte. No ano seguinte essa mesma associação encomendou um trabalho seu para entregar aos premiados, que foi recusado por ser feito em xerox; como forma de protesto os artistas não compareceram ao evento. Em 1977 começou a lecionar na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), em São Paulo, influenciando na formação de muitos artistas da chamada Geração 80. Mudou-se para o Rio de Janeiro e passou a dar aulas na Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV), em 1997. No ano seguinte uma série de trabalhos foi censurada pelo Juizado de Menores, provocando um movimento de artistas e pessoas da área contra a censura nas artes. Em 2002 teve sala especial na XV Bienal de São Paulo. Seu trabalho é composto por objetos, instalações, múltiplos, carimbo, pintura conceitual, entre outros. Vive e trabalha no Rio de Janeiro.


Novas Pesquisas/Novos Conceitos


Resende, José

São Paulo, SP, Brasil, 1945


Artista plástico. Em 1963, inicia seus estudos de arquitetura na Universidade Mackenzie, ao mesmo tempo em que estuda gravura na Fundação Armando Álvares Penteado e pintura com o artista Wesley Duke Lee. Já em 1964 começa a participar de exposições. Em 1967, recebe os Prêmios Aquisições na I JAC do Museu de Arte Contemporânea da USP, na IX Bienal de São Paulo e no II Salão Nacional de Brasília. Em 1970, funda a Escola Brasil, com Carlos Fajardo, Frederico Nasser, Luis Baravelli, onde leciona até 1975. É  professor da Faculdade de Comunicação e Arte da Universidade Mackenzie, entre 1973 e 1974; na Faculdade de Artes Plásticas da FAAP, entre 1976 e 1979; Professor Titular na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, entre 1976 e 1986 e Professor Auxiliar  na Escola de Comunicações e Artes da USP, entre 1979 e 1981. Realiza inúmeras exposições e, em 1992, participa da Documenta de Kassel, Alemanha.


Meireles , Cildo

Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 1948


Iniciou seus estudos de arte em Brasília. Em 1967, freqüentou por dois meses a Escola Nacional de Belas-Artes do Rio de Janeiro. Em 1969, foi um dos fundadores da Unidade Experimental do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM RJ), onde lecionou até o ano seguinte. Entre 1970 e 1974, criou cenários e figurinos para teatro e cinema e, em 1975, foi um dos diretores da revista de arte Malasartes. Realizou várias exposições individuais; entre elas destacam-se as retrospectivas no Instituto Valenciano de Arte Moderna (IVAM) Espanha, em 1995, e no New Museum of Contemporary Art, Nova York, em 1999. Participou de diversas mostras no Brasil e no exterior: Bienal de Veneza (1976), Bienal de Paris (1977), Bienal Internacional de São Paulo (1981, 1989 e 1998) e Documenta de Kassel (2002). Seu trabalho se caracteriza pela diversidade de técnicas e suportes empregados em pintura, desenho, escultura, ambiente, happening, instalação, performance, fotografia e projetos, conjugando-os em múltiplas linguagens que discorrem sobre as questões sociais e políticas. Vive e trabalha no Rio de Janeiro.


Kusuno, Tomoshige

Yubari, Japão, 1935


Tomoshige Kusuno nasceu no Japão, tendo cursado a Universidade de Arte em seu país de origem, onde também integrou um grupo de artistas de vanguarda, de filiação dadaísta, no final da década de 1950. Nesse período, trabalha com ilustração, produção de cenários e ensino de desenho. Em 1960, mudou-se para o Brasil, passando a residir numa comunidade rural no município de Mirandópolis, no interior do estado de São Paulo, onde iria ministrar aulas de desenho até 1962. Pouco tempo depois, transfere-se para a capital. Em 1972, torna-se professor de desenho na Fundação Armando Álvares Penteado e da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, instituição na qual permaneceria até 1975. Ao longo da década de 1960, Tomoshige iria aderir aos princípios da Nova Figuração, passando a fazer uso também de técnicas de colagem e grafite sobre tela, além de adotar uma iconografia de cunho urbano, ligada ao cotidiano, aos meios de comunicação de massas e à violência. Tomoshige atuaria como desenhista, pintor e gravador ao longo das décadas seguintes, retomando e mesclando procedimentos por ele já utilizados, o que resulta num trabalho com uma forte marca pessoal e de difícil classificação.