Você está aqui: Página Inicial / Eventos / Encontros / Encontros Paulista de Museus / VI Encontro Paulista de Museus / Relatos Críticos / Painel 2 : Museus Municipais e novas narrativas

Painel 2 : Museus Municipais e novas narrativas

Por Laly Martín Sánchez – Relato do painel Museus Municipais e novas narrativas – A mesa esteve composta pelo Rafael J. Barbi, coordenador do museu da cidade de Salto/Sp. e Júlio Abe Wakahara representando o museu Anhanguera de Santana do Parnaíba/SP e como mediadora Heloísa Barbuy.

Relato por Laly Martín Sánchez

 

Já na apresentação dos palestrantes convidados se nós apresenta a Julio Abe como um dos profissionais chave na museologia brasileira, com uma extensíssima trajetória, tanto na docência como na conceptualização e coordenação de museus, conselheiro em diferentes museus e instituições culturais, incluindo o conselho de administração do Museu da Casa Brasileira na cidade de São Paulo e do Instituto Histórico Geográfico do estado de São Paulo. Profissional pelo que, nas palavras da mediadora Heloisa barbury  “Todos nós que estamos na museologia em algum momento tivemos um aprendizado junto ao Julio Abe”.

A mediadora quis fazer também um apontamento sobre ligação dos três componentes da mesa com o museu do Salto: em primeiro lugar Júlio Abe como responsável da criação e implantação do museu projeto para o qual convidou Heloisa Barbury, e que na atualidade está sendo conduzido pelo historiador, Rafael Barbi que se senta nesta mesa como representante desse museu, mas que poderia estar representado por qualquer de eles três.

A primeira fala, seguindo a programação correspondeu a Rafael Barbi que depois de agradecer o convite, com um descontraído “pois bem, vamos lá” começou a nós apresentar o museu que ele representa nessa mesa, breve passagem pelo histórico do museu de 23 anos de idade, que se baseia na sentença, Salto, cidade do trabalho. Um dos itens mais interessante tocados na fala do Rafael foi a implementação do conceito museu percurso no qual a cidade de Salto, foi uma das pioneiras, e que extrapola o conceito tradicional de museu. Um museu estendido tanto geograficamente, ocupando e percorrendo a cidade toda, um museu ao ar livre, quanto na abrangência das comunidades que procura inserir e com as que tenta se aproximar e dialogar, nas palavras do palestrante “o museu visa estar em constante dialogo com a comunidade como um todo, através das atividades educativas entre outros projetos ”.

Rafael Barbi nos colocou através do caso particular que ele trouxe aqui, os problemas aos quais tem que se enfrentar qualquer pequeno museu municipal. Apresentou as problemáticas particulares com as que ele se deparou ao chegar ao museu, assim como, as soluções que ele junto com a sua equipe vêm tentando por em ação com bons resultados.

O ponto de partida do trabalho foi colocar em analise o já existente e recuperar velhas discussões gerais no campo da museologia, como o “porquê” e o “para quê” de um museu numa pequena localidade como Salto .

Depois de ficar ciente de que, qualquer museu municipal, não pode romper com a sua essência intrínseca, que é conter, mostrar e conservar um acervo e um patrimônio local, e valorizar o entorno em que se localiza, optou por dar continuidade a essa idéia, por mais tradicional que isso pareça na atualidade.

Partindo desse conceito tradicional de museu e agregar novas propostas. O museu de Salto conseguiu criar um novo discurso museistico e derivar em novos rumos que farão expandir esse acervo substancialmente, e atuar e se inserir até modificar a sociedade local.

Tudo isto tem sido possível, através da iniciativa do Rafael Barbi, na sua chegada ao museu em 2012, de entrar com um projeto para o edital/premio de modernização dos museus ou micropojetos do IBRAM, edição 2012, no qual ficaram classificados e conseguiram 20mil reais com os que puderam ser desenvolvidas as melhoras que hoje já são realidade: a reelaborarão de toda a exposição permanente ou de larga duração, sanar questões que não tinham sido resolvidas desde o inicio da criação do museu por dificuldades administrativas, e a ampliação de colaboradores e profissionais que atuam no projeto museistico  .

Assim como a renovação e ampliação dos painéis informativos que conformam o museu percurso, e o mais importante em relação a estes, a inserção no contexto onde estão localizados. Um outro problema que até agora não tinha sido resolvido era a inclusão da comunidade afro descendente receosa desde o inicio em participar das propostas do museu, mas que agora se orgulha de pertencer a este, e como é lógico, a criação de um projeto educativo essencial para qualquer museu que pretenda uma continuação e reconhecimento por parte da sociedade na que se insere.

Um outro problema interessantíssimo colocado na mesa, já fora das questões financeiras, trata-se de um dos pontos chaves da proposta atual do museu e do próprio Rafael Barbi: mudar a idéia de que um museu histórico como esse, é um lugar estagnado dono da verdade, no qual o publico não pode questionar as informações que desde ele vem dadas, assim como que trata-se de uma instituição cristalizada na qual apenas os autorizados podem participar

A proposta museistica pessoal do atual coordenador, visa o conceito contrario ao mencionado; que a cidade passe a questionar e criar junto com o museu essa historia sobre o município, até agora contada apenas por uns poucos, e baseada em uns poucos, e seja o próprio museu criador e gerador de esses espaços de discussão colaborativos e intergeneracionais.

