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Resenha: Jorge Romero Brest, "Punto de vista crítico" In: Ver y Entimar: cuadernos de crítica artística, 1953

por Paola Lopes Zamariola

Resenha por: Paola Lopes Zamariola

 

A partir da exposição do Grupo de Artistas Modernos de la Argentina realizada na galeria Krayd em 1953, o crítico argentino Jorge Romero Brest escreve Punto de vista crítico, texto no qual se posiciona a respeito da arte concreta e as demais tendências da arte argentina. Para isso se detém em três eixos argumentativos: o primeiro referente à presença da questão do espírito na arte concreta; o segundo conectando os ideais das práticas concretistas com os da arquitetura; e o terceiro no qual revisa os principais movimentos das artes plásticas na Argentina.

 

Arte concreta e sua relação com o espírito

Brest inicia Punto de vista crítico declarando apoio às iniciativas dos artistas que militam pela tendência de vanguarda denominada como arte concreta. Em primeiro lugar por serem jovens, o que significaria que estes artistas teriam o ardor necessário para não se conformarem com o repertório de formas já existentes e herdadas, e assim poderem se lançar à invenção de outras formas. E em segundo lugar, por apresentarem um alto nível de qualidade em produções que sobrepõem o exercício da intuição sensível às suas proposições formais.

O autor atenta para o fato de que tais qualidades também poderiam ser atribuídas a artistas com comprometimentos ligados a campos opostos a estes. O que, então, os artistas concretos apresentariam de específico? A oposição figurativo versus não-figurativo contribuiria para tal debate? O termo figurativo não seria excessivamente vago, uma vez que toda a produção das artes plásticas, até mesmo a realizada através do uso de figuras geométricas, não seria também figurativa?

Para Brest, o que importaria seria a maneira como o artista se apoia em um objeto de existência visível para dar a conhecer, mediante uma imagem autoral, sua peculiar concepção da vida. Relacionado à tendência da presença do espírito nas obras concretas, um dos aspectos apresentados pelo autor seria o fato destes artistas evidenciarem que não são as coisas que produzem emoção devido a sua materialidade, mas que a mensagem espiritual destes artistas é transmitida através de suas materialidades.

Se por um lado os concretistas apresentariam uma ênfase relacionada à subjetividade, por outro também apresentariam uma ênfase na objetividade ao inventarem formas artísticas que buscam expressar esses conteúdos subjetivos. Ao valerem-se das relações entre os signos, o traço do artista perderia sua nota de vibração pessoal e a geometria se converteria em uma nova objetividade. A arte concreta, buscaria, desta maneira, deslocar uma sensibilidade necessariamente resultante de um impulso primário da alma do artista – a que se exerce por meio da mão que maneja um pincel – por uma sensibilidade necessariamente precisa.

 

As relações entre a arte concreta e a arquitetura

Para Brest os gestos realizados pelos artistas concretos, como o de transformarem o quadro em um conjunto de linhas e pontos, geraram consequências para a pintura e a escultura moderna, e acabaram por deslocar o campo das artes plásticas em direção à arquitetura. Segundo o autor, a pintura e a escultura, ligadas ao sentimento individual, nãos seriam linguagens próprias para a impersonalidade que o espírito moderno parecia exigir.

Por isso, os objetos produzidos pela arte concreta encontrariam paralelos com a arquitetura, uma vez que estes experimentariam justamente a criação de formas puras. O autor enfatiza a necessidade de criar formas que expressem mais adequadamente o sentir da vida em sua instância de atualidade, e considera que as formas concretas, mesmo que muitas vezes excessivamente elementares e pobres de conteúdos anímicos, permitirão que outras práticas deem continuidade a esta tendência.

 

A arte concreta e as tendências das artes plásticas na Argentina

A partir de uma retrospectiva da arte argentina, Brest percorre quatro tendências para guiar a sua análise. Na primeira apresenta os naturalistas, românticos, expressionistas e fauves como pintores e escultores que seguiram caminhos já trilhados e que se limitaram a impor certos acentos de personalidade nas formas herdadas. Brest não os julga interessantes porque através destas produções o crítico não se comove profundamente, e nem percebe a presença de um homem que compreende a vida, que a conforma em consequência e que impõe essa forma como paradigma emotivo.

Na sequência aborda os neorrealistas, e analisa que a posição que estes tomam é justa ao se basearem na realidade para construirem suas formas plásticas. Mas apresenta uma dissidência com relação ao que estes artistas compreenderiam como realidade, justamente o que viria a se converter nos piores vícios do naturalismo e do realismo. Além disto destaca o fato destes não estabelecerem efeitos de emoção profunda em suas obras.

Em seguida, apresenta os trabalhos dos abstratos e semi-abstratos através da percepção de que embora algumas vezes estes artistas obtiveram formas enérgicas, em  outras foram incapazes de condensarem com clareza o que queriam dizer. Brest sublinha nestas obras a ausência de uma emotividade profunda, uma vez que não apresentam a vida que vivem ou que gostariam de viver, mas a que recordam.

Por fim, com relação aos concretos, Brest detecta mais valentia em artistas que se lançam em direção à criação de novas formas, através de produções de profundo sentido metafísico, que sensivelmente vão deixando de ser pictóricas ou escultóricas ao inventarem outras formas possíveis. E acrescenta que arte concreta deveria ser uma arte de compreensão universal ou estaria fadada a morrer.

 

Referência Bibliográfica

BREST, Romero. “Punto de vista crítico” In: Ver y Entimar: cuadernos de crítica artística n. 33-34. Buenos Aires, 1953, p. 52-73.