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''Gestão será agregadora''

ESTADO DE SÃO PAULO - Sexta-Feira, 29 de Maio de 2009

Entrevista - Heitor Martins: novo presidente da Fundação Bienal de SP; Martins quer poder público como parceiro e uma mostra em 2010 com diálogo entre a arte nacional e internacional

Filho de colecionadores de arte, nascido em Marília, e com uma coleção própria que vai de peças do barroco brasileiro à produção contemporânea (com obras de Volpi, Farnese de Andrade, Maria Martins, Tunga e Adriana Varejão, por exemplo), Heitor Martins não quer para si, como presidente da direção executiva da Fundação Bienal de São Paulo, apenas o papel de um captador de recursos. Como afirmou em entrevista ao Estado, ontem, na qual detalhou seu projeto para a instituição, o objetivo maior da edição da Bienal da qual ele estará à frente será fazer uma mostra que promova o diálogo entre a produção estrangeira e a nacional a partir da arte brasileira e atrair o público para as artes plásticas. O tempo é pouco para a concretização de seu ambicioso projeto, de apenas 15 meses segundo seu cronograma. Sua posse deverá ocorrer dentro de 60 dias, mas Martins já pode seguir adiante seu projeto.



O sr., ainda candidato, já havia conversado com o Ministério da Cultura, com o governo do Estado e com a Secretaria Municipal de Cultura, fazendo um movimento de aproximação com o poder público. Como foram as conversas e quais as propostas que os órgãos ofereceram à instituição, com uma imagem marcada por tantos desgastes?

As conversas foram ótimas, tanto que a carta que o MinC me enviou de apoio à candidatura é um ato bastante concreto dentro de um plano simbólico, algo importante para a credibilidade de meu projeto. A motivação por trás desses contatos com o governo em suas diversas esferas, é que a Bienal de São Paulo, apesar de ser uma fundação privada, é de certa forma patrimônio cultural do País e, portanto, tem de ter vínculos com todos os segmentos da sociedade, com empresas, com artistas, com galeristas, críticos e com o governo. A nossa proposta é criar uma gestão da Bienal mais agregadora.

Mas existe movimento de colocar o poder público dentro do conselho da instituição?

O próprio estatuto da Bienal prevê algumas vagas do conselho para cada esfera pública, federal, estadual e municipal, desde que elas estejam contribuindo para a instituição. Gostaríamos que essas vagas fossem ocupadas, já fiz a solicitação aos governos para que passem a exercer esse papel. As respostas foram positivas.

Quando o sr. fala em contribuição à Bienal quer dizer financeira?

Não apenas na parte financeira, que é uma dimensão importante. A Prefeitura repassa anualmente verba para a Bienal de mais ou menos R$ 1,8 milhão, o governo federal tem contribuído por meio de emendas de bancada. O governo ainda pode contribuir na concepção do projeto para a Bienal, nas transparências das ações, no processo de execução das Bienais e acho que nisso o Itamaraty tem papel importante na interação com outros países. Existem mecanismos que gostaríamos de explorar.

Qual a dívida da Fundação Bienal de São Paulo, com qual o montante que o sr. tem trabalhado para conceber seu projeto de gestão?

A dívida real é a registrada no balanço fechado pelos auditores em maio, de R$ 2,891 milhões, mas outro balanço vai ser fechado agora em maio, e acho que não existe especulação quanto a isso. No equacionamento que estou trabalhando, de R$ 4 milhões, existe para lidar com parte da dívida e para reestruturação para fazer a instituição andar. O que gostaríamos de fazer, por exemplo, é uma reestruturação do site e para isso precisa de dinheiro.

E qual seria o orçamento da próxima mostra da Bienal de São Paulo em 2010? A 27.ª Bienal, em 2006, teve orçamento de R$ 18 milhões, já a 28.ª, no ano passado, de R$ 8 milhões...