Rafael Barbi, mestre em Historia, chega a brincar com a ideia, de que cada município tem o seu memorialista particular ou historiador autodidata, que formam parte da criação dessa falsa ideia de que a historia não pode ser questionada, ampliada e/ou modificada.

Para finalizar o palestrante falou dos novos rumos a tomar no museu municipal de Salto, sublinhando o respeito ao trabalho já existente, más melhorando e ampliando o conceito base do museu como museu percurso, para isso tens sido previstos novos núcleos que irão o já bem sendo implantados como: o Museu da memória operaria, “trata-se de um dos nosso projetos mais ambiciosos” coloca o palestrante, o Museu da Estação Ferroviária, um projeto do trem republicano em parceria com o museu de Itú.

Também assinala atividades inclusivas em que todos os núcleos museisticos ou patrimoniais da cidade participaram e que se concretizaram em ações educativas como “a noite no museu”, colocando o museu voltado para a cidade inteira , fazendo sentir que realmente está ao serviço da comunidade.

O educativo do museu de Salto, não se limita apenas a convidar as escolas que queiram visitar o museu, com o projeto “museu itinerante” tem-se chegado a todos os bairros, centrais ou periféricos, ouvimos falar também de diferentes oficinas oferecidas nos espaços do museu, algumas com temáticas incomuns como: a função do historiador e do museu na comunidade, que foram ministradas em período noturno para dar a oportunidade aos trabalhadores interessados participarem.

Com todas essas ações e projetos aqui referidos, só nos pode deixar uma certeza. Do profundo conhecimento da historia e da comunidade local somado a um firme compromisso, envolvimento e entusiasmo da sua equipe, levara ao museu a se transformar no museu ideal, que os cidadãos vejam como próprio e sintam-se livres de participar “que se sintam parte importante da historia local” o museu sonhado pelo atual coordenador e palestrante, Rafael Barbi.

A segunda fala corresponde a exposição de Júlio Abe Wakahara que já desde o inicio avisa ao publico que ele trabalha de uma forma singular e pouco acadêmica, um método de trabalho interdisciplinar mesmo antes de que o termo estivesse em uso.

O projeto de Santana de Parnaíba nasce da pesquisa da observação e da leitura territorial que um arquiteto com a experiência de Julio Abe sabe muito bem fazer.

Um museu que recolhe a historia da cidade, a historia das origens do município, de como esta surgiu, e da sua importância dentro da historia do Brasil. Construido do zero, um acervo de limites cronológicos muito claros, que datam exclusivamente de 1500 até 1750, o ano em que ficou definido, quase em sua totalidade, o território que hoje entendemos como o Brasil, o tempo em que a cidade de Santana de Parnaíba viveu a sua época mais significativa.

Numa fala, também pouco ortodoxa Júlio Abe Wakahara vai-nos deixando entrever qual foi a sua função e a direção escolhida na criação de este museu, colocando-se no ponto de vista do turista que chega ao município, o que ele vai encontrar e os questionamento que esse visitante pode chegar a se fazer, com essa capacidade de adaptação ao qualquer meio que o mestre Abe possui,  levado ao campo específico da museologia com um acervo disperso até sua chegada .

A sua palestra foi um aula magistral sobre a historia e geografia do Brasil, da qual os ali presentes tivemos a sorte de ouvir, mas que não corresponde relatar neste texto.

Na suas pesquisas Júlio Abe gosta de contar com a cooperação de diferentes profissionais e especialistas que agregam valor e completam seu trabalho, arqueólogos, historiadores, etc. más também gosta de contar com conhecimento local dos moradores, incluindo os indígenas, que até agora foram considerados objeto de estudo e Julio Abe defende como fonte documental, pelo conhecimento territorial que trazem consigo, assim como fieis testemunhas da tradição, mesmo que esta apenas seja transmitida oralmente, e isso perca valor aos olhos do historiador ou arqueólogo. Para chegar a um projeto museistico de interesse tanto para o grande publico como para um público mais especializado.

O palestrante salienta a falta de acervo com a que se deparou na chegada ao município de Santana de Parnaíba, e como ele junto com a sua equipe de especialistas rastrearam o importante acervo cultural e histórico com que  o dotaram, baseado em verdades históricas e quebrando alguns dos falsos mitos em volta do local o que Júlio Abe chama de “Inverdades”

Define o trabalho feito para o museu que aqui representa “ a procura do significado das coisas naquilo que não existe” para conceber um museu municipal com um sólido acervo.

Na ausência de perguntas a medidora quis acrescentar algumas coisas, a primeira baseada na sua historia de vida e o quanto se sente satisfeita com a inclusão do coletivo afro descendente no museu de Salto e como foi gratificante formar parte do projeto inicial de Salto, vendo a boa saúde com a que se mantém até os dias de hoje, elogia também aos acadêmicos e especialistas da área de museologia, que conseguem entender que sua proposta pode não responder as expectativas do público local; Opinião com a qual concorda Rafael Barbi colocando que e em vez de ignorá-los os novos gestores como ele, saídos da academia, consideram extremamente necessário ouvir a comunidade e tratar isso como indispensável.

É interessante ver, como duas personalidades tão diferentes na sua formação e pertencentes a gerações de conceitos sobre gestão cultural distantes, participem de uma ideia comum como é: A importância de que uma pequena localidade precise ter um museu para seu total desenvolvimento, mesmo que as funções que eles projetam para os seus museus ideais sejam bem dispares.