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EDITORIAL

A revista Número chega a sua 5ª edição e completa um ano de atividade trazendo um conjunto de textos sobre políticas para as artes visuais.

No início, o projeto da revista era criar um espaço para o exercício da crítica de arte, uma vez que os grandes veículos de comunicação quase não a praticam. Com o passar do tempo, observamos que o exercício da crítica de arte hoje não pode mais se restringir à análise de exposições e obras. Tarefa que, ainda que central, se vê em meio a uma crise de legitimidade. Quando a própria arte contemporânea parece não mais encontrar respaldo na sociedade, que não raro a vê como hermética ou simplesmente sem sentido, a crítica tem que se reestruturar.

Como mandou a situação, decidimos fazer aquilo que em outros tempos poderia ser chamado de análise de conjuntura. Sabíamos que, sem um olhar mais amplo e ambicioso com relação ao próprio modo de inserção social das artes, não iríamos muito longe em nossas especulações. Decidimos, pois, nos aproximar do mundo da política exercendo um papel investigativo, mais próximo ao repórter do que ao crítico tal como habitualmente se vê esta figura. Sem pretendermos esgotar o tema, apresentamos uma edição mais plural, em que várias pessoas foram ouvidas e participaram como fontes de informação ou parceiras na elaboração das matérias.

Abre a revista uma reflexão de Guy Amado, discerrando sobre as [im]possibilidades do exercício da crítica de arte hoje, por seus pretendentes em início de carreira. Trocando em miúdos, Guy fala de sua própria experiência, compartilhada, senão por todos, ao menos por boa parte do corpo editorial da Número. Da falta de locais e oportunidades de “atrito crítico”, diagnosticada no primeiro texto, passamos para uma análise mais ampla das possibilidades de se desenvolver um trabalho independente em artes visuais no Brasil, seja na condição de articulador, teórico e pesquisador, seja como artista. Em seu texto, Daniela Labra examina quais são as reais oportunidades de atuação e financiamento para estas atividades. À Taisa Helena P. Palhares coube refletir sobre a atuação do Ministério da Cultura. Seu texto, motivado em grande parte por declarações recentes do Ministro da Cultura Gilberto Gil, tem um tom crítico. Crítica esta que esperamos que seja vista como construtiva, uma vez que, como o texto deixa claro, não há divergências de base.

O diagnóstico não estaria completo se não comentássemos o projeto de Unificação dos Museus, carro chefe do governo federal em relação às artes visuais. Em caráter comparativo, pedimos para mexicana Ana Elena Mallet um panorama da situação das políticas públicas para as artes visuais no México. Convidamos também Fernanda Pitta a publicar sua entrevista com o teórico e crítico francês Nicolas Bourriaud, que participou recentemente de debates do Fórum Cultural Mundial. Bourriaud é atualmente diretor do Palais de Tokyo, um dos mais bem sucedidos espaços independentes para artes visuais da atualidade. Ana Gonçalves Magalhães escreve sobre a exposição Picasso na Oca, numa perspectiva histórica que traz elementos esquecidos no tempo para o presente. Em parceria com o Canal Contemporâneo, buscamos ouvir os artistas e pesquisadores no que diz respeito a sugestões e idéias para melhorar suas condições de trabalho. Após a divulgação da enquete da Número no site, organizamos as respostas num texto que pode ser o início de uma mobilização mais ampla. Falando em mobilização via Internet, Juliana Monachesi deixa o corpo editorial da revista, mas continua colaborando conosco em entrevista com Patrícia Canetti sobre as conquistas obtidas via Internet pelo ainda pouco articulado meio de arte.

Não deixando de lado o compromisso de nos colocarmos como mais um espaço para atuação de artistas, a revista apresenta três intervenções. Cada uma de um artista: Alexandre Vogler, João Paulo Leite e Wallace Masuko.

O êxito da Cinco será mensurável pelas reações que ela seja capaz de gerar. Em outras palavras, este número não se esgota na publicação e leitura do público. Como toda proposta (vemos a presente edição como fundamentalmente propositiva) almeja sair do papel.