Precisamos sanar ou equacionar a dívida, fazer uma reforma administrativa, ter certa reorganização e a partir daí entrar no projeto de confecção da Bienal propriamente dita. Geralmente, essas coisas vão acontecendo em paralelo, até mesmo pelo tempo exíguo. A gente tem trabalhado para a 29ª Bienal com número na ordem de R$ 20 milhões a R$ 25 milhões.

Será então uma Bienal de bastante fôlego.

A nossa aspiração é de que seja. E, eventualmente, conseguindo recursos extras, poder fazer coisas como fortalecer o programa educacional, pensar em desdobramentos da mostra, apresentar cortes e recortes dela em outros lugares.

É fácil fazer essa captação?

A gente acredita que é possível, mas na medida em que a sociedade abrace a Bienal. O investimento tem de ser por parte da sociedade como um todo. A Lei Rouanet é um elemento, não solução para todos os recursos. Temos conversas com o MinC para colocar também recursos. A geração de recursos da própria Bienal é pequena, cerca de 15% do que ela precisa. O projeto é abrir a 29ª Bienal em outubro de 2010.

A gratuidade da entrada dos visitantes faz parte do projeto?

O que faz parte do projeto são dois pilares. O primeiro é a aproximação da Bienal com o público. Queremos fazer uma Bienal que atraia o público, que o aproxime das artes plásticas. O outro é a questão de acesso. A forma como dar acesso se traduz é ainda coisa para se discutir. A gratuidade da entrada dos visitantes é um dos possíveis elementos para isso, mas existem outros também.

Uma das principais críticas que o meio artístico faz é quanto à preocupação de se fazer uma mostra pontual a cada dois anos e não se pensar um projeto sólido de longo prazo ou contínuo para a Fundação Bienal de São Paulo.

A primeira característica é que a Bienal não é um museu. A Bienal de São Paulo, por definição, tem por vocação a realização de mostras bienais. E isso tem seus benefícios porque a ideia de uma Bienal é a de que a cada dois anos você possa olhar o que está acontecendo na arte contemporânea e fazer uma síntese. Esse é um papel importante, marcado ao longo do tempo e que existe desde que a Bienal foi criada. Mas é possível fazer programas valiosos entre Bienais, como apresentar os recortes da mostra, o que dá visibilidade à instituição, explorar seu arquivo ou fazer um projeto educativo. Nosso plano inclui três etapas: equacionar a questão administrativa e financeira nos próximos três meses; fazer a 29ª Bienal em 2010, porque ela perderia o sentido se fosse adiada; e, terceiro, pensar o papel da Bienal entre mostras e conectar a mostra de São Paulo e o convênio com a Bienal de Veneza.

Como se dará a escolha do curador da 29.ª Bienal?

Teremos mais de um curador e queremos aqueles que nunca foram curadores da Bienal, porque queremos uma nova visão. A escolha será feita pela diretoria. Temos o desejo de que seja mais de um curador, certamente, um trio. Mas vai depender da proposta curatorial. Gostaríamos de ter um curador de fora para ter uma mirada diferente, alguém que tenha uma perspectiva da arte brasileira, ao mesmo tempo com uma visão abrangente da arte internacional. A ênfase será a arte contemporânea, mas poderemos fazer núcleos de artistas brasileiros de referencia como Lygia Clark e Farnese de Andrade e o mesmo com referencias internacionais nos últimos 30 a 40 anos.

E qual será a relação da instituição com a Bienal de Arquitetura?

A Bienal de Arquitetura não me diz respeito. Existe um convênio com o Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) e a fundação para a cessão do espaço. Mas a organização da mostra deveria ser do IAB. Entendo que a concessão do espaço da Bienal continua, mas acredito que o empréstimo da estrutura administrativa da Fundação Bienal e gestão no processo de Lei Rouanet não vão ser feitos.


Quem é:
Heitor Martins, 41 anos


É sócio-diretor da empresa internacional de consultoria McKinsey