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Museu do Ipiranga exibe acervo do dono do Banco Santos

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FOLHA DE S. PAULO

05 de março de 2006

FOLHA Cotidiano


Museu do Ipiranga exibe acervo do dono do Banco Santos

por AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL


         O Museu Paulista, localizado no Ipiranga (zona sul de São Paulo), começa a expor neste mês obras do acervo do banqueiro Edemar Cid Ferreira, do Banco Santos. O museu tem a guarda provisória de quase 7.000 peças da coleção, que continha cerca de 9.000 obras.

         Parte desse material integrará uma exposição sobre o cultivo do café, prevista para o fim do mês. Em seguida, entre abril e maio, o museu deve abrir uma exposição voltada para o acervo do banco. A idéia é, a partir daí, revezar as peças expostas, já que o local não conta com espaço suficiente para mostrar todas de uma vez.

         São cartas de d. Pedro 2º, mapas feitos a bico-de-pena, instrumentos de navegação, medalhas, gravuras e livros raros, como um cujas páginas, de madeira, são escritas a mão em alfabeto batak, do sudeste asiático, e outro, do Nepal, que tem o formato de uma sanfona e capas em metal.

          Um dos pontos mais fortes do material entregue ao museu, porém, é o acervo fotográfico, com quase 4.000 imagens, que traz personalidades como Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião (morto em 1938), a atriz Sarah Bernhardt (1844-1923) e o cientista Louis Pasteur (1822-1895) -esta foto foi tirada por volta de 1870 com uma técnica rara, que usa pigmentos de carvão sobre papel.

         A coleção também conta com exemplares das primeiras imagens fotográficas, feitas com o daguerreótipo -aparelho inventado em 1939 por Louis-Jacques Mandé Daguerre (1789-1851).
"Temos investido na aquisição de documentos assim de modo a ter uma coleção sistemática do processo fotográfico e de temas com os quais o museu já trabalha. O acervo, que tinha lacunas, agora conta com peças de todas as técnicas e processos da história da fotografia", diz Solange Ferraz de Lima, diretora da divisão de acervo e curadoria do museu.

Transferência

         Parte do acervo, porém, nem deve ser exposta no Museu Paulista. São 230 peças arqueológicas, como um sarcófago, que devem ser levadas para o MAE (Museu de Arqueologia e Etnologia), que, assim como o Museu Paulista e o MAC, também pertence à USP.
O MAE já havia recebido parte da coleção de Edemar. No fim de 2005, a Justiça distribuiu o acervo entre sete entidades.

         O Museu de Arte Sacra de São Paulo e o MAC (Museu de Arte Contemporânea), por exemplo, também receberam peças do acervo e colocaram em exposição algumas obras da partilha.

          No Museu Paulista, as peças ainda não haviam sido expostas devido ao processo de catalogação, trabalho que consumiu cerca de quatro meses. "Recebemos mais material do que os outros museus. Muitas peças, especialmente na parte textual, não estavam numeradas, e o catálogo que recebemos era muito resumido", declarou Miyoko Makino, diretora técnica da divisão de difusão cultural do Paulista.

          Algumas das peças mais valiosas, porém, foram retiradas do país pelo banqueiro, como a escultura "Woman", do artista britânico Henry Moore (1898-1986).

          Edemar é acusado de gestão fraudulenta, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. O banqueiro nega as acusações. Em 20 de setembro de 2005, o Banco Santos faliu, deixando um rombo de R$ 2,2 bilhões.